
João Batista: o batizador
Por Luiz Camolesi – bacharel em Teologia – PUC-SP
O profeta do Altíssimo
Ao contrário do que muitos pensavam, João não era o Cristo. Sua missão foi preparar os corações para receber o Reino de Deus, que em breve iria chegar, por meio de Jesus. A missão de João envolveu sofrimento, incompreensões e martírio, como havia acontecido, ao longo da história da revelação, com patriarcas e profetas.
O nome do menino é João, que, no idioma hebraico, significa “Deus agraciou”. Ou seja, o profeta é uma graça, um dom de Deus, não apenas para os pais dele, que estavam velhos. João é um dom de Deus porque é um profeta. Sua vinda a este mundo é uma intervenção de Deus no curso da história.
Por isso, o nascimento do profeta causa “alegria” e “temor” nas pessoas. Alegria porque a vinda de um profeta ao mundo significa que Deus ainda se importa com a humanidade; significa que, diante da infidelidade das pessoas, Deus manifesta fidelidade de sua parte e deseja reatar os laços de amizade com a humanidade. Temor porque o profeta nos inquieta, a sua palavra é espada cortante e penetrante, que manifesta as intenções dos corações. A vida do profeta é luz a exigir que nos deixemos iluminar e abandonemos nossas trevas interiores.
João era filho único de um sacerdote que atuava no Templo de Jerusalém e, segundo as leis, deveria suceder o pai em sua função, assegurando que a linhagem sacerdotal continuasse. Mas, em algum momento, João rompe, conscientemente, com o templo e com tudo o que ele significava.
João é a voz que clama no deserto
João anunciava o juízo iminente e gritava a necessidade de conversão com imagens duras e cortantes como faca. Exortava à penitência e exigia dos que acorriam a ele, para ouvi-lo, a conversão e a prática da justiça. João gritava que não adiantava apelar para a eleição por parte de Deus. Era imperativo reconhecer-se afastado de Deus, tomar consciência das faltas e, clamando por misericórdia, retornar a Deus.
Mas, João não era o Messias esperado
Muitos autores, ainda hoje, se debruçam sobre como situar a figura de João dentro do vasto campo em que se apresentam os profetas de Israel. Seu discurso é simples e claro, ele prega com base em sua autoridade pessoal, que parece sentir provir diretamente de Deus.
A radicalidade e a originalidade da atividade de João deram origem a especulações sobre a figura do Messias. Seria João o Messias ansiosamente esperado por Israel?
João nunca se considerou o Messias dos últimos tempos. Ele tinha consciência de que era aquele que apenas iniciava a preparação. Via muito além do seu tempo, compreendia-se como parte de um processo dinâmico.
“Como é difícil discernir entre a Palavra e a voz, os homens acreditaram que João era Cristo. Tomaram a voz pela Palavra. Mas João se identificou como a voz para não usurpar os direitos da Palavra. Disse: ‘Não sou o Messias, nem Elias, nem o Profeta’. Perguntaram-lhe: O que diz de você? E ele respondeu: ‘Eu sou a voz que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor’. A voz que clama no deserto, a voz que rompe o silêncio”.
Diz “preparai o caminho do Senhor” como se dissesse: “Sou a voz cujo som apenas introduz a Palavra no coração; mas, se não lhe prepararem o caminho, a Palavra não virá aonde eu quero que ela entre” (c.f. Santo Agostinho).
Peçamos ao Senhor Deus, a Graça de nos abrirmos a sua Palavra.