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Jundiaqui

 Um bairro que se reencontrou
29 de novembro de 2017

Um bairro que se reencontrou

José Arnaldo de Oliveira escreve sobre a Vila Rio Branco e vizinhança em noite de festa com sensação de pertencimento

José Arnaldo de Oliveira

Na noite de sábado (26), centenas de pessoas formaram um grande reencontro de amigos na Vila Rio Branco. O mais curioso é que esse evento, voluntário, tornou-se real por um fenômeno virtual que foi a criação de um grupo de internet dois meses antes, no qual 40 participantes passaram para mais de mil em menos de cinco horas, dobrando para mais de dois mil em menos de uma semana. Sua marca: uma chuva de fotos antigas, estimuladas como sempre pelo professor Maurício Ferreira.

Parece algo até comum, mas a intensidade afetiva é um diferencial. A característica é a proximidade real entre as pessoas, sendo o computador ou o celular apenas o meio que deve ser (como antes as cartas ou os telefones) e não o fim primordial que está se tornando. Um meio para permitir o olho no olho, a memória em comum, a sensação de pertencimento.

Antes de ser Vila Rio Branco, a região é a Barreira desde os tempos coloniais. Formou-se por ferroviários na virada dos séculos XIX e XX e apenas a partir da década de 1960 teve ocupadas as várzeas do Jundiaí com seus demais bairros e vilas. A maioria das pessoas que se encontrou no evento viveu ainda cercanias rurais e um certo sotaque caipira de quem vivia fora “da cidade”, como eram chamados os altos do Centro.

Em pleno século 21, é talvez o único dos bairros tradicionais que não foi invadido pelas torres altas que chegaram a desfigurar outros, apenas algumas de quatro andares. E ainda remanesce, fechadas as outras, uma última passagem de pedestres para sua área depois dos trilhos de trem.

Fazem parte de sua memória as fases do poderoso time de futebol do Rio Branco, as respeitadíssimas escolas Cecília Rolemberg e Sesi 355, as lendárias escolas de samba da Vila, as saborosas pizzas da Cantina do Jarbas, o esquecido Matadouro, os temidos campeões dos Torneios de Malha, o vai e vem de operários da Paulista, da Latorre ou da Fleischmann, as movimentadas comunidades como a Juba e sobretudo a variedade de moradores, muitos deles artistas ou esportivas.

Pessoalmente, devo citar que não é por falta de riquezas humanas que foi pioneira na cidade em contar com um jornal mensal de bairro, publicado entre 1986 e 1988 com o nome de “Jornal Rio Branco” com muita gente ajudando e liderado pelo Edu Cerioni e por mim. Uma iniciativa afetiva mas realmente jornalística, praticamente sem retorno comercial. Porém inesquecível. Muitos dos personagens da época ainda estavam lá – ao lado de outros, que eram crianças na época, e da ausência de outros tantos por motivos diversos. Para muitos em outra dimensão deve ter sido gratificante de ver. Para quem não está mais morando no bairro também foi uma dose de emoção.

Algo maior do que cada um podia ser sentido ali. Como se nossas tragédias individuais ou coletivas pudessem ser amenizadas pela sensação de que formamos algo maior que nós mesmos. E aquilo que parece nostalgia, como o direito de andar pelas ruas a qualquer hora, de poder viver em residências praticamente sem muros, de falar “bom dia” ou “obrigado” mesmo a desconhecidos ou a quem temos bronca, de uma cidade aberta a crianças ou a idosos, de um valor afetivo dos lugares que é mais do que um valor de mercado, enfim, a nostalgia não é apenas sobre o passado mas também sobre o futuro.

Nada disso foi dito dessa maneira, posso estar apenas divagando. Os motivos são difíceis de analisar porque é uma soma de visões particulares de cada um. A ideia do encontro, inicialmente em torno de escola, já havia surgido várias vezes antes – como com o Nê Ferragut.

Mas foi preciso um momento exato, uma equipe maravilhosa tomando a iniciativa, para acontecer pela primeira vez lembrando que nossos tempos chamados conectados muitas vezes estão desconectando as pessoas na correria do dia a dia, mas podem ser usados para isso.

Para terminar, vale registrar o espanto de ver ainda muita gente em dia com os passos marcados de canções das discotecas e das brincadeiras dançantes. Muito bem, pessoal. E também o elogio aos comerciantes do bairro que apoiaram o evento, como apoiavam o jornalzinho há trinta anos, com brindes. De resto, tudo voluntário e com o sentimento de comunidade que nossos tempos andam precisando.

Aqui, fotos minhas e também reproduções do Facebook, como o de Meiroca Batistella‎:

José Arnaldo de Oliveira é jornalista

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