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Jundiaqui

 Renovação
27 de dezembro de 2019

Renovação

Um ciclo, 2019, se encerra, e um novo, 2020, começa. Agradeça tudo o que passou, argumenta Cláudia Bergamasco

Cláudia Bergamasco

O ano foi difícil? Nenhuma novidade. Foi para muita gente. Há os afortunados, aqueles que passam pelos problemas (todos os têm sempre) sem muitas delongas e chorumelas; sabem lidar com situações-limite. Eu já estive nessa turma, mas, sem aviso prévio, “boiinnng!”, tudo aconteceu. Não foi nada de bom e em um segundo minha vida mudou para sempre.

O que fazer? Agradecer. A-gra-de-cer. Apenas isso.

Tiramos lições imensas das dificuldades, rasteiras, dos desmoronamentos internos. Ficamos devastados – o que inevitavelmente reflete no exterior, na sua cara, no seu humor, na sua saúde. Agradecer, sim, porque poderia ser muito pior. Você, como eu, não teria se livrado de um baita peso que carregava havia décadas não fossem as muitas pedras que apareceram no caminho. Daí, um dia, a máscara caiu, a verdade revelou-se e se esfregou na sua cara dizendo, hei, acorda! Acorda desse pesadelo que não te pertence!

Quando você está no olho do furacão não percebe um zilhão de coisas que estão te puxando para baixo cada dia um pouco mais. Sentimentos que você nutria e considerava bom por alguém em quem confiava, tinha respeito e consideração vão ralo abaixo. Porque trapaças e mentiras fedem como um corpo morto. Uma hora cai a ficha e você percebe que aquele chorume todo não é seu e você está sofrendo por algo ou alguém absolutamente inútil para sua vida, que não acrescenta, não soma. Só consome, suga, traga e você fica vazia, triste e doente.

Se um segundo basta para tudo que era bom mudar para péssimo, também basta um segundo para você virar a chave e pensar: espera aí, o que está acontecendo? A verdade liberta. Todos os fios que manipulavam aquela marionete na qual te transformaram são cortados para sempre e você aprende a andar com suas próprias pernas de novo. Tomar as suas próprias decisões, seguir o seu instinto perdido em algum ponto do seu caminho.

Por isso, quando este ciclo chamado 2019 terminar, agradeça por tudo o que passou porque você cresceu, aprendeu, descobriu quem é, o que estava mascarado. Vai doer? Lógico que vai. Por quanto tempo? Alguns vão dizer que depende de você. Eu digo que esta é a pergunta de um milhão de dólares. Nunca se sabe. Feridas, traumas e cicatrizes podem demorar a desaparecer ou nunca desaparecer, mas serem minimizados. Eles estão lá, mas um dia você vai esquecer deles, superar e conviver com todos tranquilamente.

Então, quando 2020 bater à sua porta, agradeça o ano ruim que foi embora e agradeça o ano novo que está nascendo, porque você vai aprender mais. Não é porque o calendário mudou que os problemas vão desaparecer como mágica. Pedras no sapato teremos sempre, de todos os tamanhos e formatos e vão nos machucar de várias maneiras: os “buracos” podem ser rasos, fundos ou muito fundos, podem apenas dar uma esfoladinha na pele, como arrancá-la, atravessar a carne até o osso aparecer. E de novo você aprenderá uma lição a mais.

Reinventar-se – Demorou muito, mas compreendi que viver é assim: medos (às vezes fúteis), alegrias, tristezas, amores mal amados e bem amados, um momento apenas. A vida é feita de pequeninos momentos que nos passam despercebidos e só depois que passam (às vezes se passa tempo demais) é que a gente se dá conta que viveu um cadinho assim bom, que nos fez sorrir, gargalhar como crianças. Ou chorar como quem perde algo ou alguém que ama muito.

Para não morrer, para não se perder, é preciso se reinventar todos os dias, ensina uma poetiza nossa. Apalpar quem somos lá no fundo e nunca nos perdermos de nós mesmos.

Aposente as máscaras, tire os disfarces, as fantasias, seja você olhando para você no espelho.

Reavalie-se, saia do superficial, afunde um pouco, mergulhe a cabeça nesse corpo que você habita e tente enxergar sua alma, seus disfarces, suas maldades, suas mentiras e também suas doçuras. Ninguém é só sal, só pimenta ou só açúcar e mel. Descubra o seu tempero. Descubra que gosto você tem, o que você pode dar para o outro: só sal e pimenta ou um ragu completo, uma festa de Babete de emoções e prazeres de toda espécie. Mas, você tem que sair um pouco do seu mundinho e se ver de cima sem julgamentos.

Respire. Nem tudo é bonito. Somos luz e sombra, às vezes escuridão que não clareia nem com reza braba. Você pode levar um susto ao examinar sua alma. Porém, se há esperança, qualquer resquício, então há um caminho. Uma sensatez (pode até ser insensata, desde que faça sentido para você), um sonho, um amor. Se desistimos de tudo apaga-se o último fio de claridade e nada valerá a pena.

A vida é uma experiência duríssima em qualquer idade, uma passagem que suas escolhas vão definir que paisagem você vai ver pela janela e por quanto tempo.

Pode ser um fardo, uma espécie de suplício de Sísifo, em que ele, todo dia, empurra montanha acima uma grande e pesadíssima pedra que volta a rolar encosta abaixo a fim de que ele (você) recomece a empurrar a pedra e assim por diante todos os dias. Ou pode ser que a pedra pare e não desembeste morro abaixo. Que se fixe no alto da montanha e você possa subir na pedra, sentar-se confortavelmente nela e contemplar uma belíssima paisagem.

Todos os dias (ou quase sempre, porque sempre haverá uma pedra deste ou daquele tamanho no nosso caminho, como disse antes). Acorde todo dia, olhe para o seu amor e diga: eu quero você comigo. Eu escolhi você para envelhecer, para viver a vida a dois. Ame sem medidas. E expresse seu amor sem medidas, por mais piegas, brega, babaca e idiota que possa ser para quem vê. Ou melhor, para quem não sente algo parecido. Dane-se. Viver é assim.

Que venha 2020. Estou pronta.

E você?

Foto: Nelson Chinalia

 

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