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Jundiaqui

 A inveja é uma merda
14 de novembro de 2018

A inveja é uma merda

Nem sempre há motivos claros, mas há motivações espúrias que o alvo desconhece, diz Cláudia Bergamasco

Cláudia Bergamasco

A inveja é uma merda. Mesmo. Essa frase clichê do dito popular encerra uma verdade impressionante. Muita gente, mas muita gente mesmo, trata você de um jeito e, por trás, fala mal, joga contra, passa rasteira, quer ver o circo pegar fogo com você dentro. Por quê? Nem sempre há um motivo claro, mas há motivações espúrias que o alvo desconhece.

O alvo, nesse caso, tem sido eu. Você, rapaz (ou garota), que me envia constantemente mensagens pela internet e celular tentando sabe-se lá o quê, é um idiota infeliz e invejoso completo. Já estou de saco cheio de você. Interferir no trabalho alheio pode virar ter o efeito contrário, sabia? Virar contra você mesmo.

Você age não conforme os resultados que quer, mas as dificuldades para obtê-los, sejam eles quais forem. Já disse um escritor de que gosto muito que “a inveja é um vírus que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes.” Segundo ele, “o ódio espuma, a preguiça se derrama, a gula engorda, a avareza acumula, a luxúria oferece, o orgulho brilha. Só a inveja esconde.” Não há como discordar dele.

Lembre-se de outra frase bem popular: “o verdadeiro amigo não é o que é solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso.” E a solidariedade na alegria é coisa muito rara – e que você desconhece. Porque só tem olhos para o seu próprio umbigo.

Nelson Rodrigues também tem uma frase ótima: “há coisas que o sujeito não confessa nem ao padre, nem ao psicanalista, nem ao médium depois de morto. Uma delas certamente é a inveja.” Esse cara é você, meu caro.

Dissimulado, acha que não sei quem você é. Engana-se. Sei muito bem. Faz as coisas sorrateiramente, na surdina. É calculista, cumulativo, caprichoso no seu desafeto. O que pretende com isso? Só Deus sabe. Só sei que sua inveja, essa velha dama que invade o ser humano em vários níveis, tem o poder de secar plantas, pimenteiras, espadas de São Jorge. Tu és indigno. Um simples olhar denuncia que compara o que eu conquistei com o que você tem. Que merda!

Eu esperava encontrar em você um aliado e não um inimigo. Vai, covarde, confesse o que sente, o que faz na surdina. As infâmias que não conta. Você destila veneno, olha enviesado, fala e faz maldades, disfarça, escamoteia e dá mordidas traiçoeiras. Pobre de você, caro. Pobre de quem procura a fama e o dinheiro para ser feliz, já disse Gilberto Gil numa de suas lindas composições.

O resultado das suas atitudes lhe deixa eufórico. Claro, eu me dei mal, então você abre aquele sorriso e joga confete em si mesmo. Sente-se aliviado, uma vil euforia. Canalha! A inveja detesta competição, não é mesmo?

Que os Santos lá de cima, o Deus e os Orixás que me acompanham me protejam de você e de todas as pessoas invejosas. E olha que eu já tive muitas provas de que a proteção que tenho é forte. Mais forte do que você, que pretende me derrubar. Oras, tudo voltarás para você mesmo, caríssimo, portador de más influências.

Eu sei que você não é de todo ruim. Só que tem esse demônio da inveja contigo, que não merece elogios por “boas intenções”. Você recebe o louvor alheio com reservas e com aquela gastura que lhe queima as entranhas.

Improvável que tenha razão com tais sentimentos. Já que eu, segundo você, sou um “zé mané”, uma garota “pueril” e que “vive num universo paralelo”. Será mesmo isso ou seriam os seus olhos e coração enfeitiçados pela dama da inveja?

Um elogio? Jamais. Um agrado? Jamais. Quem se sente superior e olha por cima, com o queixo lá no céu e os olhos de quem tem o rei na barriga nunca elogia nem faz agrados.

Coitado. Você é tão vazio e solitário, um alpinista social intolerante, ofensivo, grosseiro, cheio de suposta racionalidade. Um homem enfeitiçado pela vida que você mesmo traçou. Solta raios e relâmpagos na sua fúria contra mim, que não lhe fiz nada. Ou fiz? E o que teria eu feito contra você para ser objeto de tanta raiva e inveja, mesmo distante fisicamente? Para mim, no lugar do coração você tem pólipos malignos.

Para você, a inveja e o ódio são vícios.

Caetano Veloso compôs uma música cuja letra refere-se à interferência da imprensa na sua vida pessoal, mas ela serve direitinho para você. Um dia eu já publiquei a letra dessa música para uma mulher que me roubou um projeto descaradamente. Acho que agora cabe direitinho para você também. Dedico essa música a você, meu caro.

“Não enche” – Caetano Veloso

Me larga, não enche
Você não entende nada
E eu não vou te fazer entender
Me encara, de frente
É que você nunca quis ver
Não vai querer, nem vai ver
Meu lado, meu jeito
O que eu herdei de minha gente
Eu nunca posso perder
Me larga, não enche
Me deixa viver, me deixa viver
Me deixa viver, me deixa viver
Cuidado, oxente!
Está no meu querer
Poder fazer você desabar
Do salto, nem tente
Manter as coisas como estão
Porque não dá, não vai dár
Quadrada! Demente!
A melodia do meu samba
Põe você no lugar
Me larga, não enche
Me deixa cantar, me deixa cantar
Me deixa cantar, me deixa cantar
Eu vou
Clarificar a minha voz
Gritando
Nada mais de nós!
Mando meu bando anunciar
Vou me livrar de você
Harpia! Aranha!
Sabedoria de rapina
E de enredar, de enredar
Perua! Piranha!
Minha energia é que
Mantém você suspensa no ar
Pra rua! se manda!
Sai do meu sangue
Sanguessuga
Que só sabe sugar
Pirata! Malandra!
Me deixa gozar, me deixa gozar
Me deixa gozar, me deixa gozar
Vagaba! Vampira!
O velho esquema desmorona
Desta vez pra valer
Tarada! Mesquinha!
Pensa que é a dona
E eu lhe pergunto
Quem lhe deu tanto axé?
À toa! Vadia!
Começa uma outra história
Aqui na luz deste dia “D”
Na boa, na minha
Eu vou viver dez
Eu vou viver cem
Eu vou vou viver mil
Eu vou viver sem você
Eu vou viver sem você
Na luz desse dia “D”
Eu vou viver sem você.

Claudia Bergamasco é escritora

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