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Jundiaqui

11 de setembro de 2018

Meus heróis estão esculhambados

Por Thaty Marcondes

Todos quebrados, meus heróis abandonados numa caixa velha de sapatos, como aqueles antigos bonequinhos de Comandos em Ação, com os quais meu filho adorava brincar, quando criança. Faltam braços, pernas, cabeças, armas, e até os elásticos – que seguravam as partes do todo – estes, irremediavelmente esgarçados, arrebentados, sem conserto. Sua vida útil chegou ao fim.

Aí como é triste despedir-se de ídolos! Depois de mortos, após a quebra, tornam-se fantasmas assustadores, insistindo em morar em nossas lembranças, não mais como melódicos ícones de atos de bravura, mas como fantoches que perderam a cor e a graça, num misto de figura medonha disforme e arrependimento pela fé que lhes devotamos um dia.

Essa política suja, emaranhada; esse monte de (des)informações desencontradas, alucinadas, esquizofrênicas acusações, atos de irresponsabilidade, jogando o país nas manchetes dos jornais do mundo como uma mostra de incompetência e um reinado de falcatruas e corrupção!

Quem é o maestro dessa ópera sinistra? Qual objetivo dessa jogada suja? Quem fabricou essa lama e quem ligou esse ventilador, espalhando tanta poeira difamatória em cima de alguns dos nomes mais respeitados da minha juventude? De que mata infame desentocaram o lobo mau?

Que ninguém venha me dizer que são todos corruptos! Pois todos se justificam, indagando “quem, nesse país, não é ladrão?”. Vendedores de tecidos furtam centímetros, padeiros enganam-se em gramas, açougueiros injetam água e corante nas carnes semiputrefatas, a Receita todo ano me leva o que daria pra algumas cestas básicas a famílias necessitadas me deixando endividada, pois não está no meu orçamento. Orçamento? Quem ganha pra fazer isso?

Honestidade 100%? Onde? Cadê? Talvez em baixo dos viadutos; talvez nos escombros de algum barraco; talvez em albergues; quem sabe em hospícios ou dormindo nas calçadas? A honestidade chacoalha nos ônibus e trens de subúrbio, anda a pé ou de bicicleta; come marmita fria; corta cana, caleja as mãos, tem os pés feridos; ingere o mato do vaso fazendo de conta que é salada; toca a campainha com a barriga gritando, pedindo socorro pra fome, remédio pros vermes, um saco plástico pro buraco no barraco.

Deus, que mundo é esse?

Por gentileza, alguém poderia me fornecer uma cola honesta, elásticos resistentes e habilidade manual e mental, pra que eu possa abrir a caixa e consertar meus heróis? Latas de tintas azul e branca, pra eu pintar o céu ensolarado com nuvenzinhas de algodão; mudas de árvores pra ressuscitar o verde no sertão; comida limpa ao invés de jogada no lixo, pra alimentar os excluídos famintos; gotículas do suor das garrafas de minerais águas importadas pra matar o desejo dos sedentos; papelão pra forrar o chão do sono dos abandonados; escola pras crianças poderem contar sua desolação; mensalinho pros pobres deixarem de ser miseráveis, …?

Estou pedindo demais? Senhores políticos, apenas dividam sua fatia, deixando pro povo as migalhas! Quem fizer isso se tornará um herói de fato. Assim, quem sabe, o povo poderá voltar a sonhar com a fartura de uma sopa de osso no domingo? Um banho e roupas limpas no final de semana na Igreja do santo padre caridoso, um caixão de “taubua” e um terreno no cemitério da periferia.

Nossa, como sonho alto!

Thaty Marcondes é poetisa e escritora

Foto: Edu Cerioni

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