Por Valquiria Malagoli
Não era para esse aqui ser um texto poético. A ideia era um artigo de opinião.
No entanto, tão logo passei pela rua, o vento repentinamente desenhou tal rastro de folhas secas que supunha um véu de noiva...
E a noiva era eu.
Apaixonei-me à primeira vista. À primeira luz.
E lá se foi a opinião que, querem saber?, pouco valia.
Sim, muito mais me vale a flor de um dia!!!
Aceitei de pronto a mão daquele. Casei-me com ele, com aquela flor irreal na lapela invisível.
Aceitei, sim, porque eu voltava da caminhada e ele me surpreendeu. Como não amá-lo?
Como não me entregar, se ele antes se entregou a mim, literalmente rastejando a meus pés?
Longe de humilhar-se!; ele apenas me seguiu. E por isso... eu a ele.
Ele não me fez promessa alguma. Fez, ao contrário, um gesto.
Aconteceu que enquanto caminhava eu pelo asfalto daquele improvisado altar, romanticamente cercada por vento – que passa – além de folhas – mortas – não pude deixar de pensar na efemeridade.
Claro! Coisa da vida refletir acerca da morte que nos cerca!
Porém, durante essa breve reflexão, passei por uma delicada cerquinha viva...
Cerca viva levantada por um vizinho cuidadoso. Levantada com as mudas de citronela que eu trouxe da casa da minha mãe.
Refleti então que o terreno onde ela agora se espalha, estava antes abandonado.
Eu também vinha abandonada a mim mesma, com meus pensamentos recorrentes, antes que aquele pé de vento me arrebatasse.
Não espere você algum final lógico para esse texto que deixou a lógica lá atrás no turbilhão de folhas...
Apenas cheguei em casa. Abri a porta e rasguei o início daquele que eu rascunhara, e que seria o texto onde agora há este texto.
Dei comida aos gatos sem donos que costumam me preceder desde o quarteirão acima.
E pensei, finalmente, que sou tão feliz que é impossível dizer o quanto.
Tenho diante de mim animais mansos, ao meu lado citronelas perfumosas e um rastro de folhas que, mesmo sem querer, plantei.
Valquíria Malagoli é escritora e poetisa
Não era para esse aqui ser um texto poético. A ideia era um artigo de opinião.
No entanto, tão logo passei pela rua, o vento repentinamente desenhou tal rastro de folhas secas que supunha um véu de noiva...
E a noiva era eu.
Apaixonei-me à primeira vista. À primeira luz.
E lá se foi a opinião que, querem saber?, pouco valia.
Sim, muito mais me vale a flor de um dia!!!
Aceitei de pronto a mão daquele. Casei-me com ele, com aquela flor irreal na lapela invisível.
Aceitei, sim, porque eu voltava da caminhada e ele me surpreendeu. Como não amá-lo?
Como não me entregar, se ele antes se entregou a mim, literalmente rastejando a meus pés?
Longe de humilhar-se!; ele apenas me seguiu. E por isso... eu a ele.
Ele não me fez promessa alguma. Fez, ao contrário, um gesto.
Aconteceu que enquanto caminhava eu pelo asfalto daquele improvisado altar, romanticamente cercada por vento – que passa – além de folhas – mortas – não pude deixar de pensar na efemeridade.
Claro! Coisa da vida refletir acerca da morte que nos cerca!
Porém, durante essa breve reflexão, passei por uma delicada cerquinha viva...
Cerca viva levantada por um vizinho cuidadoso. Levantada com as mudas de citronela que eu trouxe da casa da minha mãe.
Refleti então que o terreno onde ela agora se espalha, estava antes abandonado.
Eu também vinha abandonada a mim mesma, com meus pensamentos recorrentes, antes que aquele pé de vento me arrebatasse.
Não espere você algum final lógico para esse texto que deixou a lógica lá atrás no turbilhão de folhas...
Apenas cheguei em casa. Abri a porta e rasguei o início daquele que eu rascunhara, e que seria o texto onde agora há este texto.
Dei comida aos gatos sem donos que costumam me preceder desde o quarteirão acima.
E pensei, finalmente, que sou tão feliz que é impossível dizer o quanto.
Tenho diante de mim animais mansos, ao meu lado citronelas perfumosas e um rastro de folhas que, mesmo sem querer, plantei.
Valquíria Malagoli é escritora e poetisa