Por Edu Cerioni – Jundiaí vai além de cenário para ser companheira constante nesta viagem pelo túnel do tempo que nos oferece a exposição “Cidade em Movimento”. Uma mostra aberta no Sesc Jundiaí nesta sexta-feira (3) que permite ser abastecida de mais histórias pelos próprios visitantes, com suas lembranças afetivas – em texto, imagem ou gravação de áudio. Desta forma, um trabalho que se sabe como começa e não como vai terminar.

Por si só, a exposição já é um grande achado, sendo enriquecida ainda mais pelo caminho. Até 26 de fevereiro de 2026, seu resultado é imprevisível, mas nos faz imaginar que se tornará um fantástico acervo da memória esportiva jundiaiense.

O “Cidade em Movimento” se espalha por todo o Sesc e nos brinda, por exemplo, com agasalho, camiseta do Brasil e sapatilhas que foram do campeão de salto triplo Nelson Prudêncio. Treinava no Bolão, o nosso querido ginásio de esportes, que ganhou uma maquete que pode ser tateada, uma das muitas sacadas dos organizadores em nome da inclusão (há outros materiais táteis e ainda recursos de acessibilidade como audiodescrição e videolibras).

Curadoras e assistentes não são de Jundiaí, porém trazem personagens e momentos marcantes e até surpreendentes, que estavam engavetados em algum lugar do passado. Um exemplo: foto do time feminino do Comercial Futebol Clube. Muitos, como eu, nem imaginavam ter existido décadas atrás.

Nos diversos totens de 2,10 metros, altura de uma porta, espalhados pelos 500 m² do Sesc, o passeio volta aos tempos de Magic Paula jogando pelo Divino — embates com a rainha Hortência que até hoje dão saudade —, de Dalmo Gaspar brilhando no Santos junto com Pelé, de Mário Milani, de Nenê no começo da carreira, de tantos outros atletas e clubes.

E como não se emocionar com a homenagem ao Peama? Impossível! Ainda mais quando apresentado, como nesta sexta, por Camila Tamara, que tem Síndrome de Down e é medalhista pelo programa no tênis, na ginástica e na dança. Rita Orsi, fera nos bastidores do handebol (foi aos Jogos Olímpicos de Paris-2024) e atual secretária de Esportes, definiu assim: “Peamamos você”.

Aira Bonfim e Luciane de Castro são as curadoras e tiveram assistência da historiadora Michele Silva Joaquim quando o assunto é o Clube 28 de Setembro, que acaba de festejar 130 anos. É um dos incontáveis pontos mapeados virtualmente a partir de um mergulho cartográfico pela cidade, onde aparecem também o Clube Jundiaiense, o Sororoca, o Estádio Jayme Cintra etc. Com um clique, você conhece o endereço e alguns detalhes e, mais interessante, gente e fatos marcantes.

Carolina Reis da Silveira, curadora do Sesc Jundiaí, reforça que “a mostra é interativa e que as pessoas estão convidadas a deixar sua memória em nosso mapa afetivo”. Fiquei de voltar para gravar depoimento e fazer registro fotográfico da quase centenária Associação Esportiva Jundiaiense (é de junho de 1926 e segue firme e forte).

Convidada ilustre da abertura, a narradora Luciana Mariano voltou a quando morava aos pés da Serra do Japi e à transformação em sua vida quando passou a frequentar o Bolão junto com irmãos. E, além disso, contou como, ao aceitar jogar uma partida de futebol, sua vida mudou para sempre. “Ao final do jogo, que foi cheio de brigas e quase expulsamos o juiz, o Cassiano da Silva, fui entrevistada pela rádio. Gostaram da minha voz e posicionamento e me convidaram para um teste. Fui contratada para falar o resumo de novelas e horóscopo, até que precisaram de repórter no esporte e, daí em diante, nunca mais parei”.

Primeira mulher a narrar um jogo na TV brasileira e sul-americana, ela espera que em 2026 chegue ao “Guinness Book” como este tendo sido um feito mundial – em 2018 foi nossa homenageada pelo Dia da Mulher.

Serviço – Exposição “Cidade em Movimento”
Visitação: até dia 22 de fevereiro de 2026, com entrada gratuita.
Local: Sesc Jundiaí – Av. Antônio Frederico Ozanan, 6.600, Jardim Botânico.
Horários: terça a sexta, das 9h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h30 às 17h30.