
Saudades
Por Kelly Galbieri
E lá se foram cem dias… dias de isolamento. Uns mais isolados que outros, é verdade. Mas, de qualquer forma, ninguém passou ou está passando ileso por este período. Tantas informações, algumas desencontradas, tantas perdas, tanto tempo em casa, tanto que aprendemos a conviver com aqueles que já convivíamos, mas não tanto assim…
E agora, depois de mais de três meses já começamos (ou já estamos com bastante) sentir saudades de coisas simples, que antes fazíamos sem achar que eram tão importantes, como poder ir até a padaria, sentar e pedir um pão de queijo com café. Podia ser até desacompanhada, mas claro que é muito mais gostoso ter a companhia de um amigo, um familiar para trocar ideias, contar o dia, desabafar. Hoje não podemos sentar em cafeteria alguma, em lugar algum.
E a academia então? Tudo bem que não é um lugar dos sonhos de ninguém… rs, afinal ali vamos por que é necessário para nossa saúde física e mental. Nos primeiros dias de quarentena (ou de centenário, até agora) foi maravilhoso saber que ficariam fechadas. A desculpa que todo mundo queria para descansar e só fazer aquela caminhadinha básica para não se sentir muito culpado. Mas agora… caramba… que falta faz aquela esteira, aquele transport, aqueles “malditos” pesos. Sem contar que a massa magra já foi embora. Tanto tempo de treino para uns poucos meses jogarem tudo pelo ralo.
E os almoços na casa da mamma italiana aos domingos? Esta saudade impossível mensurar. O convívio com os pais, aquela comida com gosto de família. Vão ter que ficar para depois. E quando será esse depois, não? Quem sabe…
Mas com isso tudo algumas mudanças aconteceram em muitos lares. Pelas pesquisas e estatísticas apresentadas, as casas passaram a ser mais bem cuidadas, afinal, agora, com todos da família vinte e quatro horas analisando o que não estava bom, a chance de mudar cor de parede, móvel antigo, quebrado ou qualquer outra coisa que incomode, passou a ser prioridade. Já que temos que ficar em casa, que seja um ambiente acolhedor.
Até comida ficou mais glamourosa. Agora temos tempo de procurar receita nova na internet e ousar experimentar. Quem não sabia cozinhar, está se arriscando. E por vezes acertando. Ou não. Mas só o fazer, já traz a família em união. O que não deixa de ser uma nova fase em cada casa.
E ainda as novas amizades que se formaram nesta pandemia? Alguns por conta do trabalho, outros por conta das lives que compartilham, outros porque agora têm tempo de conversar com aquele colega que antes apenas era o “amigo do face” e só se trocava “bom dia, boa tarde, boa noite”. Este eu acho que foi o maior ganho de tudo o que aconteceu durante o ano de 2020. Quantos novos amigos todos tiveram a oportunidade de fazer. Basta estar com o coração aberto para receber e dar amor.
Então, que façamos deste período um aprendizado e que traga alguma melhoria à nossa vida, pois é isso o que TODOS buscam. Independente de época, de local, de isolamento ou pandemia.
Kelly Galbieri é advogada e assessora de Políticas para Diversidade Sexual de Jundiaí