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Jundiaqui

3 de julho de 2017

Passagem para algum lugar

Ganhamos um ticket para o trem da vida, mas nunca saberemos até onde ele vai. Por Cláudia Bergamasco

A vida é assim.
Você nasce, fica aqui por um tempo e se vai.
Todo mundo sabe, óbvio.
Mas, na hora H, você é pego de surpresa.
Não está preparado.
Estaremos?
Como? Quando?
Nunca. Acho.
Ainda bem.
Abreviaríamos muito da nossa vida se soubéssemos o momento da nossa partida.
Quem fica chora.
Quem fica sofre.
Quem fica, fica com as lembranças.
Quem fica espera.
Quando será a minha vez?
Vai doer?
Para onde vou?
Para onde vão aqueles que partem dessa vida?
Sei, não.
Melhor assim.
Melhor é saber que, certamente, deixaremos esse corpo um dia e que o melhor de tudo é viver cada segundo como se fosse o último.
É mais fácil falar, eu sei. Pregar palavras e frases feitas ditas por todos nós mundo afora.
É mais difícil aplicar.
A gente se apega aos momentos.
Aqueles que foram infinitamente bons. E fugazes.
Porque a felicidade é fugaz (será mesmo?)
Nos apegamos aos amores não correspondidos.
Nas vezes em que pessoas partiram nosso coração.
O coração.
Esse cara nos prega peças.
Bate, bate, bate, acelera, desacelera e puf! Para.
Muita gente vive com o coração batendo mas no seu lugar tem um pedra.
Não sente mais nada.
Valores mundanos, como o dinheiro, contam mais que o amor verdadeiro.
Essas pessoas também se vão.
Será que, pouco antes disso, elas suspeitarão o quão melhor poderiam ter vivido a vida?
Talvez. Quem saberá essas coisas?
O fato é que, por a vida ser curta demais, temos que fazer o impossível para viver na plenitude.
Tudo o mais, tudo mesmo, é bobagem, besteira, é coisa miúda, picuinha.
Na vida, o relógio nunca anda para trás.
O passado é o passado e o que você não fez, pode ser que não o faça mais.
A menos que você tenha coragem e bravura suficientes para ainda fazê-las – e valerem a pena.
Mas, quem sou eu para falar sobre a morte?
Tantos já escreveram tanto e tão melhor!
Sentimento.
É por isso que escrevo.
Eu estou na legião de pessoas que sabe que a morte é inevitável e sofre por isso.
Aqueles cujos corações se despedaçam, se destroçam diante da velha foice.
Confesso: não estou preparada.
Vejo a vida como um trem em alta velocidade em direção a sei lá onde.
Dentro dele, lá estou.
Lá estamos.
Vivendo.
Fazendo meu máximo.
Tentando largas e contínuas gargalhadas.
Tentando amar e ser amada.
Até chegar a minha hora de deixar o corpo que me reveste.
Quando será?
Sei, não.
Quero saber, não.
Só desejo que eu não sinta dor, que seja rápido.
E, que, se Deus quiser, eu esteja nos braços de quem me ama verdadeiramente.

PS: Este texto foi escrito no dia em que o melhor amigo do meu pai morreu. No último dia 2, ele partiu para o infinito. Foi cedo demais, rápido demais e deixou lembranças demais. Todas incríveis, assim como ele era. Adeus, amigo querido. Um dia a gente se encontra.

Cláudia Begamasco é escritora e jornalista

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