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 Origem e cura da peste na mitologia finlandesa
7 de maio de 2020

Origem e cura da peste na mitologia finlandesa

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Ilmarinen, o ferreiro mágico, criador da metalurgia, cobiçava para si uma das formosas filhas de Louhi, a rainha feiticeira de Pohjola. Para obter o consentimento de Louhi, forjou para ela um objeto mágico, o sampo, que trazia prosperidade.

Väinämöinen, um velho bardo de Kalevala (o nome da Finlândia pré-histórica), também ele um mágico poderoso, roubou o sampo, que, na disputa com Louhi, foi quebrado em pedaços. Assim mesmo, Väinämöinen plantou os pedaços do sampo em Kalevala, que prosperou muito graças a isso.

Como vingança, Louhi mandou uma peste sobre o povo de Kalevala, mas o sábio Väinämöinen curou a peste com poções e unguentos.

Louhi então mandou um grande urso para devorar o gado de Kalevala, mas Väinämöinen matou o urso com uma lança forjada por Ilmarinen e, para celebrar essa vitória, instituiu em Kalevala uma festa anual de matança de ursos.

Tudo isso é parte do folclore preservado oralmente, de geração em geração, pelos camponeses da Finlândia. Os poemas folclóricos da Finlândia, que eram cantados pelos camponeses em ocasiões especiais, foram coletados, no século XIX, pelo médico Elias Lönnrot (1802-1884), especialmente na região da Carélia (fronteira com a Rússia). Lönnrot os editorou para obter uma narrativa coerente, e o resultado foi um longo poema épico intitulado “Kalevala”, que teve, para a cultura finlandesa, a mesma importância que teve “Os Lusíadas” para a cultura portuguesa, ou a “Divina Comédia” para a cultura italiana, ou as obras de Shakespeare para a cultura inglesa, ou seja, unificou em uma língua erudita, e registrada por escrito, os diversos dialetos populares (até então, as línguas eruditas utilizadas na literatura finlandesa eram o sueco e o russo, e latim em textos jurídicos).

Para os fãs de Frodo, Aragorn, Gandalf e companhia bela, fique registrado que o universo mítico de Tolkien é baseado em grande parte no “Kalevala”, assim como nas sagas nórdicas.

A festa de matança de ursos cuja origem é atribuída a Väinämöinen não existe mais. Segundo me disse a Raquel, filha do nosso grande jornalista Jayme Martins, hoje o urso é um animal preservado na Finlândia. Ela deve saber, porque mora lá. Mas acredito que existam criações controladas de urso de corte, porque Maria Helena e eu estivemos em um restaurante bem no centro de Helsinki, na Praça do Senado (do lado oposto à Catedral), que serve carne de urso. Dica da Carla, guia da Queensberry. Infelizmente não estou encontrando as fotos do restaurante e do cardápio, mas aí vai minha foto com a Maria Helena nos degraus da estátua do Czar Alexandre II, de frente para o tal restaurante. E para que ninguém pense que é lorota, trouxemos para o Brasil uma latinha de carne de urso ensopada, que compramos em supermercado.

Brincadeirinha para aliviar o tédio durante o isolamento do coronavírus: Em finlandês, o trema indica que aquela vogal é longa. E em finlandês todas as palavras são acentuadas na primeira sílaba, independentemente de quantas sílabas venham depois. Tentem pronunciar Väinämöinen corretamente. Vocês vão errar, com toda certeza (eu estou tentando já faz algum tempo e ainda não consegui), mas pode ser divertido o desafio de conciliar a tônica na primeira sílaba com as vogais longas na segunda e na terceira, e com a existência de uma quarta sílaba.

Fato e Fábula, escultura de Gunnar Finne (1886-1952), inaugurada em 1932 na Esplanada de Helsinki, cidade onde é quase inevitável uma gaivota pousada na cabeça dos monumentos.

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