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Jundiaqui

 São 9 os “Inumeráveis” de Jundiaí
25 de agosto de 2020

São 9 os “Inumeráveis” de Jundiaí

De 356 óbitos, só pouco mais de 2% têm suas histórias contadas no site que serve de memorial das vítimas da Covid-19 no Brasil

Ruan Dias Baldinelli
1993 – 2020

Deixou a lição de que a vida é muito curta para vivermos de remorso.

Domador e encantador.
Coração puro.
Alma leve.

Psicólogo, analista, conselheiro.
De tudo um pouco.
Sempre muito alegre.
Amigo.

Amigo.
Teimoso.
Companheiro.

Hoje o “turu turu” aqui dentro é de dor.
Muita dor.
Mas a gente sabe que você finalmente foi para o seu vale.
Deixou de brilhar aqui.
Foi brilhar lá no alto.

As carpideiras não precisaram ser pagas, meu amigo.
Hoje todos choram por você.
A gente só agradece.

Cada cor, cada corte, cada penteado.
Obrigada por tudo.
Ficarão as lembranças de tudo que foi vivido e a saudade de tudo planejado.

Brilhe muito.
Seja luz.
Seja lindo.

Além do jeito simples de ser, era notória sua paixão pela vida! Era admirado por muita gente e gostava de ocupar seu tempo livre viajando. O cabeleireiro namorava com Rodrigo Victorino. “Gostaria de ter vivido mais tempo com ele”, conta sua prima.

Ruan era mais que um cabeleireiro. Era amigo, conselheiro e ouvinte. Não tinha a quem não fizesse sorrir com seu jeito franco e espontâneo de ser. “O que você aprontou nesse cabelo? Vamos ver se vai dar pra consertar!”

Amava o mar, sua família, seus amigos, seus cachorros e seu eterno Mickey. Queria que sua despedida fosse alegre e leve, assim como ele era, tocando Sandy e Junior ao fundo. “Não pudemos nem sequer dar um último adeus, mas saiba, nosso anjo, que você vai sempre ser esse turuturuturu aqui dentro de cada pessoa que você tocou”, diz a prima Roberta.

Ruan nasceu em Jundiaí (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 26 anos, vítima do novo coronavírus.

. Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela amiga e pela prima de Ruan, Marília Mohedas Rocha e Roberta Bogajo em 26 de maio de 2020.

Letícia Neworal Fava
1991 – 2020

Menina doce, alegre, de coração gigante e dona da melhor risada do mundo. Letícia era uma pessoa companheira. Pra ela, não havia tempo ruim. Era cheia de energia e muito, mas muito, amiga. Amava o pôr do sol e o jornalismo.

Era simples!

Pelos colegas de trabalho, foi definida como uma pessoa zelosa de suas responsabilidades e de personalidade marcante.

Letícia era pura luz!

Letícia nasceu em Jundiaí (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 28 anos, vítima do novo coronavírus.

. Testemunho enviado pela tia e amiga de Letícia, Andrea Barbosa em 31 de julho de 2020.

Mauro Francisco da Silva
1952 – 2020

Fazia “um cafezinho e puxava um dedo de prosa”, era seu jeitinho especial de receber as pessoas. “Meu pai adorava chupar laranja vendo os carros na avenida”, conta a filha Juliana. Ele deixou a esposa, três filhas, três netos, dois cachorros e um gato. Seu Mauro era um homem “de família”.

Acolhedor, quando se aposentou passou a cuidar da neta para a filha poder trabalhar. Sabia muito bem aceitar as pessoas como elas são, acolhia e cuidava. O respeito e a compreensão foram virtudes que ele ensinou. Amava os “netos” de quatro patas que as filhas adotaram e, ver seu colo com um “montinho de pelos” a se aquecer, era bem comum.

Desde que se aposentou, vinha alimentando um sonho. Sonho bem-planejado e detalhado, bem característico dos sonhadores: esperava a esposa se aposentar para se mudarem para Caraguatatuba, “morar na praia”, como ele dizia. “Não deu tempo”, lamenta Juliana.

Juliana conta que, por incrível que pareça, quando a família decidiu vender o Uno branco, 2002, o carro dele, descobriram que a compradora morava em… Caraguatatuba!

Desconfiam que ele deu um jeito de pegar uma carona até lá…

Ah, e não daria para deixar de comentar sobre a paixão dele pelo time da cidade, o Paulista de Jundiaí. Era uma enorme paixão! Mauro nasceu em Jundiaí (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

. Testemunho enviado pela filha de Mauro, Juliana Débora da Silva em 26 de junho de 2020.

Marco Antonio Piccolo
1963 – 2020

“Você está bem? Precisa de alguma de ajuda? Eita! Eu estou aqui pra você não esquecer.”

Foi um cara super do bem. Ajudava quem podia sem que pedissem. Filho atencioso e carinhoso. Irmão companheiro, conselheiro e protetor. Marido exemplar e pai amoroso, carinhoso, brincalhão.

