Aos 80 anos e agora de coração “novo”, artista retoma seu trabalho

Elvio Santiago é um pintor de quadros que escreve para as crianças e estava sumido nas últimas semanas. Mas nesta segunda-feira (11) reassumiu os pincéis e voltou a criar suas obras de efeito lírico que fala mais alto nas telas surrealistas desse artista radicado há décadas em Jundiaí.

Com coração “novo”, como brincou, o professor de gerações de jundiaienses vai aos poucos retomando a vida normal.

Já voltou a dirigir, a passear pelo shopping… Aos 80 anos, teve que fazer dois cateterismos e colocar dois stents – um pequeno tubinho que vai no interior de uma artéria para evitar uma possível obstrução total dos vasos sanguíneos que chegam ao coração. Ficou um mês de “molho”, sendo seis dias na UTI. Se diz aliviado e pronto para dar mais cor e vida ao mundo.

“Não dá pra ficar em casa olhando pro Teto e pra Tatá, né”, brinca, ganhando um olhar carinhoso da esposa. “O teto é branco, sem graça, não aguento. A Tatá briga com quem não faz nada”.

Elvio se diz tão bem que já agendou duas palestra na escola Joaquim Candelário de Freitas, no bairro Cidade Luíza, para esta quarta-feira (13). “Quero voltar a ver o sorriso no rosto da garotada”.O artista mora no Vianelo, onde montou o ateliê de pintura, com centenas de trabalhos, e criou personagens que dão vida a livros infantis.

Ele nasceu em Bragança Paulista, mas veio para Jundiaí e aqui fincou raízes – é de onde espalha sua criatividade para o mundo todo.

E foi de fora do Brasil que vieram os primeiros reconhecimentos do talento de Elvio para a pintura. Formado em Desenho e Plásticas, em Educação Artística e Pedagogia, soma mais de 300 exposições. Seus quadros percorreram Estados Unidos, Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália e Alemanha, assim como todo o Brasil.

Já consagrado, passou a escrever livros para a garotada, com personagens como a Galinha Azul e Quadrada.

Elvio Santiago foi e sempre será lembrado como um dos mais significativos da pintura contemporânea brasileira. Isso é fruto da facilidade que tem em expor seus sonhos nas telas e permitir que o receptor crie sua própria interpretação sobre aquilo que vê.

Para o artista, cada um pode entender o quadro da maneira que quiser, pois é essa a grandeza das artes. Aos 80 anos, ele som mais de 15 mil óleos sobre tela e pelo menos 50 mil gravuras.

Sobre outros pintores, ele diz que se identifica mais com Miró e que uma frase deste sempre o cativou. O espanhol dizia que “só serei um grande pintor quando pintar como as crianças”. E isso fica evidente nas pinturas e livros.

É com a literatura que descobriu já adulto outra forma de dar vida a seu mundo interior – por meio das palavras, com as quais tece histórias com a mesma habilidade com que usa as cores de sua paleta. Curioso e que só aos 62 anos é que publicou seu primeiro livro.

Elvio conta com 10 prêmios literários no Brasil. O seu conto “Goma dois” foi classificado entre os 20 melhores contos em língua portuguesa pela Radio France Internacional de Paris, em 2002. O livro “Filme sem Cortes”, no qual fala entre outras coisas de sua terra natal, inaugurou sua atividade literária. Um próximo livro? Por enquanto não, mas não se pode duvidar que Elvio é cheio de surpresas, como são os meninos.