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Jundiaqui

 Parole, parole
30 de maio de 2020

Parole, parole

Por Vera Vaia

“Um cara correto, trabalhador, dando sangue por aquilo em que acredita”. Palavras do senador Flávio Bolsonaro sobre Fabrício Queiroz, em 26/05/2020.

“Eu não sei o que as pessoas do meu gabinete fazem da porta pra fora”. Palavras do então deputado federal Flávio Bolsonaro, que nada sabia sobre Fabrício Queiroz, acusado e procurado por esquema de lavagem de dinheiro, em 25/10/2018.

Vamos tentar entender o que mudou nesse período de tempo.

Em 2018 a Policia Federal deflagrou a operação Furna da Onça e saiu atrás de suas presas na Assembleia Legislativa do Rio, onde deputados e servidores estariam envolvidos naquelas tramóias de sempre: corrupção, lavagem de dinheiro, essas coisas. E eis que uma das feras procuradas era o assessor de Flávio, Fabrício Queiroz por ter movimentado uma caralhada de dinheiro apontada pelo COAF, incompatível com seus rendimentos.

Sabendo de antemão da operação, o senador demitiu Queiroz. Ele era suspeito de ser o chefe do puteiro, digo operador do esquema de rachadinhas (só pra lembrar, rachadinha é o nome da malandragem praticada pelo político que obriga seus servidores a devolverem parte dos salários a ele).

Todos sabem dessa história, né? O cara foi despedido, sumiu e todo mundo passou a perguntar “quem matou Marielle?” Péra to misturando estação: “onde está Queiroz”? Mas ninguém da família presidencial sabia do seu paradeiro. Até o recém-eleito presidente meliante, digo, pai do meliante, disse que nem conhecia aquele fulano que estava sempre ao seu lado nas fotos.

Bom, pra encurtar a história, um belo dia Queiroz apareceu, deu uma entrevista e disse que ganhava os tubos com compra e venda de carros.

Ufa! Que alívio para os Bolsonaro! Tudo ficou devidamente esclarecido.

Só que a maré mansa se transformou num tsunami nesta semana, quando a PF do Rio colocou em ação a operação Placebo e atingiu em cheio o governador Wilson Witzel, realizando busca e apreensão na casa dele.

E ele se defendeu dizendo que o presidente estava usando a PF para persegui-lo e que quem deveria ir preso era Flávio Bolsonaro e que tem provas suficientes para prendê-lo.

Aí o senador subiu nas tamancas, incorporou o Adnet imitando seu pai, e desandou a falar bem do Queiroz.

Estranho! Para quem mal sabia da vida dele em 2018, um elogio agora dá um nó na minha cabeça.

E por falar nisso, tem mais uma coisa que não to entendendo.

O general Augusto Heleno, aquele que faz flexões com o presidente só pra mostrar que sua artrite é um grão de areia diante da magnitude do amo e senhor com histórico de atleta, está agora bem pianinho com o Centrão.

Logo ele que na convenção nacional do PSL, em 22/07/2018, subiu ao pódio pra cantar uma paródia do Bezerra da Silva: “se gritar pega Centrão (o original é ladrão), não fica um meu irmão”, só para mostrar seu “amor” a esse bloco?

Não é inacreditável? Em menos de dois anos do ocorrido ele está quase beijando na boca o deputado, ex-presidiário mensaludo, Roberto Jefferson, puxador do carro alegórico do Centrão, em troca de uns votinhos pro chefe se manter em pé, caso alguém tire da gaveta os pedidos de impeachment contra ele.

E para encerrar, aqui vão mais algumas palavras jogadas ao vento: “se meu filho estiver errado vai ter de pagar”, fala de Jair Bolsonaro sobre Flávio Bolsonaro em 23/01/2019.

“Ele vai ter de provar”, disse Bolsonaro, espumando, sobre acusações feitas pelo ex-aliado Paulo Marinho que trouxe a rachadinha do Flávio Bolsonaro à tona novamente, em 19/05/2020.

Tudo isso me fez lembrar de uma música cantada pela francesa Dalida tendo o buniton Alain Delon como pano de fundo: Parole, Parole! “Parole et encor des paroles que tu sèmes au vent” – Palavras, Palavras. Palavras, de novo palavras, que você semeia ao vento.

Vera Vaia é jornalista

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