Marco nasceu em Jundiaí (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

. História a partir do testemunho enviado por irmã Maria Eliane Piccolo de Almeida Sylos, em 3 de maio de 2020.

Gilda Helena Vianna Orfanelli
1947 – 2020

Jeito e coração alegre. Gilda ficou órfã de mãe aos nove anos, estudou em um colégio interno. Posteriormente, aos 15 anos, morou na fazenda de seus parentes, onde conheceu o homem de sua vida, com quem se casaria dois anos depois.

O jeito como se gostavam era incomparável a qualquer história de amor, ele era louco por ela. Nessa intensa paixão, Gilda construiu sua própria família. Criou duas filhas para serem felizes e nunca podou suas asas. Mas, sabia ser rígida quando necessário.

Carinhosa e prática: “Caiu? Cuidou. Mas agora, bola pra frente”. Possuía um mantra próprio: “Quem não ouve cuidado, ouve coitado”, que consistia em: Quem não dá ouvidos a um aviso, sempre irá lidar com as consequências depois.

Gilda nunca trabalhou formalmente, mas era responsável por praticamente tudo dentro de casa. A mandachuva, que fazia as coisas funcionarem. Porque, além de cuidar de suas meninas, era ela quem tomava a frente das obrigações.

Era um pouco difícil de se agradar. Pintar? Não gostava. Fazer tricô? Um horror. Bordar? Nunca nessa vida. Mas poderia passar o dia inteiro assistindo televisão.

Além disso, adorava e passava horas escutando Gil Gomes e suas histórias repletas de desventuras, no rádio. De alguma forma, esta programação fazia qualquer problema parecer menor.

Sempre estava presente nas aulas de hidroginástica e amava passear, era uma companhia e tanto. Era uma mulher doce, muito animada e alegre, de forma que, ao experimentar alguma roupa, dançava na frente do espelho. Levava felicidade em seu balanço e preenchia os cômodos com sua voz. Sortudo era aquele que podia ouvi-la cantar.

Gilda nasceu em São José do Rio Preto (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus. Também morreu pela doença seu marido Antônio.

. Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Gilda, Soraia Fátima Orfanelli em 22 de julho de 2020. 

Antônio Orfanelli
1941 – 2020

“Trabaia não pra vê”, dizia ele. Era assim que, descontraidamente, Antônio demonstrava a enorme importância do trabalho em sua vida. Para ele, não se tratava de obrigação ou meritocracia, mas sim de esforço. Desde cedo, passava a grande lição para suas duas filhas: “Você é merecedor daquilo que trabalha para conseguir”. Em sua visão, para ter o que se deseja, é necessário dar o seu melhor em tudo que fizer.

Vindo de uma família de italianos, desde seus oito anos, dividia o tempo entre a escola e o campo. Seus pais eram lavradores, e quando ele tinha 21 anos, moravam juntos para trabalhar em uma fazenda. Foi neste contexto que Antônio conheceu o grande amor da sua vida, Dona Gilda, neta da dona desta mesma propriedade.

Dois anos depois, casaram-se e desde então, Gilda se tornou sua eterna namorada. Ele sempre foi apaixonado por aquela mulher, e passou o resto da sua vida com ela. Sempre, no Dia dos Namorados, presenteava a esposa com o mesmo chocolate de quando a conquistou: um Diamante Negro.

Apesar de ser extremamente amoroso, Antônio não expressava seus sentimentos em falas, mas sim em ações. Transmitia para suas filhas todos os valores e ensinamentos que considerava importantes, mesmo aqueles que não cumpria, como ir à missa todo domingo.

Era um visionário. Sempre prezou pela educação de suas filhas. Mesmo sendo muito simples, empenhou-se para proporcionar todo o estudo que elas mereciam, com direito até a cursos de idiomas. Era um praticante do bem, que pensava nos outros antes de pensar em si.

Não media esforços para ajudar quem precisava, nem mesmo quando isso significava que teria de abdicar de algo seu.

Independentemente de trabalhar muito, foi um pai extremamente presente. Valorizava muito a família e sempre reservava tempo para ela. Tinha costume de entrar no carro e dizer: “Estamos indo sem rumo”. E assim ia, vagando e buscando por novas aventuras com suas meninas. Nem que fosse para comprar uma bexiga na feira da Vila Arens.

Nos aniversários, era o puxador de orelhas número um. Em sua família, o pai que fez tudo que pôde para seus amores. Para Gilda, sua eterna paixão. E para todos, um grande homem, trabalhador, honesto e dono de um enorme coração.

A história da esposa de Antônio também está guardada neste Memorial.

Antônio nasceu em Potirendaba (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

. Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Antônio, Soraia Fátima Orfanelli em 22 de julho de 2020.

Jair Amaral
1950 – 2020

Um homem de muitos amigos que sempre prezou pelo bem-estar de cada um. Tem gente que passa pelo mundo e toca diversas vidas com as quais tem contato e Jair foi uma dessas pessoas.

