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Jundiaqui

 Farewell Zulu
24 de março de 2022

Farewell Zulu

Por Lucinha Andrade Gomes

Quando estou triste, penso nos poemas, na literatura, uma forma de catarse para driblar a dor; assim cheguei a “FAREWELL”, a despedida, um livro de poemas do brilhante Carlos Drummond de Andrade.

Despedidas são, via de regra, dolorosas e quando a despedida envolve afeto e amor é quase insuportável. Foi assim com o amado ZULU.

O nosso amor não foi paixão avassaladora, ele veio de mansinho e gentilmente foi preenchendo todos os espaços no meu coração.

O Zulu foi um verdadeiro lorde de quatro patas. Um pouco ciumento, calmo e perspicaz. O mais cativante era o olhar profundo, empático, amoroso.

Creia-me leitor nossos diálogos silenciosos a respeito da vida, das dores, das frustrações, das alegrias, das esperanças, dos encantamentos foram riquíssimos. Ele compreendia a minha alma!

Ele sabia exatamente quando eu estava pronta para um rolê, ou levemente abatida pelas adversidades que a vida nos impões. Digo levemente, pois não sou dada a prostração e à tristeza, já disse o poeta é melhor ser alegre do que ser triste.

Ele chegou, como afirmei de mansinho, com a tutora Carol Saraiva, minha nora, mãe do meu neto Bento e foi acomodando aqui, ali e vapt-vupt meu corpo passou a ser o seu celeiro predileto, bastava ver meu colo e esparramava-se confortavelmente, independentemente se eu estava lendo, trabalhando, escrevendo, conversando etc. Ele amava um chamego e era correspondido.

O tempo fluiu e, de repente o Zulu tornou-se idoso. Sabe aquela idade que falsamente propagam ser a melhor… Aos 17 anos, sem os dentes, sem ouvir e enxergando muito pouco, artroses e problemas na coluna. Ah, não se desespere leitor, ele era radiante, 17 com aparência de 7, alegre, curioso… Insistia na felicidade!

Passei a carregá-lo nas escadas, vigiá-lo para não cair na piscina ou sair na rua. Ele subia dois degraus e chorava até que eu o tomasse no colo. Nestes momentos, eu acariciava os seus pelos e dizia: “Não entristeça meu Amor, a vida é assim, da fortaleza à fragilidade, mas você não está só, olhe que delícia sendo carregado com o maior xodó, poucos no final da jornada são tão paparicados e amados”.

Assim foram nossos últimos meses, o Nonô desviava o olhar da velhice e como fênix renascia todas as vezes em que adoecia. No entanto, as forças foram diminuindo lentamente e, em nossos diálogos, fomos nos despedindo com imensa gratidão por toda aprendizagem humana (estou convicta que o o ser irracional cativa e desperta o âmago da nossa sensibilidade, amorosidade).

Farewell ZULU, muito obrigada por todos os momentos felizes e os tristes, pois a vida é assim complexa e bela. Namastê.

Lucinha Andrade Gomes é escritora

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