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Jundiaqui

21 de junho de 2017

No meu tempo de menino

Eusébio dos Santos se coloca no lugar de um viúvo de 75 anos que tem nos netos sua grande alegria de viver

No auge dos meus 75 anos, tenho me sentido muito só, minha esposa faleceu e hoje moro com meu filho, num condomínio de luxo é bem verdade; mas fico o dia inteiro trancado em casa apenas em companhia dá empregada, que até me dá atenção, mas é sempre para perguntar se preciso de alguma coisa. Meu filho acredita que está fazendo o melhor para mim, não faz por mal!

O mundo lá fora, como ele diz, está muito violento. O amor à vida, ao próximo, fica em terceiro ou quarto lugar. Brigam e matam no trânsito, assaltam ou simplesmente agridem por não gostarem do adereço do outro por lhe parecer diferente. Já que é assim, eu fico aqui em casa.

Às vezes, penso se não sou um estorvo na vida dele, até já comentei isso. Eu disse que se fosse ele não estaria comigo já que existem muitos asilos para os idosos. Ele entristeceu e eu “ufa” respirei com grande alívio porque sei que alguns não são toda esta maravilha que apresentam por aí.

Bem, depois dessa conversa, resolvi que é melhor ficar quieto em meu lugar e ir levando a vida assim mesmo.

Tudo fica melhor quando meus netos, filhos de minha filha que moram em Piracicaba, vêm me visitar. Ainda tenho muito a oferecer para a sociedade, vivi coisas que as pessoas não têm mais a oportunidade, e aí tento passar o melhor delas para meus netos, que são meu alento e meu encanto.

Quando estão de férias, brinco com eles todos os jogos e brincadeiras do meu tempo de criança, que eram em turmas, nas ruas, no corpo a corpo, mano a mano como dizem os mais modernos. A nossa diversão era jogar bola de gude, pega-pega, futebol de rua – descalço, amarelinha, pula corda, botão, escambida, pulando carniça, roda pião, escravos de jó, polícia e ladrão, empinar pipa, passa anel, jogo de taco entre outros.

No início fazia só como diversão, mas aos poucos fui percebendo que eles estavam adquirindo um conhecimento sobre nossa cultura, aquela que não ensinam mais nas escolas. Faço com que conheçam e aprendam brincadeiras saudáveis, mesmo em tempos de jogos on-line e interativos, sinto que ficam felizes ao brincar com o vovô e eu aproveito para fazer o que gostaria de ter feito com os meus filhos, mas o tempo era escasso.

Quando meus filhos nasceram, minha preocupação era ter condições para pagar seus estudos e lhes dar um futuro, uma profissão diferente da minha, pensando que assim eles teriam mais tempo com seus filhos, diferente do que eu tive com eles.

Hoje vejo que estava redondamente enganado, pois eles vivem numa correria que parecem loucos, isso porque vivemos na era da tecnologia da informação, a chamada “era da informática”, mas sinto que isso só tem sobrecarregado mais as pessoas, que levam trabalhos para casa com a desculpa de fazer online, via Skype, WhatsApp, Facebook etc.

Bem, voltando aos meus netos, o que tenho feito com eles é lhes passar as brincadeiras de outrora e assim, sei quietinho que deixarei um legado em suas vidas, além de reviver momentos felizes da minha infância; sinto que em alguns momentos eles estão mais felizes que eu e é aí que encontro ânimo para continuar brincando mais, cada vez mais.

Dizem que temos que plantar uma árvore, ter filho e escrever um livro. Gostaria de acrescentar uma quarta missão: ter netos e brincar com eles. Quando estou com eles, sinto-me um menino novamente e como disse o poeta: “Todo menino é um rei”.

Eusébio Pereira dos Santos é administrador de empresas e coordenador do Celmi

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