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Jundiaqui

 Procissão e missa de Páscoa eram assim…
28 de março de 2018

Procissão e missa de Páscoa eram assim…

Por Nelson Manzatto

Domingo de Páscoa era assim: acordar uma hora mais cedo que os outros domingos para participar da celebração da Páscoa da Ressurreição. Se normalmente acordávamos às seis e meia para missa das Crianças uma hora depois, no domingo de Páscoa cinco e meia era o horário de levantarmos, colocar o uniforme da Cruzada Eucarística Infantil, apanhar a caixa de papelão com a surpresa para a cerimônia e caminhar um quilômetro de casa até a igreja para a festividade, todos felizes com a celebração.

A primeira vez que levamos as caixas surpresa foi em 1961. Padre Hugo, durante a reunião geral, disse que queria algo diferente na celebração da Páscoa que ganhava, a partir daquele ano, uma “roupagem diferente”. É que padre Alberto, o vigário, decidiu fazer a procissão do Cristo Ressuscitado às seis e meia e terminar com a missa na praça ao lado da Dubar, no alto do bairro. Mas teria, neste ano, a procissão do encontro: depois da missa das seis e meia, na Igreja, as senhoras do Apostolado da Oração levariam o andor de Nossa Senhora das Graças e, na praça, haveria o encontro das duas procissões e imagens. “Seria de arrepiar”, dizia ele.

E começamos a preparar o “arrepio”: a ideia era levar, numa caixa de papelão, pombas que seriam soltas quando Padre Alberto gritasse “Viva Jesus Ressuscitado!”. Como ele sabia que era difícil cada uma das 50 crianças da Cruzada conseguir pombas, quem não a tivesse que levasse pétalas de rosas nas caixas para serem jogadas nos andores das imagens, justamente no mesmo instante em que as pombas levantassem voo.

As crianças já ficaram arrepiadas quando o padre divulgou a estratégia da ação. Mas deveria ser surpresa: se alguém perguntasse o que havia nas caixas, a resposta de todos deveria ser “pétalas de rosa”, mas só poderiam ser abertas para mostrar aos curiosos caixas com as mesmas.

E saiu a procissão! O velho foieiro, senhor Vicente Rossi, pai do futuro cardeal Agnelo Rossi ia à frente dos integrantes da Irmandade do Santíssimo segurando a cruz. Ao seu lado, duas velas acesas, com o dia começando a clarear. Os demais integrantes da Irmandade carregavam o andor nos ombros. Descemos até a rua Barão do Rio Branco, pegamos a Cavalcanti, viramos na José do Patrocínio, em seguida, a Vigário/Olavo Guimarães e subimos a Emile Pilon. Nesta rua, tentávamos evitar o cântico para não atrapalhar a missa, mas prestávamos atenção para saber em que parte estava. Depois pegávamos a Fernando Arens e subíamos a Tibiriçá, cansados de tanto caminhar.

Quando chegamos à praça, percebemos, subindo a rua Francisco Telles, a procissão de Nossa Senhora da Graças. Orientados por padre Alberto, as imagens se aproximaram e ficaram uma ao lado da outra e começou a missa. Nenhum de nós prestava atenção nela, apenas nas caixas…

Curiosos queriam saber o que havia ali, as pombas colaboravam, com um silêncio imenso. Buracos estratégicos nas caixas permitiam que elas pudessem respirar e pronto!

Padre Hugo aproximou-se de padre Alberto após a comunhão e, juntos, gritaram “Viva Jesus Ressuscitado!” e as caixas se abriram, pétalas voaram sobre os andores e as pombas se espalharam pelo céu. Um “óóóóóóó” de emoção tomou conta de todos.

Uma das pombas voou em direção ao andor do ressuscitado e sentou-se no ombro do Cristo. Um outro suspiro tomou conta de todos. A pomba branca não conseguia voar. “É o Espírito Santo” disse alguém.

Minha preocupação era saber onde estava a pomba que soltei e se tinha voltado para a casa do Zé Mota, meu vizinho. Terminada a festividade, a volta para casa foi cheia de comentários sobre o ocorrido, falando sobre o “arrepio” provocado. Até lágrimas vimos rolar, principalmente das senhoras do Apostolado.

Já em casa, vi a pomba no telhado da casa de Zé Mota. Prova que ela encontrara o caminho de volta.

Nelson Manzatto é jornalista e escritor

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