Por Sarah Bulhões – Nunca pensei que, bem na sua vez, eu estaria tão longe. Também nunca imaginei que seria assim, tão rápido. Aliás, acreditava de verdade que a sua vez nunca chegaria.

O homem mais forte que eu já conheci. Mais rápido. Mais inteligente. O homem que fazia de tudo — e fazia bem feito. O homem que já venceu a morte tantas vezes… como esse mesmo homem poderia morrer agora, assim?

Me custa acreditar que tudo isso é verdade. Que eu nunca mais vou ouvir sua voz me dizendo as mesmas coisas, inúmeras vezes. Que a gente nunca mais vai brigar. Que você nunca mais vai tirar todo mundo do sério. Que ninguém mais vai ouvir você tocar.

Jamais imaginei que seria tão difícil escrever essas linhas pra você ou sobre você. Tenho tanta coisa pra falar. Tanta coisa pra lembrar. Porque eu te amo tanto.

Sempre quis ser igual a você. Todos os meus gostos vieram de você. As músicas, as roupas, a vontade louca de viver, os exageros, as teimosias, o queixo pra frente. Ah… e quando perguntavam se eu era sua filha?! Eu amava. No final, até que a gente é bem parecido mesmo.

Eu adorava sair de Kombi com você. E andar na caminhonete, então? Amei cada segundo ao seu lado quando eu era pequena, te admirando enquanto você tocava nas festas e me ensinava a escutar e sentir a música da maneira certa. Nesses últimos dias, me ensinando a dirigir a Kombi… puxar aquele freio duro? Impossível.

Não aguento mais ver as notícias dizendo que você se foi num acidente de trânsito. Afinal, você era o melhor no volante e na cavalgada. Amava salada de alface, arroz com feijão, os animais, as mulheres – nunca vi alguém ter tantas namoradas como você – sua família, seus amigos, a música e o whisky.

Como você mesmo dizia: acabou tudo, amorzinho. E nesse final… você viveu muito. Só não sei como a gente vai viver sem você aqui.

Uma coisa eu te garanto: eu vou aprender a dirigir. E a sua caminhonete jamais será vendida. Nem seus discos, nem suas jaquetas, nem a cela do cavalo.

Vá com Deus, amorzinho – a última música que você me enviou durante minha viagem. Sábia Roberta Miranda.

Por aqui, de longe, um brinde a você – caçador!

Hoje à noite, vou ligar o radinho. Obrigada por ser o melhor tio de todos os tempos.

Da sua sobrinha, que mais parece sua filha.

Com eternas saudades e muito amor, Sarah Bulhões.

Nota do editor: Oscar Nalli faleceu aos 54 anos na noite de segunda (4). Bateu sua Kombi em poste no Medeiros, após passar mal ao volante por conta da diabetes alta. Era DJ conhecido na cidade e tinha comércio de eletrônicos.

Foto: reprodução Pop TV