Polêmica ajuda Semana da Diversidade Sexual a bater recorde
Abertura foi com cerca de 500 pessoas para ver “A Princesa e a Costureira”; prefeito leva vaias
Edu Cerioni
Nunca o Complexo Fepasa atraiu tanta gente à noite quanto nesta segunda-feira (18), na abertura da 4ª Semana da Diversidade Sexual de Jundiaí, que vai até domingo (24), com a Parada LGBT.
Cerca de 500 pessoas, jovens na maioria, compareceram para ver “A Princesa e a Costureira”, peça que gerou polêmica na cidade (relembre) por conta da tentativa de censura promovida por um grupo que se diz cristão. Havia um temor que nova liminar fosse concedida, como aconteceu na sexta (15) e impediu a apresentação de “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, no Sesc – entenda o caso.
Muitas crianças foram levadas por seus pais e mães. Curiosamente, esses tiveram que assinar autorização para que os filhos vissem uma peça que tem classificação livre para qualquer público – nem todos entenderam, mas assinaram.
Rose Gouvea, da ONG Aliados, definiu o motivo do sucesso: “Agradecemos aos fundamentalistas por toda a propaganda”.
Em festa marcada por um discurso duro da advogada Rose, por conta de manifestações de preconceito contra a população LGBT em Jundiaí nos últimos dias, o prefeito Luiz Fernando Machado foi vaiado, após se ouvir um grito de “Fora Luiz Fernando” vindo da plateia. No mais, sobraram palmas.
“Eu acredito em duas forças poderosas de conscientização social: a informação e a visibilidade”, falou Rose. “A palavra futuro, tão propagada em campanhas eleitorais, só terá razão de ser quando medidas efetivas de respeito à diversidade forem realizadas. Caso contrário, a cidade do futuro não passará de uma linda mas ilusória teoria”.
Ela não citou o nome de Luiz Fernando, mas sim os políticos e prosseguiu: “Preocupar-se primeiramente com seu eleitorado antes da dignidade de vidas humanas é algo que meu coração triste jamais entenderá… esse ódio, visto e sentido nos últimos dias, só serviu para nos deixar mais fortes e determinados”.
Com a presença da Guarda Municipal dentro do Complexo Fepasa, a noite transcorreu tranquilamente, para alívio dos organizadores. Kelly Galbieri, assessora de Políticas para a Diversidade Sexual de Jundiaí, disse que a intolerância a fez chorar nos últimos dias e que a emoção ali era diferente, lágrimas de alegria por ver a força da resistência.
A atriz Telma Dias contou que já fez apresentações para públicos maiores, mas assegurou: “Mas nunca foi tão especial. Vivemos dias de incertezas, de discriminação e ver esse espaço assim lotado é uma grande recompensa”. Ela fez a peça ao lado de Marina Esteves e Márcio Ribeiro.
A noite contou com apresentação de Karol della Lastra, dança coreográfica de Aliab Adib, show “Divas” e exposição.
E teve ainda espaço para uma mensagem de Chico Xavier na boca de Rose Gouvea:
“Ontem passado.
Amanhã futuro.
Hoje agora.
Ontem foi.
Amanhã será.
Hoje é.
Ontem experiência adquirida.
Amanhã lutas novas.
Hoje, porém, é a nossa hora de fazer e de construir”
Veja a programação:
No sexta (22), será realizada uma oficina de drag, das 19h às 22h, também no Complexo Fepasa, com apresentação de Karol della Lastra, com noções de maquiagem e figurino e desfile.
No sábado (23), a oficina “Lambe Lambe” do grupo Joanas se apresenta no calçadão da rua Barão de Jundiaí a partir das 9h com a proposta de discutir as questões LGBT.
No domingo (24) a 12ª Parada do Orgulho LGBT de Jundiaí e Região percorre as ruas do Centro. Na Praça Ruy Barbosa será a concentração, com a banda Clandestinas, às 12h. Saída da marcha às 14h30 e show de drags Rainbow às 18h.