Admirado por sua força de vontade e humildade, Jair era um homem que não media esforços para garantir o bem-estar dos que estavam à sua volta. Ajudava quem quer que fosse sem pensar duas vezes – não à toa, era um homem de muitos amigos.

Parte de uma imensa família, Jair deixou um forte legado para seus filhos e netos, que orgulham-se de carregar aprendizados tão valiosos deixados pelo avô. “Sr. Jair era um homem que dava a vida para ver as outras pessoas bem. Sempre andou pelo certo”, conta a neta Agatha.

Sempre falava que estava tudo bem e vivia questionando-se: “Até quando as pessoas vão amar as coisas e usar pessoas?”

Agatha carrega o questionamento do avô na memória. Apesar da falta que faz sua sabedoria, a neta leva a certeza de um grande propósito e muita gratidão pela trajetória de Jair. “Obrigada por tanto, meu avô!”

Jair nasceu em Barra Bonita (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Jair, Agatha Cristina dos Santos Rodrigues em 18 de julho de 2020.

Temósteles Luiz Soares de Oliveira
1977 – 2020

“Sou lá de Catingueira, na Paraíba, conhece?”, dizia ele com o sotaque arrastado. Sempre com olhar empático, não fazia distinção de nada nem de ninguém. Um ser humano íntegro, honesto, destemido e sempre otimista.

O que ele mais adorava era estar rodeado pelos amigos e pela sua família que tanto zelava. Inclusive, fazia questão de manter contato até com os familiares que eram mais distantes. Sonhava em ser avô.

Aonde chegava, deixava sua marca, logo já ia dizendo: “Sou da terra do poeta Inácio, fica a 350 km da capital, João Pessoa, estou aqui tentando a vida, mas logo voltarei pra lá”, conta sua filha, Tallyta.

Deixa boas histórias e são tantas que daria para escrever um livro, deixa sonhos que não foram concretizados e um legado que serve de espelho para todos.

Deixa muito amor e muitas saudades.

Temósteles nasceu em Catingueira (PB) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 43 anos, vítima do novo coronavírus.

História a partir do testemunho enviado por filha Tallyta Oliveira, em 9 de maio de 2020.

Gerudes Martins Garcia
1936 – 2020

Brincalhão e conversador, só se irritava se o Corinthians perdia. Fazia o melhor arroz e sabia ser solidário. Gerudes era um homem brincalhão, conversador, ingênuo… Gostava de puxar o cabelo das pessoas como uma forma singela de brincadeira. “Sempre ao adentrar em algum lugar, dizia alegremente: ‘Oi é breque de boi!'”, conta sua filha Helena.

Teve uma juventude desafiadora. Aos 16 anos, seu pai foi embora de casa, deixando sozinhos os seis filhos e a esposa. Como primogênito, tomou para si a responsabilidade de cuidar de todos. Começou a trabalhar como office-boy, na prefeitura da cidade, e com o salário, levava os irmãos menores ao dentista e comprava cadernos e livros para que pudessem estudar.

Foi subindo na carreira e chegou ao cargo de gerente da SAE (a companhia de saneamento da cidade). Casou-se aos 30 anos com Ester, uma professora, e com ela teve seus três filhos. Gerudes seguiu trabalhando arduamente para oferecer conforto e bem-estar para a família.

“Ninguém fazia arroz branco melhor que ele, que adorava contar a sua receita”, lembra Helena. Ela também conta que pouco via o pai irritado — só quando o seu time do coração perdia. Gerudes era um fiel corintiano.

Caminhava todos os dias, parando para conversar com as pessoas, sempre nos mesmos locais da cidade que tanto gostava. Com os netos, fazia o mesmo: pelas manhãs, passeava por horas com eles em seu colo. “Ia à pracinha, passeava de charrete, sempre brincando de ‘upa lelê'”, diz a filha.

Helena se recorda de uma história que a marcou para a vida toda. Aconteceu quando ela estava com 8 anos. O pai havia acabado de comprar um carro zero, “uma Belina dourada, toda bonita”. A família estava fazendo um passeio até uma cidade próxima, para estrear o veículo. Na estrada, avistaram um acidente. Gerudes parou o carro, colocou nele duas pessoas ensanguentadas e as levou para o hospital. Quando voltou, a filha quis saber porquê ele havia sujado o carro novinho e ele respondeu apenas: “Isso é sem importância. A vida dessas pessoas é o que importa. Amanhã poderemos ser nós que precisaremos de uma ajuda”.

Até hoje, cada vez que Helena está ajudando alguém “até com uma simples dúvida, na rua” é do pai, e desse acontecimento, que ela se lembra. E irá se lembrar para sempre!

Gerudes nasceu em Pereira Barreto (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

. Testemunho enviado pela filha de Gerudes, Helena Martins Garcia em 18 de agosto de 2020.

“INUMERÁVEIS”

O site traz nomes e conta histórias dos mortos na pandemia por todo o Brasil. A ideia trazida da Europa mostra que as pessoas têm biografias, amigos e parentes que ficam. Conheça!

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