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Jundiaqui

 Lápis e papel
30 de maio de 2019

Lápis e papel

Instrumentos de escrita são a expressão de mim mesma, diz Cláudia Bergamasco

Cláudia Bergamasco

Lápis preto, lápis de cor, papel de diversos tipos, dos mais simples aos mais singulares. Essas coisas sempre me atraíram. Desde tenra idade. Antes de aprender as primeiras letras eu me deixava viajar com lápis, papel e uma imaginação precoce para as artes. Apesar do cobertor curto daquela fase da minha família, nunca me faltaram lápis e papel e eu, feliz, a fazer rabiscos do que acreditava ser lindo, incrível, ter vida própria, ainda que fossem só rabiscos.

Quando ganhei minha primeira caixa de canetinhas foi melhor do que chupar sorvete e comer chocolate juntos – coisas muito raras à época. Eram pequenas, duravam pouco e vinham em seis cores (as de 12 eram só para as crianças de famílias mais abastadas). Para mim, aqueles bastõezinhos de plástico branco decorados com florezinhas da cor da tinta da caneta eram o mundo todo.

Não sei se veio desse período minha predileção por instrumentos de escrita. Já faz bastante tempo, coleciono lápis preto – tenho tantos que perdi as contas. De todas as cores, com os grafites mais duros até os mais moles. Toda vez que vou a um museu que gosto muito, por exemplo, compro um (ou vários) lápis preto com o nome da casa gravado no corpo – que jamais será usado. Tenho um ciúme louco deles.

Também ainda criança comecei a mexer com canetas esferográficas. Demorou um pouco, mas descobri as porosas e as tinteiros. Ambas se tornaram uma paixão para toda a vida. Há alguns anos, meu pai me deu uma tinteiro Montblanc original, que guardo sem tinta para não secar e endurecer sem uso. Também tenho um conjunto de lapiseira e esferográfica da mesma marca. Mas, estranhamente, gosto mais da Lamy. Talvez por ser mais barata e, assim, não ter medo de perder ou danificar.

Tenho também uma predileção forte por canetas nanquim, que uso desde a adolescência, quando tinha ganas de ser “diretora de arte” de alguma agência de publicidade e propaganda. Eram de pena. Para usar, tinha que molhar no vidro de nanquim. Imagina a sujeira! Quando fiz o curso de Desing de Interiores comprei uma coleção de canetas nanquim. Acabou, joga fora, compra outra. Tudo limpo, sem pingos, sem problemas. Uso ainda hoje.

Quantas e que tipo de palavras podemos escrever com penas e grafites, com tintas pretas e coloridas em forma de canetas de pontas finas, finíssimas, médias, grossas? Quantos desenhos podemos criar? Quantas emoções podemos despertar para quem escrevemos/desenhamos? E em nós mesmos?

Que traços hoje eu faço com esses instrumentos? Para que servem senão ao meu próprio prazer?

Pipa empinada ao sol da tarde.

Casas desenhadas com esmero, decoradas com o coração.

Morros, árvores, lagos, nuvens, traços abstratos, geométricos.

Cores nebulosas, cores vibrantes, todas as cores misturadas com as mãos, com as tintas, com os grafites, com tudo isso junto.

Invisíveis para olhos não escolados. Imbatíveis para quem enxerga Arte.

Nada disso se sustenta. Só a expressão de mim mesma.

Feita de grafite, tinta e papel. Desenho e palavras escritas.

Cláudia Bergamasco é escritora e jornalista

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