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Jundiaqui

 Crenças
15 de maio de 2019

Crenças

Como a sua fé, convicção no Divino, afeta as vicissitudes da vida, insinua Cláudia Bergamasco

Cláudia Bergamasco

Já frequentei a Umbanda, sou filha de Ogum e de Iemanjá, me disseram. Sou Cristã, mas me encontrei no Espiritismo, embora em nenhuma religião eu seja 100% abnegada, 100% convicta. Tenho lá minhas ressalvas, questionamentos que nenhuma delas respondem ou atendem. Nessa hora, uso meu livre arbítrio.

Gosto, respeito, creio, oro para São Jorge, um dos meus preferidos, São Francisco e Santo Antônio. Também tenho devoção a Santa Rita de Cássia, a das causas impossíveis e desesperadas. Nossa Senhora Aparecida, sempre. Jesus Cristo acima de tudo. Peço intercessão para todos mesmo sem necessidade – que me desculpem todos Eles se peco pelo excesso, me sinto impelida a isso. E agradeço sempre. Gratidão é tudo.

Não quero levantar polêmicas com esse assunto, embora já tenha jogado fagulhas em lenhas em brasas, que logo se transformarão em fogo ardente se eu não souber o limite e tomar o cuidado de escolher bem minhas palavras. Má interpretação é o que mais provoca desentendimentos de toda espécie.

Não creio em futurologia, não essas profetizadas por pessoas que se dizem aptas a isso ou aquilo no campo religioso. Bobagens sem fim. Acredito, sim, no ato em si e não no palavrório. Acredito na Justiça, no trabalho, no que é bom para você e para mim.

Nunca fui e nunca serei santa, óbvio. Pago meus pecados desde que nasci e pago por “delações” das quais sou alheia – honestamente, acho que já paguei tudo com juros e correções monetárias para esta e outras vidas. Mas tem sempre alguém achando que você merece sofrer mais, é credor de mais e mais maldades.

Minha vida tem tido revezes, como já escrevi antes neste espaço, e acredito que eles têm sido além da conta – o espiritismo (e também o cristianismo) diz que cada um carrega o peso exato do seu fardo. Bem, o meu talvez esteja superestimado, sei lá. Não acho justo, mas pago sem reclamar (muito). Não retruco aos meus opositores. Sempre me calo. Vez por outra explodo, boto a boca no trombone e escrevo umas verdades destemperadas com endereço certo. Lanço mão das armas de Jorge para estar comigo nesses instantes. Para minha proteção com toda minha devoção.

Isso feito, logo passa, às vezes esqueço, e continuo o meu caminho. Nunca revido, nunca fico arquitetando formas de fazer o mal assim ou assado a ninguém. Guardo a dor, a mágoa para mim. Chuto o balde, xingo, tenho vontade de morrer, mando tudo para o inferno, dou uns socos no chão de terra, fico melancólica, desesperançada, muito triste, meu coração seca como uma uva passa, choro. Choro muito. Fico em frangalhos. Rezo. Sozinha. Sempre. Ninguém pode me acusar de ter feito alguma coisa de ruim premeditadamente. Isso, o povo lá de cima sabe bem.

Daí vem a apatia e o recolhimento. Esse tempo de recolhimento dura conforme a gravidade da situação. Às vezes lido melhor com os revezes que me são impostos, outras eu me encolho e me isolo como uma ostra e lá fico por meses. É meu jeito, cada um tem o seu de tratar os problemas. Não espero que meu oponente me peça perdão ou bata na minha porta a fim de conversar e expor o que de fato está acontecendo. Isso nunca acontece, nunca aconteceu e, certamente, nunca acontecerá.

A dificuldade está em não contar a história, mas em convencer todos os demais a acreditarem nela. Com o passar dos anos, as pessoas tecem uma rede incrivelmente complexa de histórias. Nessa rede, histórias não só existem como acumulam enorme poder. E você se vê emaranhada sem saber como sair daquilo que pode te matar mesmo com a verdade na boca, mesmo sabendo que o que dizem é tudo mentira.

Então, quieta, eu sigo com minha vida, na concha como uma ostra, ou livre e leve como um passarinho. Alterno entre essas duas condições. Gostaria de ficar mais tempo como um passarinho, uma gaivota, uma maritaca que não para de “falar” e vive sempre em par ou em grupo. Pois, é. Segura essa onda, Cláudia. Você tem o espírito livre e agregador, mas não tanto quanto o das maritacas.

Pensando bem, maritacas vivem pouco e são um tanto frágeis, como são os pássaros de modo geral. Escolho ser forte, feliz e independente. Tomar a alegria como minha parceira, apesar das maldades que fazem comigo simplesmente porque eu existo.

Depois de escrever este texto, à noite, antes de dormir, abri ao léu o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Impressionante a página que veio e onde meus olhos pousaram:

“Mas a verdade é como o Sol: dissipa os mais densos nevoeiros.”

A frase não poderia ser mais adequada ao meu momento de vida – que, na realidade, já dura anos.

Que a verdade seja o nosso Norte ensolarado.

Que a verdade invada a alma dos nossos oponentes e suas mentes sejam aclaradas.

Que Oxalá nos guie e nos proteja.

Que Deus esteja sempre ao nosso lado.

Que nossos anjos de guarda, os lá de cima e os de carne e osso, sempre estejam presentes.

Que nós consigamos fazer das nossas vidas não um fardo, mas uma grande experiência com a mansidão e a risada das crianças.

Que assim seja. Amém. Salve!

Cláudia Bergamasco é jornalista e escritora

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