Holocausto: ‘soco no estômago’ no Solar
Uma exposição que mexe com os cinco sentidos ganha espaço no Museu Histórico e Cultural – Solar do Barão até 6 de agosto. Mas cuidado: não é para os fracos.
“Holocausto: para que nunca se negue, para que nunca se esqueça e para que nunca mais se repita” revela dores e horrores que precisam servir para reflexões sobre que futuro estamos construindo em tempos de racismo e todo tipo de preconceito que saltam das redes sociais para a vida real.
OLFATO – Tem cheiro de prédio antigo, já que portas e janelas estão fechados, somado ao de folhas secas da árvore conhecida por pata de vaca. Amareladas, foram espalhadas para dar um ar de abandono, como sentiram os judeus naqueles anos 30 e 40 do século passado – 6 milhões deles morreram entre 1933 e 1945, “um extermínio inacreditável e inconcebível”, como disse José Antonio Parimoschi, lembrando não se tratar de desastre natural e sim de seres humanos assassinados sistematicamente, por puro ódio.
O gestor de Finanças foi à abertura da mostra na última quinta-feira (11), quando dois dos sobreviventes do holocausto vieram a Jundiaí. Eles deram depoimentos que mexeram com o enorme público que foi ao Solar no meio da tarde – mais de cem pessoas, a maioria professores da rede pública.
A italiana Ariella Pardo Segre e o húngaro Gabriel Waldman, judeus que têm suas vidas marcadas pela dor imposta por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, descreveram horrores que viram e sentiram durante a infância e nunca apagados. Os dois são unânimes em dizer que o diálogo e o respeito às diferenças são fundamentais e que não estão sendo levados a sério nos dias de hoje. Foi grande a emoção dos dois convidados de cabelinhos brancos no percurso dentro do museu.
AUDIÇÃO – Ao circular pelos cômodos do casarão se ouve o som do piano com hinos alemães na parte da frente. Se não havia música nas câmaras de gás, elas eram tocadas nos arredores na tentativa de abafar os gritos das vítimas. Mais ao fundo o latido de pastores alemães provocam medo, mesmo vindo de trás de uma porta fechada. Adolf Hitler gostava dessa raça de cães, que para ele lembravam lobos. Também há vídeos descrevendo mais sobre esse período sombrio da história da humanidade, talvez o mais sombrio de todos.
VISÃO – As fotografias aqui apresentadas deixam claro o impacto visual de “Holocausto”, mostra coordenada por Paulo Vicentini, diretor de Museus de Jundiaí. Ao vivo é ainda mais chocante.
Ali também se veem documentos, cartas, mapas, recortes de jornais, assim como instalações interativas (em uma delas livros são queimados, afinal o conhecimento da população era visto como “nocivo” pelos seguidores de Hitler), dando uma panorâmica desde a ascensão do regime Nazista, passando pela 2ª Guerra, os tribunais de julgamentos e até o extermínio dos judeus – apresenta algumas roupas iguais às usadas pelos prisioneiros, uniformes listrados.
Destaque para a sala com a reprodução da cena de destruição de uma casa. Nesse espaço a janela teve os vidros quebrados, os móveis estão jogados e, pelo chão, além de cacos e objetos de pessoas inocentes arrancadas dali à força, foram espalhadas folhas de papel com palavras de ordem como direitos humanos, vida, cidadania e amor.
Amor esse que Marcelo Peroni, da Cultura, lembrou no discurso ser o único modo de evitarmos outras guerras e abusos. “Cultura não é feita só de artes, mas também de costumes e histórias. E infelizmente ainda temos nos dias de hoje que falar sobre o holocausto, por exemplo, porque precisamos na sociedade de aceitação dos diferentes. É doido, terrível rever, mas necessário”, assegura.
Conforme se caminha pelos diferentes espaços, objetos vão se sucedendo, assim como os muitos painéis. Os mais chocantes são aqueles em que desenhos feitos por crianças judias foram reproduzidos e mostrem o cotidiano dos campos de concentração. Foram preservados pelos nazistas como um troféu infernal.
Vicentini lembra que a exposição tem por objetivo atrair os jovens e falar com eles sobre que escola, que cidade, que país e mundo estão construindo e que ajude a melhorar as relações pessoais, familiares e de toda a sociedade.
TATO – Há arame farpado por toda parte, assim como nas cercas dos campos de concentração para onde eram levados os judeus. Mas aviso: não deve ser tocado, como nada na exposição, neste casos específico ainda mais porque vai tirar sangue.
“É emocionante essa exposição de tão forte, sensorial, dá para sentir na pele um pouco do que foi o holocausto”, diz o rabino Toive Weitman, diretor do Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto de São Paulo, parceiro na mostra.
PALADAR – O gosto amargo na boca permanecerá por um bom tempo depois que você deixar o museu, não tenha dúvida.
ATÉ 6 DE AGOSTO – Com entrada gratuita é indicada para maiores de 12 anos. É na rua Barão de Jundiaí, 762, Centro de terça-feira a domingo das 10h às 17h.
E mais: paralelamente acontecem as exposições “Shoá: como foi humanamente possível?”, proposta pelo Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto de São Paulo, e “Os justos entre as nações da Lituânia”, promovida pelo Consulado Geral da República da Lituânia de São Paulo – esta nos porões do Solar e contando sobre o empenho de famílias não judias na Lituânia para salvar vítimas de perseguição.
Fotos: Divulgação/PMJ