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Jundiaqui

 “Viver não dói”
23 de outubro de 2017

“Viver não dói”

Por Wagner Ligabó

Nesse feriadão que passou, embalado por friozinho aconchegante, convite à meditação, silêncio e recordações, resolvi tentar colocar ordem nas tantas bugigangas guardadas em minhas prateleiras e gavetas esquinadas em um cantinho particular lá de casa, onde cada objeto, por mais simples que seja, é revestido de recordações de um tempo que não volta mais.

Os desavisados racionais rotulariam friamente estes espaços de inúteis, ou seja, um velho escritório e suas coisas mofadas. Certamente jogariam tudo fora. Eles ignoram que as lembranças embrenhadas em cada objeto ali lhes dão vida: um LP de vinil, um cachimbo, um ingresso de teatro, antigos recortes de jornal, um crachá de congresso num lugar que nunca mais voltei, bilhetinhos de Dia dos Pais com as letrinhas tortas dos filhos, folhas de papel-almaço amareladas, enfim, fragmentos de um passado guardado com delicadeza, e deles só a sincera saudade.

Reviro meus pertences com cuidado tentando organizar o que parece impossível, uma entropia absoluta, mas a cada momento uma surpresa que me faz parar por segundos e olhar absorto em silêncio para o nada. Mexo e remexo em tudo, encontro coisas que sempre procurei, e agora, do nada, surgem como se brincassem de esconde-esconde.

Tempos que não voltam mais. Recordar é viver, mas, por vezes, remoer é sofrer. Tem-se que respeitar o equilíbrio, ater-se ao seu momento, entretanto a hora dos escritos é a mais crucial. Uma quantidade enorme deles, que desestimula só de ver. Porém, logo de cara, por aquelas coincidências, encontro um texto de Drummond. O título: “Viver não dói”.

Hipnotizado pela magia das palavras, que fluem tal qual rio que corre para o mar, endosso o sumo que deu origem e alma a este artigo que diz: “Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”

Wagner Ligabó é médico cardiologista e vereador

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