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 Um coquetel de superstições
2 de agosto de 2019

Um coquetel de superstições

Sexta-feira 13 de agosto? É o 4.8 que dá azar, avisa Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Calma pessoal, a próxima sexta-feira 13 de agosto será só em 2021.

As superstições de que sexta-feira é um dia de má-sorte e de que o número 13 dá azar já existiam em alguns lugares da Europa pelo menos desde a idade média, mas não andavam juntas. A fusão dessas duas superstições em uma terceira, de que sexta-feira 13 é o dia de azar por excelência, data do século XIX. Foi muito difundida nos Estados Unidos a partir de 1907, com a publicação de uma novela de consumo cujo título é “Sexta-feira 13”, e de lá chegou ao Brasil. Mais recentemente, foi espalhada para o mundo todo em uma série de filmes norte-americanos do estilo blood and gore (sangue e tripas).

No Brasil, onde já existia antes dos filmes trash, fundiu-se com a superstição paulista de que agosto é mês de má-sorte, é mês de cachorro louco. E assim chegamos à superstição da sexta-feira 13 de agosto.

Não se conhece a origem e nem explicação da ideia de que sexta-feira é dia de má-sorte. Quanto ao número 13, parece que tem origem no episódio bíblico da Última Ceia, à qual estiveram presentes treze pessoas: Jesus e o doze apóstolos. Em sua formulação original, ainda comum na Inglaterra até pelo menos o início do século XX, a ideia era que se treze pessoas sentam juntas à mesa da refeição, uma delas vai morrer em breve.

Em 1955, o romancista Maurice Druon, na novela histórica “O Rei de Ferro”, associou a sexta-feira 13 ao fato de que foi na sexta-feira 13 de outubro de 1307 que o rei francês Filipe IV aprisionou os cavaleiros templários, depois assassinados. Druon publicou mais três novelas em sequência, formando a tetralogia “Os reis malditos”, em que atribui a história trágica da Dinastia de Valois à maldição supostamente lançada por Jacques de Molay sobre o rei Filipe IV. A partir daí, a subliteratura de sabor ocultista associou essa ficção histórica de Druon ao folclore maçônico a respeito dos templários, criando uma salada de meias-verdades que vende bem.

Mais interessante para nós, de cultura luso-brasileira, é a adição do mês de agosto a esse coquetel de superstições. Muita gente conhece o poema “Liberdade”, de Fernando Pessoa, segundo o qual uma das coisas boas da vida é “esperar por Dom Sebastião, quer venha ou não”. Mas pouca gente conhece o que há de história por trás desses versos.

O rei português Dom Sebastião, ainda muito jovem e solteiro, meteu-se em uma aventura militar no Marrocos e desapareceu durante a batalha de Alcácer Quibir, travada no dia 4 de agosto de 1578. O corpo do rei nunca foi encontrado. Com isso, a Coroa de Portugal passou para o Cardeal Dom Henrique, último representante da Dinastia de Avis, já idoso e sem filhos, que morreu logo depois, em 1580. Quem herdou a Coroa foi o parente mais próximo, Filipe II de Habsburgo, Rei da Espanha. E assim, durante seis décadas, Portugal, e por tabela o Brasil, foram governados a partir de Madrid por Filipe II, Filipe III e Filipe IV (em Portugal, I, II e III).

Insatisfeitos com essa situação, muitos portugueses e brasileiros acreditavam que Dom Sebastião, cujo corpo nunca fora encontrado, estava vivo e voltaria algum dia para libertar Portugal e suas colônias do domínio castelhano. Não voltou, quem assumiu a Coroa portuguesa, depois da revolução de 1640, foi o Duque de Bragança, que se tornou Dom João IV.
Na Capitania de São Vicente, que deu origem ao atual Estado de São Paulo, os paulistas foram dos mais insatisfeitos com o domínio espanhol, que os ameaçava de perder as conquistas territoriais feitas pelos bandeirantes. O sebastianismo, crença na volta de Dom Sebastião, foi talvez mais intenso entre os paulistas do que em Portugal. Dai a superstição bem paulista de que o dia 4 de agosto (data da batalha de Alcácer Quibir, na qual desapareceu Dom Sebastião) é um dia de mau agouro.

O historiador Afonso de Taunay, no livro “Amador Bueno e outros ensaios” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1943), dedica as páginas 137 a 161 ao estudo da origem e da difusão dessa superstição entre nós, citando inclusive testemunhos de algumas desgraças atribuídas à má-sorte do dia 4 de agosto.

Então, leitor amigo, se você acredita nessas coisas, preste atenção no que eu estou dizendo: sexta-feira 13 é coisa de gringo, para nós paulistas o dia de azar é 4 de agosto. Se cuida.

Quanto a mim, não sou supersticioso, mas em matéria de política sou um sebastianista assumido. Gosto de esperar por Dom Sebastião, quer venha ou não nos salvar do descalabro em que está o nosso planeta girante.

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