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Jundiaqui

 De Erazê para Gisela: Refogado é gigante
7 de fevereiro de 2024

De Erazê para Gisela: Refogado é gigante

“Refogados é a puta que o pariu!” Erazê Martinho não está mais entre nós para confirmar, mas teria sido essa sua reação, entre brabeza e depois risos de felicidade, segundo amigos que presenciaram a criação do Refogado do Sandi, ao ler em um jornal no dia seguinte ao primeiro desfile a chamada de capa “Os Refogados inundaram a cidade com folia”. Era o “Jornal da Cidade” 12 de fevereiro de 1994.

Hoje o Bloco Carnavalesco Refogado do Sandi é Patrimônio Imaterial e Cultural de Jundiaí e ainda assim, 30 anos depois de sua estreia, tem gente que erra ao usar o primeiro nome no plural. Mas tudo bem, isso já faz parte do folclore do bloco mais tradicional e divertido da cidade. Tudo bem mesmo? Que fique registrado que Erazê odiava essa distorção, porque “Refogados” não correspondia à origem do criativo nome e, desta forma, ele corrigia o coitado errante em alto e bom som.

A comandante desde a morte de Erazê, em 2006, Gisela Vieira, liga menos para a confusão de nome. Afinal, se foram cerca de 40 pierrôs e colombinas às ruas naquele 11 de fevereiro de 1994, agora já são algo como 30 ou 40 mil espalhados pelas ruas do Centro todos os anos de desfile. E se alguns ainda erram o nome, é certo que ninguém que ama o Carnaval em Jundiaí e região erra a data da sexta-feira que abre oficialmente a folia de Momo por aqui, ou o endereço, as ruas Barão de Jundiaí e Rosário, que é o mais importante para a “deretora” Gisela, como foi batizada pelo próprio criador do bloco.

Erazê, que infelizmente teve uma data de validade muito curta, criou, Gisela multiplicou e o folião se apaixonou! Simples assim!

O REI DA FOLIA – Festeiro dos tempos de Banda da Ponte e por 21 anos seguidos do Estamos na Nossa, dois blocos que marcaram época na cidade e já extintos, Erazê Martinho conseguiu arrastar em seu sonho do Bloco Carnavalesco Refogado do Sandi “meia-dúzia de bobos e bobas pras ruas naquele ano de 1994”, conforme define a estreia, aos risos, Sandra Tosim – inclusive ela e Diva Rigoni foram lá conferir. Foi assim o surgimento desse mito que só faz crescer desde então.

O sobrenome Sandi do bloco surgiu por conta do Bar Sandi e este era da união do San de Sandra mais o Di, de Diva. Já o Refogado veio de um mexidinho de cebola, alho etc que se fazia ali e Erazê adorava.

Nascido em Jundiaí em 18 de março de 1933, Erazê foi cronista, poeta, escritor, publicitário, filósofo e político, sendo eleito vereador pelo PT. Mas a grande marca deixada mesmo é a de folião, dono de grandes sambas para diferentes blocos de rua e criador do Refogado. Erazê foi tão danado que faleceu bem no dia da mentira, o 1º de abril de 2006.

DIPLOMADA PARA COMANDAR – O que não dá é para imaginar o Refogado do Sandi sem Erazê e sem Gisela Andrade Vieira, que toca o bloco desde a morte de seu criador. Ela recebeu das mãos de Erazê, a quem chamava de “presidente”, um diploma assinado por ele que a qualifica como “Deretora Dra. Gisela” e informa ser um documento “exclusivo nos termos de seu recém-inventado estatuto”. O “recém-inventado estatuto” não tem nenhum outro artigo ou o que quer que seja, foi um agrado com seu jeito brincalhão de ser de Erazê para eternizar seu carinho por essa advogada de 63 anos e que desde 1996 faz parte do bloco. Rita Rodrigues estava junto com Erazê na entrega do título na festa de aniversário de Gisela em 28 de novembro de 2004 – o aniversário mesmo foi dois dias antes, dia 26.

É uma questão de estilo o que diferencia o comando de Erazê ao de Gisela, mas ambos tomando  decisões sem discussão. A diferença é que ele era sedutor e parecia ouvir a todos, mas é unânime no bloco que fazia as coisas do jeito que queria, assim como a “deretora”.

Com seu jeitão, Gisela agora em 2024 chega a 16 desfiles à frente do Refogado, sendo que Erazê esteve em 13. O da despedida de Erazê não reuniu mil pessoas. No de 2023 foram milhares.

O mais complicado para ela foi colocar a turma na rua em 2007, meses após a morte de Erazê. Conseguiu não só manter acesa a chama da velha-guarda como e, principalmente, engrossar o caldo com novos foliões nas ruas, que se somariam a outros e mais outros e hoje formam um mar de gente no Centro nas sextas de Refogado. No ano seguinte, 2008, criou a Corte da Folia, um jeito de arrumar companheiras e companheiros para a rainha e com isso agregar mais gente para divulgar o nome Refogado.

Nascida em Bragança Paulista em 1960, Gisela se mudou com a família para cá aos 13 anos de idade e recebeu o título de cidadã jundiaiense da Câmara Municipal em 2012, por indicação do então vereador José Galvão Braga Campos, o Tico. Advogada criminal e de família formada na Faculdade Padre Anchieta, com estágio na Promotoria Pública, fez pós-graduação no Largo São Francisco, da USP – Universidade de São Paulo. Ela já coordenou a assistência jurídica gratuita e fez parte da diretoria da OAB Jundiaí.

Lembra que foi convidada por Erazê para o desfile de estreia, mas não conseguiu ir por conta do trabalho, o mesmo se repetindo no segundo ano. Mas a partir de 1996 entrou no embalo da turma que já conhecia do Bar Sandi. Logo de cara criou a Comissão de Frente para facilitar a vida das mães com filhos. No caso dela, era para levar mais tranquilamente os cinco sobrinhos então com idades entre 6 e 10 anos (Camila, Carolina, Maria Eugênia, Ana Luísa e Ignácio). E foi a partir de 1998, após Erazê ter tido que tirar o dinheiro do seguro do carro para bancar a bandinha do bloco, que passou a formar junto com outros foliões uma espécie de diretoria, agitando festas e vendendo camisetas para arrecadação de verba e colocar o refogado na rua.

Gisela tem na professora aposentada Iliana Mendonça seu braço direito para a organização do bloco que este ano não terá concentração no Gabinete de Leitura, mas sim na Praça Ruy Barbosa – o prédio está fechado e aguardando definições pelo Poder Público (leia mais). Iliana é uma das compositoras dos sambas.

O desfile acontece nesta sexta-feira (9) a partir das 15 horas e depois tem folia na sede central do Clube Jundiaiense – veja.

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