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 Crônica da Cozinha – O quintal lá de casa
15 de setembro de 2017

Crônica da Cozinha – O quintal lá de casa

Por Manuel Alves Filho

Na minha infância, um chuchuzeiro era o senhor do quintal da casa dos meus pais. Sob a sombra da trepadeira, que ocupava quase todo o espaço disponível, eu jogava bola e brincava de carrinho.

Com a ajuda do Velho Neco, que fazia às vezes de grua, colhia os chuchus maiores e mais elevados. Mais tarde, eles seriam usados na salada ou no refogado que acompanharia o arroz com feijão e, como diziam os caipiras como meu pai, a mistura.

A salada de chuchu de Neco era uma delícia. Meu pai temperava o vegetal com cebola, sal, suco de limão galego, azeite e pimenta-do-reino. E incrementava o prato com alguns ovos caipiras cozidos. Comíamos tudo e ainda dávamos cabo do suco ácido que ficava no fundo da tigela. Hummmm. Não sei como tem gente com coragem de dizer que chuchu não tem gosto de nada. Como não? Tem sabor de infância, de terra, de cozinha farta.

Além do chuchu, também tinha serralha no quintal, que nascia por obra exclusiva da natureza junto ao muro. Esta espécie de erva daninha dá uma salada e tanto. Eu me divirto quando vejo algumas pessoas apresentando as PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) como novidade. Há 40 anos espécies do tipo já frequentavam o meu prato. Ah, como tem gente atrasada!

Atualmente, tanto o chuchu quanto a serralha andam ausentes da dieta de boa parte (maioria?) dos brasileiros. Uma pena. Penso que esses alimentos fazem muita falta, tanto do ponto de vista nutricional quanto sensorial e cultural. Assim como faz falta a sombra de um chuchuzeiro, que transforma as brincadeiras e os ensinamentos de um pai em atividades muitos mais lúdicas e prazerosas.

Manuel Alves Filho é jornalista e chef de cozinha

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