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Jundiaqui

 O palco da vida e a freada de arrumação
1 de setembro de 2019

O palco da vida e a freada de arrumação

Por Wagner Ligabó

O tempo passa cada vez mais veloz e cada vez mais me assusto. Meus olhos estão inquietos, a mente devaneia intrépida e os cabelos clareiam minha cabeça com o inevitável branco. Mas branco não é paz? Necessito dela para ir adiante.

Lembro, quando bem jovem, da tristeza que dava quando acabava o Carnaval e a longínqua espera pelo próximo. Parecia eternidade!

E a Copa do Mundo então? A primeira que ouvi pelo rádio foi a de 1958 e lembro da alegria de meu pai a jogar papel picado lá do alto do nosso apartamento no Largo do Arouche, centrão de São Paulo, comemorando o Brasil campeão! Aí uma espera irritante para se vencer quatro anos a passos de tartaruga e chegar 1962, mundial no Chile, e nós campeões de novo! Valia a pena esperar tanto tempo!

A partir daí começou a acelerar devagar, embalou e já se passaram – num piscar de olhos – 16 campeonatos e juro: nem percebi! A conta assusta: eu com 6 anos em 1958 mais 15 campeonatos a cada 4 anos = 60 anos!!! Quase 67 anos por aqui! Gela a alma!

Naquele tempo de magia me encantava com Pelé e Garrincha, hoje vejo Neymar e Gabi Gol! Realmente, os tempos eram outros! A vida em sua intensidade era muito melhor, pode acreditar! Mais digna, mais exuberante, mais respeitosa, mais sincera, mais saudável, enfim, mais juvenil como éramos!

Concluo que a velocidade do passar do tempo é inversamente proporcional à idade. Um teorema fácil de se constatar! Quanto mais velho mais rápido a música toca!

E por falar em música e tempo é que recordo com carinho e saudade o último show de meu grupo musical NEP- Não Estamos de Plantão, no Teatro Polytheama em 14 abril de 2016, com a renda de bilheteria totalmente revertida para o Hospital São Vicente!

Uma noite de gala e foi em época conturbada esta grande ação solidária visando ajudar e chamar a atenção para as crônicas dificuldades do nosso velho e valente Vicentão! Foi uma noite linda, de luz e inspiração, com o teatro lotado e duas horas de espetáculo irrepreensível. Parece ter sido o mês passado, mas três anos e meio já se passaram!

Ontem, por acaso, encontrei o cartaz de divulgação da apresentação e o coloquei em destaque na minha sala de som. É a maneira atual de ver meus amigos-irmãos da banda, Conrado e CG, e nossos quase 30 anos de união e harmonia, e a doída lembrança dos queridos Dib e o Egídio, os apressados que já estão no céu.

Lembro nossa primeira apresentação na Chopperia Terraço, ali na 9 de Julho, em 1991! E fica a pergunta: por que não tocamos mais? É injusto conosco e não nos damos conta! Será que vale a pena a gente correr tanto, trabalhar tanto e se aporrinhar tanto nesta altura do campeonato?

Será preciso um sinal amargo e perder para a vida de goleada? Estou aqui a ponderar a velocidade das horas e me nego a pisar no freio e aproveitar, sabe-se lá, por quanto tempo mais?!

A responsabilidade tem um preço caro. Temos então que nos olhar com mais carinho e afeto e dar-nos a chance merecida de sermos mais felizes com tudo que conquistamos arduamente ao longo da nossa existência. É hora de vivermos mais para nós mesmos!

É o momento da freada de arrumação! A ordem é sair de cena sem que percebam, mas o show deve continuar!

Esperamos demais nos bastidores, quando a vida tem um papel para desempenhar no palco. A vida é curta e boa demais pra se perder tempo…

Bom setembro…

Wagner Ligabó é médico cardiologista, músico e vereador

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