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 Camões, os Cabral e os povoadores de Jundiaí
21 de fevereiro de 2024

Camões, os Cabral e os povoadores de Jundiaí

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello – Neste ano de 2024, a comunidade lusófona comemora os 500 anos do nascimento do poeta Luís de Camões. Para quem não sabe, comunidade lusófona é o conjunto de países onde se fala o idioma português. E, para quem não sabe, o poema épico “Os Lusíadas”, escrito por Luís de Camões, teve um papel importante na evolução do idioma português.

Luís de Camões era um fidalgo muito instruído para os padrões do século XVI. Porém, a despeito de sua posição social e de sua cultura invulgar, era um boêmio inveterado, apreciador de bons vinhos e de belas mulheres. Até aí, o que se pode dizer dele é que tinha bom gosto. Porém, havia um lado negativo nessa boemia.

O jovem Camões era propenso a se envolver em confusões e em brigas. Em uma dessas encrencas, feriu gravemente um funcionário do Palácio Real. E, como alternativa à pena de prisão, foi-lhe oferecida a opção de prestar serviços à Coroa Portuguesa em Goa.

Na época, penas alternativas como essa eram uma solução adotada com frequência. Como todos sabem, Portugal foi pioneiro da navegação de longo curso e construiu um vasto império ultramarino. Mas, no século XVI, havia escassez de população para enviar soldados e burocratas às colónias e aos entrepostos de ultramar. Estima-se que em 1500 a população de Portugal não passava de um milhão de habitantes (José da Silva, “A população portuguesa na época dos descobrimentos”). Ou seja, a população de Portugal em 1500 era mais ou menos equivalente à população, em 2022, da região imediata de Jundiaí, que abrange Cabreúva, Campo Limpo, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Morungaba e Várzea. Não havia sentido, portanto, em desperdiçar na prisão alguém como Luís de Camões, que além de militar experiente era também qualificado para funções administrativas.

E assim, em 1553, lá se foi o até então poeta lírico Luís de Camões para Goa, onde escreveu o poema épico “Os Lusíadas”. Camões viajou para Goa a bordo da nau São Bento, que compunha uma poderosa armada sob comando de Fernão Álvares Cabral.

Esse Fernão Álvares Cabral (1514-1571) era filho de Pedro Álvares Cabral (1468-1520), o descobridor do Brasil. E era pai de Pedro Álvares Cabral (neto), nascido na Ilha de São Miguel, Arquipélago dos Açores, por volta de 1526.

Pedro Álvares Cabral, o neto, veio para a Capitania de São Vicente, hoje Estado de São Paulo, onde casou com Susana Moreira, filha do Capitão-mor Jorge Moreira. O casal teve dez filhos, entre os quais Maria Moreira (Cabral), que casou com o ouvidor da Capitania, Inocêncio Preto, tio de Petronilha Antunes (Preto), considerada fundadora de Jundiaí por haver patrocinado a construção da Matriz, em 1651.

Entre os filhos de Maria Moreira (Cabral) e Inocêncio Preto, dois interessam à história de Jundiaí: Inácio Preto e Maria Antunes (Preto).

Inácio Preto casou com Catarina de Oliveira d’Horta, meia-irmã do segundo Rafael de Oliveira, considerado fundador de Jundiaí porque obteve do governador da Capitania a primeira provisão para que a freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Jundiahy fosse elevada a vila, o que só aconteceu de fato em 1656, depois que ele havia morrido.

Maria Antunes (Preto) casou com José Ortiz de Camargo, um dos primeiros povoadores do “Sertão do Jundiahy”, onde possuía terras em Botujuru. Uma filha desse casal, Maria de Camargo, casou com Francisco Cordeiro, cunhado de Rafael de Oliveira. Outro filho desse casal, Inocêncio Ortiz de Camargo, era morador em Jundiaí em 1656. E um terceiro filho, José de Camargo, comprou terras em Jundiaí que haviam pertencido a Petronilha Antunes, como consta de escritura citada pelo pesquisador Mário Mazzuia.

Luiz Haroldo Gomes de Soutello, da Academia Paulista de História

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