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Jundiaqui

 A difícil arte de viver sozinho… depois dos 60
24 de julho de 2018

A difícil arte de viver sozinho… depois dos 60

Thaty Marcondes escreve sobre o envelhecimento na cidade

Envelhecer é um treco complicadinho mesmo, principalmente quando se é sozinho. Como dizem por aí, realmente é a idade do Condor: dói tudo, além da lei da gravidade e da gravidez (no caso das mulheres) surtirem efeitos drásticos nessa época.

Nem o botox disfarça mais as olheiras: “Seu caso é de plástica” – diz a dermatologista. O otorrino garante: “Na sua idade, fumando o que a senhora fuma, há tantos anos, não vai conseguir parar nunca”, e sugere o uso de patches de nicotina, relógio pra controlar os intervalos entre os cigarros, ansiolíticos pra diminuir o estresse e mais uma porrada de remédios pra respirar melhor, dormir melhor, existir melhor, enfim, gastar mais do que me custam os bastões nicotinosos e cancerígenos…

Essa semana, me submeti a uma microcirurgia nas costas, num lugar simplesmente impossível de alcançar. Antes de sair do consultório, o conselho da médica: “Lave bem no banho, troque o curativo todos os dias, aplicando a pomada tal e cobrindo com curativo adesivo grande”. Certo, cara pálida da medicina, só queria saber onde vou treinar esse contorcionismo, pois moro sozinha… Como faço?

No primeiro dia, resolvo ir à farmácia. Tomei banho, coloquei uma roupa folgada, sem sutiã (pois a tira das costas pega exatamente em cima dos três pontinhos recentes). Fui a um lugar conhecido, onde sei que há uma farmacêutica que trabalha à tarde. Chego lá e a dita cuja tinha saído pra entregar uns documentos, mas não demorava. Quarenta minutos de espera e nada. O atendente resolve: “o motoboy fica no balcão e faço o curativo pra senhora’. E agora, José?!? Rapidamente, começo um improvisado teste de contorcionismo, levantando a parte de trás da enorme blusa e não deixando nada à vista na parte frontal… E não é que deu certo? Devia ter começado mais nova esse tipo de exercício mirabolante de braços, quem sabe teria sido uma ótima stripper (ninguém ia ver nada ou quase nada), assim talvez até conseguisse fazer o tal curativo sozinha.

Pensando bem: é uma atividade física… Ou não?!? Na dúvida, continuo meus curativos com o farmacêutico mesmo, praticando minhas peripécias contorcionistas. Aliás, ando até pensando em colocar um poste de pole dance no meio da sala, ou talvez no quarto agora vazio que era da minha mãe – se viva fosse, desmaiaria de choque com tal atitude, mas “mãezinha, é um exercício físico como qualquer outro, basta colocar grandes almofadas pra não passar do chão, quando cair!”… Sonho meu, agora é tarde: a idade, a falta de exercícios e o excesso de peso me impedem de tais travessuras.

Terminada essa etapa, antes de retirar os três pontinhos do lugar inalcançável das costas, vou a oculista: “hum… já há sinais de início de catarata na vista direita” – ela proclama. Lá vou eu pra mais uma visita à farmácia gastar uma média de duzentos reais – acho que deve ser tabelado esse gasto/farmácia por especialidade médica –, pois cada vez que vou a um especialista, saio com a receitinha e o custo é sempre nessa faixa. Como ainda falta o reumato, o vascular e o neuro… Valei-me, meu Jesus Cristinho, que nem o gongo, o tongo, a mandioca a quatro podem me salvar da falência e da falta de ajuda pra me tratar! Serei uma senhorinha comportada e pedirei emprestado um dos mágicos asseclas do Papai Noel, no próximo Natal – vai que cola!

Thaty Marcondes é escritora e poetisa

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