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Jundiaqui

 Chora na Rampa, Negão!
16 de maio de 2020

Chora na Rampa, Negão!

Por Vera Vaia

“Chora na rampa, negão
Chora na rampa
Chora que teus olhos se destampa”

Não sei a que rampa Adoniran Barbosa se referia quando compôs essa música, mas imediatamente me lembrei dela quando vi Jair Bolsonaro aparecer por duas vezes na rampa do Palácio do Planalto, no momento em que seus ministros estavam depondo à Polícia Federal.

Pareceu um gesto de desespero, de querer explicar o inexplicável, de querer justificar de antemão o que os ministros poderiam dizer, apesar dos ensaios ocorridos antes do depoimento.

Pelo jeito, os generais convocados decidiram que iriam apelar para a falta de memória (o que até seria uma desculpa plausível) a fim de tentar salvar o chefe de ser julgado pelo crime de interferência na Polícia Federal.

E para que o “Alzheimer” combinado parecesse real, o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, se esqueceu que tinha que se esquecer e se enrolou em algumas questões que poderiam prejudicar Bolsonaro. Pediu pra voltar atrás e, por duas vezes, usou o “não me lembro” no lugar das respostas anteriores.

Mas o vídeo tá lá pra não deixar dúvidas. O presidente foi claro que queria as mudanças no comando da Polícia Federal para proteger sua família e seus amigos. “Querem foder minha família”, disse.

Não vi o vídeo, mas imagino que depois dessa fala ele tenha ido mais adiante: – “Querem foder minha família só porque meus filhos estão envolvidos com as milícias? Só porque meu filho Flávio embolsava o dinheiro da Assembleia Legislativa do Rio usando o miliciano Queiroz como laranja? Só porque o 04 andou comendo a filha do Adriano da Nóbrega, envolvido na morte da Marielle? E daí? Só porque eu mesmo apareci em fotos com ele? Nem conhecia esse cara que morava no meu condomínio e que era sogro do meu filho, pô! Só porque acham que o Ramagem, o homem sorriso, que quero pôr na PF é um amigo? Ele apareceu de penetra num réveillon na casa do meu filho, e isso não prova que são amigos. Acham que ele é meu amigo só porque comi pão com leite condensado com ele? Qualé, porra? Vocês entenderam que isso é tudo picuinha de quem quer me derrubar?”

Como se não bastasse esse rebosteio todo, provavelmente Jair Bolsonaro vai ter de chorar na rampa de verdade se for obrigado a explicar onde enfiou o nosso dinheiro em gastos com o cartão corporativo.

O total da fatura destes três primeiros meses do ano foi de R$ 3,7 milhões, o dobro da média dos últimos cinco anos.

Ah, mas quase R$ 740 mil eu usei para resgatar os brasileiros que estavam na China, disse ele tentando justificar o abuso.

Corri pegar minha maquininha de calcular e fiz umas contas básicas pra conferir. Sete e sete são catorze com mais sete vinte e um, deiz veiz treis trinta, novis fora, deu uma caralhada de números antes da vírgula que um mortal comum não conseguiria gastar nem que passasse os dias fazendo compras na Quai D’Orsay de Paris!

Pelas minhas continhas de chegar ele gastou, em média, R$ 33 mil por dia.

Se o TCU acatar o pedido para investigação dessas contas, feito pelo senador Fabiano Contarato (parece que ele assumiu mesmo a função que seu sobrenome lhe atribuiu), o presidente vai ter de mostrar todas as notas de leite condensado que consumiu ao longo destes três meses.

E para maquiar a gravidade desses fatos, o presidente faz o quê? Desce a rampa e vai pro cercadinho mandar todo mundo tomar na cloroquina, ops, tomar cloroquina, logo depois de decretar que academias, salões de beleza e de barbeiros abram suas portas.

Eu não vou! Desculpe, Cecilia, minha dedicada cabeleireira, mas vou continuar cortando meus cabelos eu mesma, nem que eles fiquem parecidos com os do Boris Johnson.

Vera Vaia é jornalista

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