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Jundiaqui

 Passeio de onça em condomínio alerta pela biodiversidade
25 de novembro de 2019

Passeio de onça em condomínio alerta pela biodiversidade

 

Por José Arnaldo de Oliveira

O vídeo do que parece uma dupla de onças registrado por câmeras de segurança na divisa de Jundiaí e Jarinu deveria nos colocar em alerta para a conservação da biodiversidade na bacia do rio Jundiaí-Mirim.

Parece fácil de concordar, mas o desafio é imenso e exige muita inteligência.

As onças ou felinos menores já registrados antes nessa região são um sinal de uma vida silvestre ainda rica, pois são animais de topo da cadeia alimentar. É possível cogitar que essa região, formada por zonas parcialmente rurais de Jundiaí, Jarinu e Itatiba na tríplice fronteira e complementada pela bacia do rio Capivari em direção a Louveira, seja quase tão rica em espécies quanto a Serra do Japi.

Mas são também áreas particulares, que depois de centenas de anos sofrem a pressão do mercado imobiliário (em grande parte vinda de São Paulo) pelo valor da terra e consequentes rezoneamentos. Esse é um dos desafios.

O outro é que mesmo sendo uma área de proteção ambiental não temos um monitoramento da biodiversidade – nem do número de espécies nativas, quanto mais da população de pássaros, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes, invertebrados ou ainda árvores e flores.

É claro que o problema surge porque Jundiaí, ao contrário de muitas cidades, ainda tem um grande patrimônio ambiental. A conservação da serra ao sul e dessas bacias ao norte permitiu injetar água limpa dos afluentes no curso principal do rio Jundiaí ao longo de sua despoluição – e o saneamento local virou referência. Essa região tem forte presença do turismo rural que aproveita isso ao lado de tradições como as adegas – e um programa municipal de pagamento de serviços ambientais (PSA) foi iniciado há poucos anos e aprofundado, embora ainda insuficiente na avaliação de nomes como Afonso Peche Filho.

O governo local, em sua recente edição da série “Jundiaí 2050” sobre a dinâmica climática, tangenciou o assunto. Um dos convidados, o vereador paulistano José Police Neto, citou o caso dos mananciais da capital para afirmar que a simples proibição não resolve – como demonstram as invasões e os loteamentos nas margens das represas, criando enormes problemas de mobilidade.

Ressaltou que é preciso repensar o carro e valorizar mais o pedestre, além de que o número de imóveis vazios na região central é maior do que o déficit de habitações.

Nesse ponto, concordo. Além da pressão por novos condomínios fechados (às vezes com casas na ordem de milhões), os loteamentos clandestinos são uma frente de desagregação ainda mais grave. Tanto nos improvisos de renda baixa como em casos onde apenas a área da churrasqueira custa tanto quanto uma boa casa ou apartamento na cidade.

Falei que o desafio é grande. Mas vale sempre lembrar que conseguimos chegar a 2019 com muitos motivos para acreditar – como ainda em parte do patrimônio histórico ou cultural. No ano que vem comemoramos o centenário de Vasco Venchiarutti, que em 1960 comentou em artigo ao jornal “O Jundiaiense” a desapropriação feita de uma área da Serra do Japi e recomendando o mesmo a todos os prefeitos que viessem depois dele. E há pouco tempo reencontrei Dalmo Gatti, que estava com Edu Calasans e Paulo Penteado na mesma banda A Kripta que em 1978 tocou no alto da serra em passeata de milhares de jovens pela proteção da natureza.

Não é isto contra aquilo, o interesse coletivo contra o particular, mas a busca do equilíbrio. Não gosto dos muros que selecionam a passagem de espécies, mas algo assim foi proposto pelo mercado com as “vilas rurais” na revisão recém-aprovada do Plano Diretor – inspiradas, acho, nos condomínios com áreas naturais comuns de Santa Catarina. Pelo lado do governo, tivemos o anúncio de desapropriação de 70 mil m² na região da Malota e um levantamento de gases-estufa em parceria com a Siemens. Pelo lado da sociedade, a adesão de novos voluntários na ONG Mata Ciliar. Pelo lado de artistas, uma exposição em desenvolvimento para o próximo ano.

Sempre defendi que três grandes raízes da cidade – a Serra do Japi, a Terra da Uva e a Jundiahy 400 Anos – guiem nossa visão de futuro como marcas da cidade (city branding). Mas não adianta nos preocuparmos com a devastação amazônica ou com a mudança do clima sem incluirmos a ameaça de extinção de 1 milhão de espécies da fauna e flora no mundo (IPBES). Pois isso pede refletirmos sobre como continuarmos inovando em nossa própria cidade e região.

Para fazermos isso, precisamos de uma forma mais científica e mais participativa para o monitoramento da nossa biodiversidade. E, ao mesmo tempo, buscar meios de equilíbrio entre o bem comum e a propriedade privada onde todos ganhem – inclusive as demais espécies vivas.

José Arnaldo de Oliveira é cientista social e jornalista
Fotos: Condomínio Campo Verde / Reprodução TV TEM / G1

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