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Jundiaqui

 Christiane Grigoletto vem colorir nosso dia
23 de maio de 2017

Christiane Grigoletto vem colorir nosso dia

Artista plástica chega ao JundiAqui em pinceladas vibrantes e das mais variadas cores…

Edu Cerioni

Entre a pintura de um lenço de seda e outro, Christiane Grigoletto abre seu ateliê ao JundiAqui. Tem café e bolo feito por sua mãe, dona Ilda – por sinal, delicioso -, uma das mulheres de sua vida. As outras são as três filhas: a advogada Gabi, 27 anos, Luiza, 14, e Sofia, 12. São fonte de inspiração e dão um colinho nos momentos mais difíceis.

Quem vê sua obra, especialmente na primeira fase, dá de cara com um trabalho vigoroso e talvez não imagine que, como toda mulher, Chris também chora, sente insegurança e precisa de muito carinho.

“O Inos Corradin escreveu há alguns anos que via uma incompatibilidade entre obra e artista. Sentia uma agressividade nas telas que não se confirmou ao me conhecer”, conta e ri, sobre esse primeiro contato com o artista ítalo-jundiaiense que a apadrinhou.

Foi decisivo para que ela desse a volta por cima quando se separou do marido e pensou em desistir da pintura.

Essa fase de força era no tempo em que se dedicava ao trabalho de massa acrílica sobre tela, época em que apostava nas texturas e fazia sulcos profundos para marcá-las.

Reconhece que levou para muitas obras um pouco das suas feridas. É certo que foi com essas peças que ganhou espaço no mercado de artes e foi descoberta por muitas galerias do Brasil, abrindo a casa de compradores.

“Às vezes via uma tristeza na obra e ainda assim ela vendia. Costumo dizer que a arte tem essa graça porque alguém sempre se identifica com a emoção plasmada na obra”.

A segunda fase trouxe as dobras, significativa com seu resultado sutil e marcante. Volta e meia, Chris retoma para esse caminho, tipo para matar a saudades.

Veio então o trabalho com encáustica, com cera de abelha. Trouxe à tona uma Christiane meio bruxa, como ela mesmo brinca. A técnica da avó de fazer sabão é a mesma usada para derreter a cera, depois ela faz uma emulsão no fogão com a mistura de pigmentos em pó até que vão surgindo as muitas camadas coloridas na tela, uma sobrepondo a outra e dando novas manchas. “Não há dois trabalhos iguais, isso é impossível”. lembra.

Hoje, Chris está adorando fazer lenços de seda que são pura obra de arte para quem quiser colocar na parede de casa ou usar no pescoço, o que muitas mulheres estão optando.  Também não há dois iguais.

Cada lenço se torna uma tela e ganha sentimento – fez pedagogia terapêutica, com o que vê o ser humano com mais profundidade, sente toda a emoção e consegue como poucos na cidade passar isso ao seu trabalho visual.

Ela usa uma tinta líquida e faz sua alquimia para registrar as emoções em formas e cores. Depois, eles recebem um acabamento que é feito a mão por uma bordadeira, caprichosa ao extremo. E até as sobras de seda têm sua função artística, ao revestirem garrafas de vidro e se tornarem belos vasinhos de flor.

Na antiga casa, generosa em tamanho nas proximidades do Bolão, Chris fica boa parte do tempo sozinha. Mas não vê espaço mais para a solidão. Tem a companhia do rádio tocando uma boa MPB e em parte do dia de sua assistente Sidnéia, seu braço direito. Sidnéia foi sua aluna no Sesi e a acompanha já há quase duas décadas – é a primeira a conhecer as novas criações.

Chris conta que sempre foi inquieta. E isso se vê em todos os cômodos da casa, com muitas telas das diferentes fases, outras tantas ainda em branco à espera de que solte a criatividade, sem contar os cavaletes, as mesas, uma infinidade de tubos e vidros de tinta e massas, algumas até em galões de lata, os pincéis, as espátulas… Os pincéis ela limpa nas paredes, revestidas de duratex – Val Junior se encantou com o resultado dessa brincadeira.

