O possível retorno às aulas
Por Lucia Helena de Andrade Gomes
O país continua angustiado com a pandemia, mas esperançosos aguardamos sinais para estabilidade no crescimento do vírus e a sonhada e esperada vacina, independente de seu país de origem. Neste momento, a pergunta imposta é: devemos retornar às aulas?
Ressalto que as mudanças legislativas têm impacto direto no pedagógico, portanto o que decidirem no executivo irá diretamente refletir no cotidiano escolar.
Estamos imersos em dúvidas, um oceano quase indecifrável, considerando-se a necessidade formal de prosseguir com o ano letivo, os desejos das famílias e a segurança da saúde de todos que vivenciam a prática pedagógica: gestores, professores, alunos, funcionários e pais.
A ciência já comprovou que crianças e adolescentes podem transmitir a covid, portanto um sinal de alerta preocupante para o retorno às aulas.
A educação formal sempre retrata a desigualdade social, a pandemia deu maior visibilidade para esta realidade nefasta. Impossível imaginar como uma escola com condições precárias, com números excessivos de alunos, poderá adequar-se às normas da vigilância sanitária. Quem vive o chão da escola, sabe que há um vazio enorme entre os discursos promulgados e o contexto vivenciado.
A rede municipal tem maiores condições de atendimento, no entanto o universo diferenciado pode produzir consequências indesejadas em alguns espaços.
As escolas privadas a priori poderão atender às diretrizes, mas obviamente não poderão assegurar cem por cento de eficácia, já que lutamos contra o desconhecido.
Em uma pesquisa da “Folha de São Paulo”, 79% dos brasileiros afirmam que a reabertura das escolas no país vai agravar a pandemia do novo cornonavírus.
Tenho ouvido de algumas mães o desejo de retenção dos filhos neste ano letivo, como se ele não existisse, reiniciar tudo em 2021.
Agora, pergunto: como equacionar o conflito? A educação é dever do Estado, da família e deve contar com a contribuição de toda a sociedade civil. O desejo da família deve ser priorizado ou os pais responderão pela ausência dos filhos, caso as aulas retornem sem eles? O dilema é real e atual. O que faremos?
A primeira lição é aprender a realizar coletivamente nossas ações: Estado, gestores, professores, famílias, infectologistas e alunos. As vozes devem ocupar seus espaços, neste complexo inusitado que vivenciamos. A segunda lição é retomar a cultura da aprendizagem que pode ocorrer em outros espaços, afinal a escola não é o único locus do saber, pois a cultura familiar exerce influência significativa no aprendiz.
Sabemos também que, para uma grande maioria da população, falta o básico: alimentos, rede de esgoto, acesso à saúde… e vai faltar incentivo à educação informal também.
Retomar às aulas presencias sem segurança será um grande risco à saúde de todos. Precisamos abalar as nossa convicções arraigadas de tempo escolar e preservar a saúde de todos! Os desafios são assustadores e os gestores públicos deverão, posteriormente, identificar as lacunas e dificuldades com avaliações e planejamento para a retomada da cultura do conhecimento.
Vamos respeitar o desconhecido e aprender: a vida é maior que o ano letivo!
Lucia Helena de Andrade Gomes é advogada, doutora em educação e presidente da comissão “OAB vai à Escola”