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Jundiaqui

 O Anhanguera é nosso!
7 de agosto de 2022

O Anhanguera é nosso!

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello / historiador

Para o meu gosto pessoal, as duas melhores atrações turísticas de Santana de Parnaíba são o excelente leitão assado que se come no restaurante São Paulo Antigo e o Museu Casa do Anhanguera.

Para os arquitetos, a Casa do Anhanguera é mais saborosa do que o leitão, porque é o único exemplar, em todo o Estado de São Paulo, de uma casa do século XVII que não sofreu alterações em suas características originais.

A casa é autêntica, mas dizer-se que o Anhanguera morou naquela casa é no mínimo duvidoso, pra não dizer extremamente improvável. Aliás, essa não é a única casa de Parnaíba que reivindica a glória de haver sido a suposta residência do Anhanguera. A outra alega haver sido onde nasceu o segundo Anhanguera, porque houve dois, pai e filho.

Anhanguera significa Diabo Velho na língua dos índios, que consideravam feiticeiro o primeiro Anhanguera. Em português, o nome dele era Bartolomeu Bueno da Silva. Era o segundo filho de Francisco Bueno, que casou em São Paulo, em 1630. Portanto, nasceu depois de 1632. Em 1637, Francisco Bueno comandou uma bandeira que foi às missões jesuíticas do atual Rio Grande do Sul, onde morreu em combate contra os guaranis, em 1638. Portanto, Bartolomeu nasceu antes de 1637. Fazendo a média, podemos dizer que nasceu por volta de 1635. Diz a tradição que nasceu em Parnaíba.

Casou pela primeira vez com Isabel Cardoso, com a qual teve nove filhos. É o que se sabe a respeito dele até 1582, quando, já perto de cinquenta anos de idade, comandou uma bandeira que veio por terras de Jundiaí até a altura do atual Bairro do Poste, de onde enveredou para o sertão dos índios goiás (atual Estado de Goiás), chegando até o Rio Araguaia. Descobriu vestígios de ouro na região do Rio Vermelho, mas não chegou a explorar essa descoberta, porque optou por outra maneira de se tornar poderoso. Segundo o historiador Azevedo Marques, citado por Luiz Gonzaga da Silva Leme na “Genealogia Paulistana”, volume 1, página 504, o Anhanguera retornou para Parnaíba “tendo apreendido e conquistado tantos índios que com eles se poderia fazer uma vila”.

Pode haver aí algum exagero, mas não muito. Outro bandeirante famoso, o Capitão Manuel (Antunes) Preto, pai da nossa Petronilha Antunes, morava na fazenda chamada Sítio do Jaraguá, que se estendia do Rio Tietê até o Rio Juqueri, na altura da atual Freguesia do Ó, fundada por ele em 1618. Nessa fazenda, Manuel Preto mantinha um exército particular de 999 índios flecheiros (esse número sugere que fosse proibido chegar a 1.000), com os quais expulsou os castelhanos da região do Guairá, atual Estado do Paraná, dando assim um bom empurrão no Meridiano de Tordesilhas.

Com um perfil semelhante, é muito mais provável que, ao menos a partir de seu retorno do sertão, o Anhanguera morasse em uma fazenda, com seu pequeno exército de índios, do que em uma casa urbana na vila de Parnaíba.  A pergunta que se coloca é: onde ficava a fazenda do Anhanguera? Não podia ser longe de Santa Ana de Parnaíba, porque foi lá que o filho homônimo casou, em 1694, com Joana de Godoy, e foi lá que o próprio Anhanguera casou pela segunda vez, em 1697, com Maria de Moraes.

O arraial de Jundiaí tornou-se vila em 1656, sendo seu território desmembrado, teoricamente, da Vila de São Paulo, mas na prática abrangendo também uma área que até então era considerada de Parnaíba. A divisa entre essas três vilas foi demarcada por duas estacas de madeira fincadas junto a uma ponte sobre o Rio Juqueri, no caminho que ligava São Paulo a Jundiaí.

Em 22.11.1745, o ouvidor geral e corregedor Domingos Luís da Rocha fez uma correição na Câmara de Jundiaí. Um trecho do termo de correição lavrado nessa data diz o seguinte:

“Proveu mais, por estar informado dos oficiais da Câmara e das mais pessoas da governança, que se havia mudado o marco da outra parte que estava da ponte de Juqueri Guaçu que servia de divisa desta vila e a de Parnaíba e mandou que os Oficiais da Câmara logo o mandassem pôr na mesma parte aonde se conservava, ficando a dita ponte no distrito desta Vila, ficando a ela sujeitas todas as vendas e moradores, a saber o sítio da Capela e o sítio de Bárbara Paes, e o de Bartolomeu Bueno da Silva, e constando de pessoa alguma tire o dito marco, o Juiz será obrigado a tirar devassa (leia-se abrir inquérito), para ser punido com as penas da Lei e que for compreendido nela” (Mário Mazzuia, “Jundiaí através de documentos”, página 103, grifo meu).

Em 1745, quando foi feita essa correição, o primeiro Anhanguera já havia morrido havia muito tempo e o segundo Anhanguera havia morrido pouco antes, em 1740. Existe, portanto, a possibilidade teórica de que o termo de correição estivesse se referindo ao terceiro Bartolomeu Bueno da Silva, filho do segundo Anhanguera. Seja como for, a hipótese de que aquelas terras situadas em Jundiaí houvessem sido adquiridas pelo segundo Anhanguera ou pelo terceiro Bartolomeu Bueno da Silva é tão remota que pode ser descartada. O segundo Anhanguera passou a maior parte da vida longe dali, em Goiás, em Sabará, em São João do Paraíso, em Pitangui e novamente em Goiás, onde morreu. Morreu muito pobre, de maneira que em 1745 o terceiro Bartolomeu Bueno da Silva ainda não teria recursos para adquirir aquelas terras a não ser por herança. Tudo indica, portanto, que a fazenda do primeiro Anhanguera ficava em Jundiaí.

O Anhanguera é nosso !!!

 

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