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Jundiaqui

 Dona Marli avisou filhos antes da intubação que ‘Deus tem um propósito’
25 de maio de 2020

Dona Marli avisou filhos antes da intubação que ‘Deus tem um propósito’

Na garra, a empregada doméstica cuidou da família após ficar viúva, mas não resistiu à Covid-19

Edu Cerioni

Dona Marli Alves de Moura Fruzina ficou viúva há 12 anos. A morte repentina do marido a baqueou, é claro, mas essa jundiaiense se agarrou na fé e juntou ainda mais força para o trabalho. Foi assim que manteve a casa e criou os quatro filhos, dois ainda adolescentes quando da partida de seu Benedito de Jesus.

Para essa empregada doméstica não tinha tempo ruim ou cansaço, conta a caçula Maria Eduarda. Não tinha pia entupida, torneira vazando ou outro problema que ela não arregaçasse as mangas para resolver – e se não sabia fazer, aprendia; e se errava, fazia de novo e mais uma vez até acertar.

Foi com um jeitão todo dela que dona Marli cativou patrões, vizinhos e amigos. Era feliz por ter visto os filhos se casarem e a família crescer com a chegada dos três netos, seus maiores xodós.

Há dois meses trocou de casa, da Vila São Paulo, onde nasceu, por outra no Bonfiglioli, um sonho que teve pouco tempo para curtir. Diabética, morreu em 20 de maio, aos 56 anos, com confirmação para o novo coronavírus. Esse dia 20 teve cinco mortes, o recorde na cidade durante a pandemia.

“Essa doença tem muitos números, mas por trás deles são rostos, são pessoas, são histórias interrompidas”, lamenta Eduarda. O genro Alex Andrade, que para ela era o “Menino do Chá”, diz que a sogra “deixou um legado muito lindo de superação, de lutas e conquistas que serviu e servirá para muitos”.

O triste roteiro da despedida de dona Marli começou e terminou agora em maio, o mês da “explosão” de casos e mortes por essa doença em todo o Brasil.

Foi no feriado do dia 1º que passou mal. À noite caiu de cama e ficou debilitada até dia 4, quando deu uma animada. Mas isso logo passou, porque no dia 6 apresentou sintomas de gripe, com coriza, espirros e muita fraqueza, contudo nem assim conseguiu ser testada para a Covid-19. Menos de duas semanas depois, sem ter o nome revelado, apareceu no Boletim Epidemiológico da Prefeitura como a 37ª vítima fatal no município.

“Naquela noite (6) a levamos ao plantão do Hospital São Vicente, mas a médica disse que não era nada grave, deu um remédio e nos mandou para casa”, conta Eduarda. “No dia 7 ela piorou com falta de ar e resolvemos ir na UBS da Vila Rami, que é voltada para a doença, na tentativa de conseguir o teste rápido, o que nem chegou a fazer. Com oxigenação baixa, já chamaram o Samu para que fosse internada no próprio São Vicente”, recorda a filha.

No hospital foi internada já no isolamento da enfermagem, isso por dois dias. No terceiro, o médico decidiu pela intubação e ela sabendo de tudo, consciente que estava. “O médico disse que a maioria entra em desespero ao saber do procedimento, mas com ela foi diferente. Mandou recado para que os filhos não brigassem, que amava a todos nós e que era para que ficássemos tranquilos porque Deus tem um propósito em tudo. Foi assim seu adeus”, lamenta Eduarda.

Foram dias de angustia e apreensão familiar. “Dia 19, avisaram que iriam interromper a diálise por causa do rim debilitado e que havia grande risco de parada cardíaca, que a situação era muito complicada. Dia 20 ela não aguentou mais essa luta. Foi quando chegou o resultado do exame positivo também”.

Um primo que tem o jazigo e os quatro filhos com maridos e esposa – além de Maria Eduarda também Andréa Fernanda, Patrícia e Rodrigo – puderam acompanhar “de longe” o enterro no Cemitério Nossa Senhora do Desterro, com caixão lacrado. “Nem o adeus pudemos dar”, conta a caçula, para quem todo cuidado é pouco com esse virus mortal.

Eduarda aguarda junto com o marido Alex para fazer novos testes para a Covid-19, porque os primeiros, feitos dia 21, deram negativo para os dois.

Dona Marli deu o sangue pelos filhos e foi também uma mulher de muita fé, até o fim.

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