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Jundiaqui

11 de agosto de 2017

Pedalando na cidade

Por José Arnaldo de Oliveira

Nossos pais pedalavam muito. Em tempos ainda recentes, as fábricas ou oficinas dos campos cerâmico, têxtil, metalúrgico, ferroviário, alimentício ou moveleiro mostravam enormes bicicletários. E um dos objetos de desejo das crianças não era um jogo eletrônico, mas o que se chama atualmente de “bike”.

A gente fazia rotas atravessando a serra ou as amplas estradas de terra da zona rural. Ou apenas inventava brincadeiras nas ruas e ladeiras da cidade.

Com o tempo, as distâncias ficam menores. O que mudou foi o número de veículos, que cresceu muito mais que a população em uma hegemonia que justifica a destruição de lugares para estacionar, para passar, para acelerar. Como os trens, as bicicletas ficaram em segundo plano.

A ideia de movimentos como o Pedala Jundiaí (existem diversos outros, variando do estímulo a passeios de lazer em grupo à orientação de novos ciclistas) é buscar cada vez mais ideias simples que permitam ao poder público criar mais segurança para o estímulo a esse meio sustentável e saudável de mobilidade.

No domingo, um grupo percorreu o trecho entre a Nove de Julho e a Estrada do Varjão para protestar com uma “ghost bike” no local onde um adolescente de 17 anos andava com sua bicicleta ao lado de amigos e foi atropelado por um carro na contramão, morrendo por causa disso. No caminho, que passou inclusive por dentro do núcleo Jardim Sorocabana porque não é um tema apenas de classe média, placas criadas sobre discos de vinil reciclados foram colocadas em postes dizendo que carros e bicicletas devem compartilhar as vias.

Temos uma rede enorme de ruas onde a velocidade máxima é de 30 km/h (ou também 40 km/h). Basta educação e respeito dos motoristas para serem seguras. Onde não der, existem calçadas que podem ser sinalizadas para o cuidado mútuo entre bikes e pedestres. E onde não der ainda assim, existe uma rede cicloviária de longo prazo prevista no Plano Diretor.

Muita gente acha que, por ser montanhosa, Jundiaí não oferece muitas condições para bicicletas. Das duas, uma: ou desconhecem o uso cotidiano dos ciclistas ou ignoram a história da cidade e aqueles enormes bicicletários de que já falamos. Mesmo vendo os exemplos de Sorocaba ou São Paulo, existem pessoas que se dizem técnicos no assunto que não conseguem pensar fora da caixa.

A solução é colocar cada vez mais os ciclistas, principalmente os anônimos que usam esse meio no dia a dia, para ajudarem a pensar as ciclorrotas. Já existem vereadores fazendo isso, mas ainda com os grupos mais organizados. Precisamos de um processo colaborativo e simples. O próprio Pedala mesmo sendo em número pequeno, conseguiu reunir parcerias no Ocupa Ponte Torta em torno de uma proposta clara como a valorização da arte autoral, da cultura e do patrimônio da cidade.

Uma outra iniciativa, a “vaquinha eletrônica” chamada Hackbike, reuniu com poucos doadores em média de R$ 35 o recurso para os paraciclos espalhados em diversos pontos da região central. Nem sempre é preciso enormes investimentos como são para os veículos, mas em algum momento é preciso uma ação mais ampla e coordenada.

Como dizia o grande Chico Science, um passinho à frente e você não está mais no mesmo lugar. Em respeito ao Daniel Souza e a todos aqueles ciclistas vitimados por carros, está na hora de avançarmos. Nem que seja pedalando um quarteirão de cada vez.

José Arnaldo de Oliveira é jornalista e cientista social

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