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Jundiaqui

11 de agosto de 2017

Choro entalado

Por Kelly Galbieri escreve sobre preconceito e a dificuldade de trans e travestis em conseguirem emprego

Há dias tenho sentido uma vontade de chorar, um choro entalado na garganta… insônia (coisa nunca antes vivida por mim). Comecei a me perguntar o que estava me trazendo esta sensação; uma vez que vivo hoje uma das melhores fases da minha vida: profissionalmente me sinto realizada, minha família e meus amigos são maravilhosos e me dão suporte emocional para tudo. E então descobri. Como é difícil conviver com tantas pessoas intolerantes, presenciar situações e cenas que imaginava existir apenas nos filmes e nos relatos exagerados dos outros.

Hoje vivo a realidade nua e crua de pessoas que são humilhadas, destratadas, agredidas, apenas por terem uma orientação sexual ou uma identidade de gênero diferentes da maioria.

Esta semana já acompanhei uma mãe que obrigou seu filho a sair de casa apenas porque o mesmo namora outro menino. Ora, alguém consegue me explicar que amor é esse? Eu só amo o meu filho se ele for aquilo que EU quero que ele seja? Se ele tiver vontade própria e lutar pelos seus direitos, pela sua liberdade, já não o amo mais? Agora ele me envergonha? É isso? Então sinto muito, não é amor. É egoísmo, é orgulho, é qualquer outra coisa, mas não chame de amor. Principalmente de amor de mãe.

Vivi também esta semana outra situação que me desgostou. Mulheres trans e travestis que estão em busca de emprego na iniciativa privada, que querem deixar a prostituição para ingressar no trabalho formal. Pois bem: algumas vagas apareceram. Palmas! Primeira vitória! Então algumas delas podiam preparar os seus currículos e se apresentar nas agências para as tais vagas. Para nossa surpresa e tristeza, no dia marcado elas não foram e nos explicaram o motivo: não sabiam preparar o currículo, não sabiam como se vestir e se apresentar para a entrevista. Perderam a oportunidade por falta de apoio, de aceitação, de olhar humano da sociedade como um todo. Não podemos aceitar isso.

É hora de arregaçarmos as mangas e abrirmos os olhos! Afinal, ninguém é superior a ninguém e todos merecem a mesma oportunidade!

Já estamos pensando em um curso preparatório para elas. É o primeiro passo. Mas temos que continuar caminhando….

Kelly Galbieri é advogada e assessora de Políticas para a Diversidade Sexual de Jundiaí

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