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Jundiaqui

26 de julho de 2017

A Cica e os Figos Ramy – Doces lembranças

Por Vivaldo José Breternitz

Muitos brasileiros ficaram inconformados quando a CICA, a nossa Companhia Industrial de Conservas Alimentícias, interrompeu a produção dos Figos Ramy em 1986.

O doce tinha virado paixão nacional.

Na sua elaboração, a fruta transformava-se em passas carnudas, embebidas numa calda tão grossa que parecia mel; a figueira é a primeira árvore frutífera citada na Bíblia, quando Adão e Eva perceberam estar nus e cobriram-se com as suas folhas.

O fato de as pessoas apreciarem os Figos Ramy, porém, não se devia a nenhuma motivação religiosa, apesar de doce ter um sabor divino…

Ele vinha em latas redondas, pesando 600 gramas. Na lata, a CICA acondicionava as frutas lado a lado, apertadas e úmidas. Eram escuras, porém brilhantes e tenras.

A produção se restringia aos meses de janeiro, fevereiro e março, que correspondem à safra do figo. Chegaram a ser produzidas 300 mil latas por ano.

Eram comidas puras, usando garfo e colher (para não desperdiçar a calda), ou com a mão, segurando os figos pelo cabinho. Harmonizavam-nas com creme de leite, requeijão cremoso, suspiro ou sorvete de creme.

Conforme disse o renomado jornalista J. A. Dias Lopes, na década de 1960 o pintor Di Cavalcanti, quando vinha a São Paulo e se hospedava no antigo hotel Ca’d’Oro da rua Basílio da Gama, servia os figos com fatias de laranja aos amigos e interessados nos seus quadros. “As laranjas quebram a doçura dos Figos Ramy e assim se consegue comer mais”, explicava.

Eu, pessoalmente, gostava de acompanhar os figos com vinho do Porto.

Os Figos Ramy começaram a ser produzidos em 1945 e deixaram o mercado um ano antes de a empresa ser vendida ao grupo Ferruzzi. “Era muito caro produzi-los”, explicou Salvador Messina Neto, o Turillo, último vice-presidente da antiga CICA. “Havia bastante descarte”.

Ele conta que os figos, do tipo roxo, procediam inicialmente de Jundiaí e depois também de Valinhos. Deviam estar maduros, porém firmes, ou seja, inchados. Muito delicados, machucavam-se facilmente, complicando o transporte e a preservação. “O custo era alto, o preço de uma lata ficava elevado e não valeu a pena continuar”, concluiu Messina.

A CICA registrou o nome comercial do doce com “y”. Ele foi inspirado no bairro de Vila Rami, onde existia uma fazenda onde o rami, uma fibra têxtil. havia sido cultivada. Na fazenda havia uma cerâmica, que depois se transformou na Cidamar, hoje Roca, e ali haviam muitas figueiras – ela pertencia à família Cardia.

Um dos seus empregados da fazenda, Carlo, colhia os figos, secava-os no forno da cerâmica, embalava-os em papel celofane e os vendia na cidade.

Um dos fundadores da CICA, o siciliano Comendador Antonino Messina, pai de Salvador Messina, encantou-se com o doce e decidiu industrializá-lo.

Mas, para produzi-lo em maior quantidade, precisou superar dificuldades técnicas. Para isso, contratou Carlo e um confeiteiro italiano chamado Magnani. O trio desenvolveu um método no qual as frutas cozinhavam até alcançar 50 brix (escala numérica para medir a quantidade de açúcar) e terminavam na estufa – é um processo muito longo, complexo e caro, como disse Messina.

No fim de sua trajetória, o Figo Ramy acabou sendo exportado para diversos países, inclusive para Dinamarca e Suécia.

Atualmente, encontramos nos supermercados vários produtos com o mesmo nome, mas nenhum é tão bom quanto o original – como se dizia, “quem experimentou, experimentou. Quem não experimentou não experimentará mais”…

A fábrica da CICA e suas imediações, nos anos 1960

Vivaldo José Breternitz, do blog Jundiahy Antiga

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7 thoughts on “A Cica e os Figos Ramy – Doces lembranças

Haroldo Passossays:

Uma delícia que não existe mais igual.

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Antonio Eduardo Messiassays:

Inesqueciveis…que saudade…acompangavamos com queijos

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Elvira Stippe Bastossays:

Comiamos com queijo catupiry de caixa

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Uma das nelhores lembranças de minha infância. Papai vendia em seu armazém e de vez em quando me dava uma lata, só pra mim! Era melhor que ganhar caixa de bombom! Chego a salivar, só em lembrar.

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Realmente maravilhoso!!!!!
É uma pena não existir mais…

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É inigualável em sabor, cor e textura! Deixou saudades….

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Rosa Cecilia Milani da Silvasays:

Por favor volta! Principalmente os outros tipos de doces em latas, como narnejada, figada, goiabada. E a geleia de laranja simplesmente maravilhosa.

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