
Anderson Tomasetto é o Rei das Uvas
Por Edu Cerioni – Se todo ano a Festa da Uva tem nova rainha e princesas, o rei é o mesmo de longa data: Anderson Alex Tomasetto, 41 anos, que recebeu um diploma das mãos do prefeito no dia 23 em reconhecimento pelos prêmios que vem acumulando entre produtores da Niagara Rosada.
Todo final de semana de festa tem concurso das melhores frutas, em várias categorias. Na primeira rodada, o Padreco, como é chamado pelos amigos, entrou com 12 caixas de uvas e garantiu pódio ou menção honrosa para dez: na categoria “12 Cachos Apresentação Uva Niagara” pegou os quatro primeiros lugares; na “Niagara Rosada Embalada” ficou com ouro, prata e bronze; e foi primeiro em “Embalagem Niagara Mista”, “Niagara Branca Mais Doce” e “Niagara Núbia”.
Ele explica como faz para sempre ter ótimas uvas para a festa: “O ciclo leva 120 dias, pode atrasar ou adiantar um pouquinho, mas fazemos a poda para que na metade de janeiro possamos oferecer a fruta da melhor qualidade, bela e doce”. Sobre ser o grande campeão, diz: “Quando a gente chega aqui e olha o geral que cada produtor trouxe, todos nós já sabemos quem brilhou, então não tem erro de avaliação, é consenso”.
Anderson diz que há uma “irmandade” de quem produz uva na cidade e não vê competição na festa, mas “uma concorrência amistosa” e todos torcendo um pelo outro para elevar o nível do que é apresentado ao público. “A Festa da Uva é nossa grande vitrine, um momento mágico”.
Uma curiosidade: ele e outros premiados entram nos leilões de todo domingo com renda revertida para o Fundo Social de Solidariedade para que a arrecadação seja maior e a doação também. Dia 25, Anderson arrematou dois lotes e os doou para nova rodada de lances. Pagou quase R$ 1 mil e viu mais gente investindo na disputa depois pelas caixas de uvas e outras frutas, litros de vinho e demais prendas – geleias, pó de café e até fichas para coxinhas de queijo.
TRADIÇÃO FAMILIAR – Anderson tem duas propriedades no bairro do Traviú, uma com 2,5 hectares produzindo a uva Niagara Rosada Jundiahy e outra menor em que faz experimentos com outras variedades.
Conta que este ano a quebra da safra vai ficar na faixa de 25% a 30%, por conta ainda da podridão que afetou muito nossas uvas na virada de 2023 para 2024. “É um desafio que a gente está superando e vai passar logo. Asseguro que a qualidade da maior parte da produção na cidade este ano é excepcional. Como choveu pouco nos últimos meses, ela veio docinha e bonita”.
Com 41 anos completados neste último 27 de janeiro, Anderson conta que toda sua vida foi ligada à videira e que ela passa de geração em geração. É uma história de séculos passados, assim descrita: “Os primeiros imigrantes vieram da Itália para cá em 1887, para a Fazenda Sete Quedas, em Campinas, como colonos do café. Meus antepassados e mais cinco outras famílias, então, se mudaram para Jundiaí e formaram o bairro Traviú. Fizeram a divisão das terras e temos essa mesma propriedade desde 1893”.
O começo aqui também foi com café, que Anderson mantém alguns poucos pés “para nunca esquecer as raízes”, mas desde 1906 também se planta uvas ali. “Quando meu tataravô faleceu, foi feito um inventário e consta nele a cultura da uva neste mesmo lugar chamado de Estrada da Casa Velha”.
As uvas Niagara Rosada que produz são vendidas em sua maioria em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, entre outros estados brasileiros.
COLEÇÃO DE PRECIOSIDADES – O campeão da Festa da Uva também produz “um pouquinho” da variedade Isabel para comérico e cerca de outras 60 (isso mesmo, sessenta) espécies de uvas, com as quais diz fazer testes. “Tenho minha coleção particular. Tem quem coleciona carrinhos ou carrões, figurinhas ou canetas, eu coleciono variedades de uvas”.
A novidade que vem preparando é a Niagara Rosada sem semente. Anderson conta que a baga ainda é muito miúda e que vai trabalhar nela com hormônios naturais na tentativa de deixá-la mais bonita para poder ser apresentada na festa. A mutação espontânea da Niagara sem semente tem seis pés na plantação. “Ainda busco um padrão de cacho bonito e baga maior e quando conseguir vai ser sucesso no mercado”. Quem sabe aconteça em 2026 – a uva Niagara Rosada foi descoberta em 1933 no sítio do Comendador Antonio Carbonari, que dá nome ao parque da festa, que vem desde 1934, sendo agora sua 40ª edição.
Anderson é sobrinho do presidente da Associação Agrícola de Jundiaí, a parceira da Prefeitura de Jundiaí na realização da Festa da Uva. O presidente é Renê José Tomasetto, sobrenome com “S” e “T” duplo, a exemplo de Anderson. Mas há outros parentes com variações e também premiados na primeira semana, casos de Renan Thomasetto, neto de Renê que tem 13 anos e um “H” no sobrenome, e de Julio César e Nilson Luiz Thomazeto, com “Z” e um só “T”. Diferenças colocadas na conta dos registros em tempos longínquos nos diferentes cartórios.
OUTROS QUE BRILHAM – O JundiAqui relaciona aqui outros nomes que foram premiados pelas frutas apresentadas no final de semana de abertura da festa,com uva, pitaya, goiaba, araça, jaca etc. Tem até mini-moranga em tamanho semelhante ao do caqui. São de bairros como Ivoturucaia ou Caxambu ou cidades vizinhas, como Louveira.
Da família Michelin aparecem os nomes de Almir, André, Graziela, Henrique, Nivaldo e Rafael. Tem Alice e Robson Marquesin e Jamil e Ivan Condini. Além deles também brilharam Mailson Valentim Zuchatti, Sandro Burch, Luciana Guilhen, Osvaldo de Almeida, Valdir José Bernardi, Juan Monteiro, Alexandre Braz de Souza, Ademir Minjoni, Gabriel de Almeida Fava, João Lourençon, João Bardi e Lucas Brunelli. Como se nota, só três nomes femininos: Alice, Luciana e Graziela.
Conheci Henrique Michelin e seu pai Rafael e vi o brilho nos olhos do garoto de 8 anos com a premiação para seus maracujás grandes e lindos. Rafael ganhou por uvas.
PROTESTO – O diploma foi visto por Anderson como honraria, mas ele fez questão de que o JundiAqui fizesse o registro de uma reclamação que também levou a Gustavo Martinelli no final do dia 23: “Adorei a ideia, mas outra vez nós agricultores fomos barrados pelos seguranças, assim fica complicada a relação. Agora, nem que o bispo me chame eu vou lá”.
Explica-se: Anderson e outros foram chamados para acompanhar a comitiva política que abriu a festa e seguiram no cortejo, mas só até um certo ponto. Como não tinham credencial (na verdade um adesivinho amarelo colado na camisa), não foram liberados a sentar nas cadeiras diante do palco – onde estava Dom Arnaldo Cavalheiro, rainhas e princesas de outros tempos e muitos convidados. Martinelli me disse: “Pedi desculpa em nome do governo”.
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