
DIA DA MULHER – Na linha de frente, Dra. Célia diz que fake news também mata
Cardiologista e coordenadora de Pronto Atendimento diz que só com conscientização vamos vencer o coronavírus
Edu Cerioni
Célia Regina Pellicciari Galeotti, com trinta e quatro anos de Medicina, vive os dias mais desafiantes de sua profissão nesta pandemia do novo coronavírus, que já matou 265 mil brasileiros, passando de seiscentos só aqui em Jundiaí. Vacinada com as duas doses de CoronaVac, ela que já foi contaminada diz esperar ansiosamente pela vacina para todos e avisa que as variantes da Covid-19 vêm mais fortes e ameaçadoras. E lamenta: “Vejo esforços de uns e descasos de outros que ainda subestimam este inimigo oculto”.
Nesse Dia da Mulher 2021, em que não haverá festa com aglomerações por conta das restrições impostas já há um ano pelo vírus mortal, o JundiAqui homenageia as profissionais da Saúde da cidade ao contar a história dessa médica que se diz uma “jundiaiense descendente de imigrantes italianos como uma boa parcela dos que aqui residem e moradora perto da Festa da Uva”. Ela, inclusive, teve a Covid-19 em julho de 2020, quando se isolou em seu apartamento. “Minha irmã deixava comida na porta do lado de fora e eu só abria a porta depois que ela fosse embora”, recorda.
Divorciada, Célia tem 58 anos, mora com seus dois cachorros “vira-latas maravilhosos”, Otti Galeotti e Giorgio Armani, tendo a medicina como sua grande paixão. E salvar vidas como missão. “O meu amor pela vida me leva a querer que as pessoas vivam também e com qualidade. Por trás do paciente, existe uma história de vida, uma família, um porquê desta pessoa estar inserida neste mundo”.
A dra. Celia se formou em 1986 na Faculdade de Medicina de Vassouras, Rio de Janeiro. É cardiologista clínica e atualmente trabalha em seu consultório e é diretora e responsável técnica pelo resgate do Posto de Atendimento da Unimed Jundiaí, onde realiza plantões, assim como também na UCEC (Unidade de Emergência Clínica e Cardiológica). Na linha de frente do combate à Covid-19, alerta para o fato de que as doenças cardiovasculares estão associadas com a maioria dos óbitos.
A vacina salva vidas?
“Sem dúvida nenhuma, salva. Já recebi as duas doses da CoronaVac e a vacinação é importante para frearmos esta pandemia que assola o mundo. Já temos variantes, mas precisamos frear a base e tentar novas vacinas para esta nova cepa, que veio mais agressiva”.
Fake news mata?
“A Fake news mata mais ainda pelo pavor que disseminam e é desesperador ver o não entendimento da população. Vivemos uma devastação de mortes pelo descaso de pessoas que não acreditam na disseminação deste vírus que, com certeza, terá novas cepas. A conscientização é importante para que possamos vencer esta guerra em que perdi colegas médicos e pacientes queridos”.
Então já chorou perdas…
“Trabalho muito, mas com muito prazer no que faço e já chorei algumas vezes por não poder fazer mais nada por pacientes que se foram. Mas continuo trabalhando”.
Sua rotina mudou muito desde a descoberta do vírus?
“Minha rotina sempre foi de muito trabalho. O que mudou é que ao chegar em casa preciso ter todo o cuidado de colocar tudo para lavar, não entrar com o sapato que usei na rua, lavar os cabelos diariamente e por aí vai. É preciso usar máscara, higienizar as mãos, todo cuidado é pouco”.
Como vê essa decisão de fase vermelha? Necessária nesse momento?
“A fase vermelha é o reflexo do descuido da população. Necessária para não perdermos mais vidas. Se não fizermos isto, o caos será uma coisa fora do contexto em termos de vivência na Terra”.
Faz terapia ou alguma ação assim que alivie a cabeça e o coração?
“Neste momento, oro muito e me firmo na minha fé para conseguir superar toda esta pandemia com lucidez. Não é fácil não”.
Dá para dizer que teve momentos felizes também nesse último ano no trabalho?
“A maior alegria é saber que minha família está bem. Que amigas que pegaram a Covid-19 estão todas bem e recuperadas como eu”.
Como imagina as coisas daqui um ano, afinal agora em março dá um ano de pandemia?
“Acredito que ainda passaremos um bom período em isolamento, com quebra de economia e uma visão de que a recuperação dependerá de todos. Tudo isto levará a um intenso momento de reflexão na humanidade. É o momento para um despertar. Um alerta grande sobre a desigualdade social. Estamos aqui para aprender e, quem não conseguir enxergar isto, correrá o risco de repetir a lição novamente”.
Fotos: arquivo pessoal