LOADING...

Jundiaqui

5 de setembro de 2018

Alvorada

Por André Kondo

O sol quebra a casca da noite
No intento de aurora
O galo já não mais canta, ah! açoite!
As galinhas ciscam algum terreiro de outrora

Abro a janela na ânsia de viver alvorada
Mas a cortina de fumaça continua fechada
Pássaros metálicos rugem no ar
Cobras férreas pessoas a devorar

No décimo-quinto andar
Espicho a cabeça pra fora da gaiola
Mas não sinto vontade de cantar
A vastidão da metrópole me degola

No canto busco a viola
Mas ela se ausenta da cidade
As cordas pretéritas, a muda vitrola
E eu sem onde dedilhar saudade

Desço então para a minha lida
Preparar as letras agrárias, oh! vida!
Hipotecas, seguros, investimentos
Em boi, em cana, em cifrão – e os sentimentos?

De nem sei quantos cavalos o meu carro
Cruza avenidas empacadas, sem barro
Onde deixei a rédea do destino?
Por que deixei de ser menino?

Passo em frente aos escritórios de baias
E prossigo sem me prender a quaisquer raias
Tempo, o asfalto cedendo em poeira
Vento, já ouço o crepitar da fogueira

Eis me de volta à roça de meus pais
Que já não mais estão nestes arraiais
A enxada batendo em outros horizontes
Semeando apenas lembranças nos montes

Então, o que vim fazer neste lugar? Sob este luar?

Vim colher as saudades do olhar
Pra saciar a fome cega d’alma
E em ninho, deitar a palha calma
E sobre ela, nada a me chocar

Quebro a casca iluminada
Renasço… e cresço pra cantar como dantes
Ainda antes
Da última alvorada!

Poema vencedor do 14.º Prêmio Paulo Setúbal
Poema classificado em 2.º lugar no XVIII FestCampos de Poesia Falada

Prev Post

Tem palhaçada da boa rolando…

Next Post

Kekerê solta a folia para…

post-bars

Leave a Comment