Ela lembra da artista Sônia Carletti e da mãe, que faz um trabalho social muito interessante no Centro Espírita Fraternidade, ao me responder ao elogio que fiz sobre o excelente resultado de seu trabalho. Foi dona Ilda quem viu a possibilidade de Christiane ser uma artista, pois a colocou para fazer aulas de pintura aos 7 anos de idade, com Sônia Carletti.

Aos 20 anos, ela se tornou assistente de Sônia e diz que essa alquimia toda vem dessa época. “A Sônia me ensinou tudo que sei sobre cor”. Hoje, Chris dá aulas para crianças às segundas-feiras, pela manhã e à tarde, uma forma de passar a técnica adiante.Quantas obras já produziu? Essa é uma pergunta sem resposta. “Nossa, não dá pra saber”. Só para o Sofitel Copacabana, ela lembra, foram produzidos 980 quadros há oito anos. Por falar em hotel, há 20 anos fez obras para o Center Park de Jundiaí, isso no início da carreira, assim como para o Graffiti Palace, ambos no centro. São 26 anos desde que se formou e nunca desviou dessa atividade profissional. Antes, chegou a ser modelo até.

O trabalho corporativo sofre em ano de crise, segundo a artista. Não teve nenhuma encomenda nos últimos meses. Mas se tem crise lá fora, o jeito foi se reinventar. E assim Chris apostou nos lenços de seda que estão fazendo o maior sucesso. “Já tive confecção e sei lidar com pano. Mas ainda assim fiz um curso de aperfeiçoamento antes de me lançar nessa nova empreitada. Já tinha feito desenvolvimento para moda no passado, mas tinha que buscar entender os novos produtos, um olhar novo para esse mercado”.

Ela tem obras em dezenas de galerias, mas é diferente o resultado em comparação com dez anos atrás. O que dá mais resultado agora é o instagram, onde apresenta uma novidade e os compradores fazem contato direto. Mecenas? Ah, esse ficaram no passado.

A namorada do paulistano Rogério Dósia é coordenadora de arte da Casa Cica e trabalha com a AMA – Academia de Música e Artes -, de Sandra Gebram. Teve o projeto social Germinando Arte, que chegou aos bairros da cidade na administração de Miguel Haddad.

Indagada sobre o mercado fazer diferença entre arte de homem e mulher, garantiu: “Na verdade, viver de arte é difícil. Quando se escolhe o caminho da arte como ofício, precisa ter coragem, muita perseverança e muita força de vontade. Homem e mulher têm que ter a convicção de nunca desistir e a certeza de que é preciso se reinventar toda vez que precisar”.

E foi além: “No passado não se ouvia falar em mulheres artistas, é claro que elas existiam mas pintavam em casa, não se mostravam. Os homens que se sobressaíam, o privilégio era só deles! Tudo isso mudou com a revolução Artística no Brasil, artistas de grande qualidade começam a ter oportunidades como os homens. Temos exemplos de duas mulheres brasileiras que se despontam vendendo obras de milhões, casos de Adriana Varejão e Beatriz Milhazes”.

Ela lembra ainda que, nos dias de hoje, uma artista não deixa de vender uma obra por ser mais cara ou mais barata que um homem. “O que diferencia o valor, é o caminho percorrido, é o tempo, são as conquistas e o reconhecimento nas artes”.

Sobre a questão da sensibilidade, se tem diferença entre eles e elas, Christiane Grigoletto acredita que “temos pintores maravilhosos homens e que são muito sensíveis. Mas é claro que vou dizer que nós somos criadoras natas. Criamos nossos filhos, criamos almoços, jantares (risos), somos mais choronas, enfim, somos mulheres”.

Fotos: Edu Cerioni

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