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Jundiaqui

 Crônica da Cozinha – Confesso que errei
23 de setembro de 2020

Crônica da Cozinha – Confesso que errei

Pelo chef Manuel Alves Filho, o Manu

A gastronomia é, em boa medida, uma representação da vida. Numa e noutra, o processo de aprendizagem costuma ser tão [muitas vezes mais] importante quanto o resultado. A construção do saber envolve, com relativa frequência, o cometimento de erros. Estes, acreditem, são extremamente didáticos. Ocorre que, no geral, não estamos acostumados a admitir falhas. Entendemos o fracasso como um episódio incompatível com o sucesso, e não como condição necessária à obtenção do êxito.

Não por outra razão, as redes sociais estão repletas de pessoas perfeitas, que aproveitam essas plataformas para divulgar suas conquistas, suas realizações, suas ideias brilhantes. Somos bonitos, inteligentes, descolados, amáveis, profissionais competentes e, claro, excelentes cozinheiros. Há muitos anos, entrevistei a bióloga molecular e geneticista Mayana Zats, professora da USP, que me deu uma declaração surpreendente.

A data altura da entrevista, ela disse que os cientistas não deveriam escrever somente artigos relatando os excelentes resultados alcançados pelas pesquisas que realizam, mas também produzir textos falando dos erros e fracassos que antecederam as brilhantes conclusões. “Assim, seus pares não teriam que cometer os mesmos erros, o que conferiria outra dinâmica à ciência”, ponderou, mais ou menos com estas palavras.

Constantemente publico receitas cometidas por mim, acompanhadas de textos que buscam ser inspiradores. Mas raramente falo do quanto produzir um bom conteúdo exige dedicação, estudo, esforço e, obviamente, erros.

Ontem, por exemplo, fiz o pão australiano da foto, que ficou muito bonito e gostoso. Como foi a primeira vez que fiz esta produção, segui à risca uma receita que garimpei na internet.

No passo a passo, o autor dizia que o tempo total de forno era de 30 minutos. Como sei que há variação de um equipamento para outro, deixei 35 minutos. Visualmente, considerei que estava tudo bem. Acontece que, depois de deixar o pão descansar eu o cortei e notei que a base, uma faixa de uns 2 centímetros, ficara ligeiramente embatumada. Ou seja, é possível que ainda necessitasse de mais uns 5 a 7 minutos de cocção.

Eu e Maria Alice comemos o pão australiano no café da manhã, acompanhado apenas de uma boa manteiga com sal e, claro, um café preto de estirpe. A despeito da minha falha, a experiência gustativa foi das mais prazerosas. Enquanto tomava o desjejum refleti sobre dois aprendizados que meu deslize me proporcionou. Primeiro, entendi que, em determinadas circunstâncias, o bom pode perfeitamente fazer com que prescindamos do excepcional. Segundo, que agora estou mais perto de fazer um pão irretocável.

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