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Jundiaqui

22 de dezembro de 2017

Uma historia de Natal

Por Wagner Ligabó

Acima de seus valores religiosos, o Natal é uma festa feita na medida para a alegria das crianças. A chegada do Papai Noel nos faz mergulhar em nostalgia, relembrar nosso tempo de infância. Como demorava chegar dezembro!

Quantas histórias de Natal, mas uma sempre pede ‘replay’ pelo ineditismo. Aconteceu em 1961. Estava na fazenda de minha avó em Porto Ferreira. A sede era linda. Entrava-se por um grande portal, estrada de pedra mineira que logo fazia uma curva fechada em aclive à direita até chegar à imponente casa lá no topo, ladeada de jardins, pomares e piscina, um luxo para a época.

Toda família – umas cinquenta pessoas – chegava bem antes do Natal e só ia embora após o Ano Novo. A ordem para as crianças era brincar, as mulheres cozinhavam e fofocavam sem parar e os homens bebiam, davam risada e jogavam caxeta. Era a máfia na acepção da palavra.

Na noite do Natal toda a molecada que acreditava em Papai Noel estava eufórica na enorme varanda aguardando sua chegada. Meu pai, um eterno brincalhão bolara um plano especial para a data. Combinou com o “seo” Romano, carpinteiro da fazenda – um senhor enorme – para se fantasiar e entregar os presentes. Com aquele tamanho, voz grossa de forte sotaque italiano, seria impossível alguém duvidar que Papai Noel não existisse. Ia ser sensacional!

O plano: com a desculpa que o trenó tinha encalhado, iria buscar o Papai Noel com a caminhonete do meu tio, uma Ford 56. Faria uma entrada triunfal pelo portal da sede com sua curva fechada à direita e muito barulho. Plano perfeito até o momento que meu pai e tios começaram a comemorar antes da hora. A criançada ansiosa e os coroas calibrados.

Chega o grande momento. Meu pai na direção, o tio Dito a seu lado com os rojões, a carroceria abarrotada de presentes e o seu Romano firme na boléia, esperando para bradar “Oh! Oh! Oh!”. Meu pai acelera pra valer, entra a toda pelo portal e na famosa curva lá se foi o seu Romano, atirado longe pela força centrifuga, indo parar no meio das jabuticabeiras.

A falta do bom velhinho só foi percebida quando meu pai parou em frente à varanda e gritou “Viva o Papai Noel!”, ao que as crianças perguntaram: “Tio Miro, cadê o Papai Noel?”. Espanto geral! Silêncio súbito, mas para delírio da criançada surge de repente da escuridão o Papai Noel. Todo alegre – tinha bebido também -, mas todo esfolado, esbaforido pela subida, a barba torta, sem o gorro e o pior: perdera os óculos em seu ‘voo’. Não conseguia ler, nem ver praticamente nada. Mas não importava: era o Papai Noel, em carne e osso, concretizando o sonho de Natal da família!

A última imagem que guardo daquela noite é de uma mesa de caxeta com sete jogando, sendo um deles o Papai Noel de óculos colado com durex, tomando vinho, fumando cigarro de palha e gritando alegre com seu vozeirão: “Bati! E com as dez!”

Wagner Ligabó é médico cardiologista e vereador

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