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Jundiaqui

 “Fim de linha”
4 de dezembro de 2017

“Fim de linha”

Por Wagner Ligabó

Acabou-se o que era doce. Voltando para casa. Entretanto coloco-me pensativo após a permanência por um curto período aqui na região metropolitana do Recife. Mais precisamente no Hotel Sheraton em Costão do Santinho, vizinha de Jaboatão dos Guararapes, outra cidade anexa das 14 do entorno, como Várzea Paulista, Campo Limpo e outras estão para Jundiaí. O que me atormenta ao ir embora é ver a reprise de tantos contrastes sociais comuns a todo o Brasil repetir-se aqui. Coloco-me então à reflexão sincera e o resultado perturba.

Incomodou-me ver as belezas naturais do local, a suntuosidade do hotel construído para a Copa de 2014 e edifícios elegantes ao seu derredor, ver tantas obras dá competição inacabadas e na imensa periferia da grande Recife uma pobreza e desmantelo que salta aos olhos. Um simpático e humilde povo mestiço ao Deus dará. Vivem como podem do artesanato e outras criatividades da economia informal. Carteira assinada? Não. Recolhem impostos? Não.

Incomodou-me ver lá do alto do avião a Arena Pernambuco, um estádio abandonado no meio do nada, um baita elefante branco superfaturado da Copa, sem uso, e uma periferia gigante com habitações improvisavas que mal param em pé.

Incomodou-me ver palafitas, as favelas do mangue contrastando com a suntuosidade de um mega shopping center postos lado a lado.

Incomodou-me ver a fartura de alimentos desperdiçados no dia a dia do hotel e ver uma infinidade de mães e seus filhos nas ruas a pedir esmola para poder comer alguma coisa.

Incomodou-me ver este povo simples e suas enormes dificuldades não se abalar e ter capacidade de ser educado e repleto de simpatia. Alegria morena.

Toda cidade tem seus clãs familiares que dominam quase tudo. Aqui não é  diferente. Existem famílias tradicionais, coronéis do engenho, e uma família, os Brennand, que são donos de quase tudo, salta à vista. São arquibilionários. Não questiono o sucesso da riqueza de ninguém desde que seja lícita, mas incomodou-me o contraste com a imensa maioria desvalida.

Porém o que me incomodou muito foi constatar que o meu hotel, que foi construído em terra deles, que entre tantas são latifundiários urbanos, ter sido construído pela Odebrecht. A gente já pensa besteira. Sei lá…

Não consigo pensar diferente ante tudo o que vejo hoje em dia. O Brasil é um país desigual, a partilha da riqueza uma piada, a cidadania sem bússola,  e assim permanecerá, penso eu, por muitas e muitas gerações. Não vejo luz no fim do túnel. Desesperança? Total.

Ao deixar Recife, terra que Suassuna adotou como sua, apesar de paraibano, me toca relembrar duas frases do memorável poeta de quem sou fã incondicional: “Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte:o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.”

“Não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.”

Wagner Ligabó é médico cardiologista e vereador

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