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Jundiaqui

12 de agosto de 2018

Esquisitices

Por Thaty Marcondes

Falando sério: todo mundo tem algo de esquisito, seja um hábito, uma mania, uma expressão, sei lá, qualquer coisa. Mas, vejam bem, quando as manias são estranhas demais, beiram à loucura, ou, até, já estão inseridas no quadro patológico do maluco.

O mais engraçado é que nunca achamos nossas maluquices esquisitas. Mas as dos outros! Ah, que esquisitice!

Conheci um cara que achava que toda a pessoa que tem os lábios superiores finos é falsa. De onde ele pode ter tirado isso? Só Deus sabe! Meu marido não dirige e nem entra em carro vermelho, pois os associa a todos os acidentes que já sofreu ou já presenciou na vida. Esqueci de perguntar se a moto com a qual ele sofreu um acidente onde quase perdeu a perna esquerda era vermelha! Meu filho tem hábitos como verdadeiros rituais, que ele acha que dão sorte quando o Corinthians joga. Meu pai não podia ir se benzer: achava que dava azar, pois após algumas benzidas ele foi assaltado ou sofreu algum tipo de acidente.

O tema é abundante e amplo. Algumas pessoas se confessam maníacas ao atravessar a rua: só pisam a nova calçada com o pé direito; outras confessam suas esquisitices como sendo alguém pode até passar pela encosta de uma montanha íngreme, contanto que não passe por baixo de uma escada.

Também tenho minhas esquisitices: derrubar café = notícia ruim; sonhar com dente = morte na família; e devo ter mais algumas das quais não me lembro agora ou apenas os outros, fora de mim, são capazes de notar.

A certa altura da vida, em um dos meus elevados cursos de (des)controle mental, aprendi que essas manias que chamamos de avisos ou premonições seriam signos-sinais. Belo nome pra esquisitices, não acham?

Já os estudiosos de paranormalidades tratam isso como doidice mesmo. E mais: aquelas pessoas que dizem ouvir ou ver tais sinais precógnitos, após tratadas, deixam de apresentar tais fenômenos adivinhatórios. As “entidades” que se manifestam dizendo tudo o que o consulente merece ou pretende ouvir, nada mais seriam do que máscaras, disfarces, pra pessoa que fala não ser responsabilizada por tais disparates ou “verdades cruas e nuas”. É como se, por exemplo, eu tivesse algo muito sério pra dizer a alguém, apontar algum defeito ou má conduta, e não tivesse coragem; então assumo outra entidade, e falo como se fosse outra pessoa, ou outro espírito, enfim: outro ser (ou não ser?!?).

A grande verdade, tanto de quem procura por métodos de adivinhação ou premonição, quanto de quem os profere, é que o ser humano sempre quer sentir o lado divino, a centelha, que, por certo, o habita, mas que se perdeu, escondeu-se em algum canto remoto da alma ou da mente, no decorrer dos tempos. A religião, o religare, configura-se um elo perdido, em nossa era.
Era… Uma vez… Um terceiro olho… Mas isso é outra história.

Thaty Marcondes é escritora e poetisa

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