O dia em que a Baronesa de Jundiahy libertou seus escravos
Por Vivaldo José Breternitz
O jornal “A Província de S. Paulo”, atual “O Estado de S. Paulo”, pregava a abolição da escravatura. É muito interessante notar que, em suas edições de 1887, havia inúmeras notícias acerca de pessoas que estavam libertando seus escravos, algumas vezes com a condição de que prestassem serviços durante mais algum tempo.
Essas pessoas provavelmente estavam percebendo que a escravidão, essa chaga social que envergonhava nosso país, estava deixando de se sustentar, apesar de que, em abril daquele ano, ainda existissem 1.366 escravos só aqui em nossa cidade. E olha que constantemente esse periódico trazia notas mostrando libertações feitas por pessoas daqui, algumas conhecidas até hoje. É o caso do Coronel Leme da Fonseca e da Baronesa de Jundiahy.
Segundo o jornal de 22 de julho de 1887 coronel e baronesa libertaram cerca de 100 de seus escravos – com o condição de que prestassem serviços até o final de 1890. A abolição total chegou antes, felizmente.
Já no dia 25 de agosto noticiava-se que o Barão de Japy e os comerciantes Monteiro de Barros & Irmão libertariam seus escravos na mesma condição – só o Barão possuía mais de 100 deles. Também exigindo serviços por mais três anos, o fazendeiro José Estanislao do Amaral prometia libertar seus 300 escravos.
São ecos de um passado não tão remoto, que nos fazem lembrar a obrigação de combatermos situações semelhantes, ainda presentes nos dias atuais, quase sempre envolvendo migrantes que deixaram sua terra em busca de condições de vida um pouco menos piores e que acabam vítimas dos modernos senhores de escravos, vivendo muitas vezes em condições piores do que as em que viviam os escravos até o final do século XIX.