“Frankenstein” brilha no palco do Sesc ao clamar por responsabilidade
Juliana Galdino dá show de interpretação em texto brilhante de Sérgio Roveri
José Arnaldo de Oliveira
No palco, o figurino e a maquiagem pesados nos deixam em dúvida sobre quem é a criatura em cena. A voz, quase incompreensível no começo, vai aos poucos revelando sua origem como uma montagem de partes de pessoas mortas na guerra. O diálogo, às vezes travado com outras tonalidades de voz, vai nos levando aos poucos de lugares destruídos na Síria para a viagem comum a outros refugiados em busca do seu criador, um cientista da Áustria. E a um fim trágico, marcado por uma música acelerada.
“Frankenstein”, um espetáculo exibido no teatro do Sesc Jundiaí em 16 de fevereiro, é toda a essência da melhor arte contemporânea. Com direção de Roberto Alvim, do Club Noir, exige uma concentração total da premiada atriz Juliana Galdino desde algumas horas antes com a caracterização do personagem e, depois, com a condução do público por uma viagem que parece real ao interagir com a iluminação e a sonoplastia, inclusive da própria voz.
Já o roteiro adaptado de Sérgio Roveri, destaque na dramaturgia, coloca o clássico de Mary Shelley nos tempos atuais de uma maneira que permite a fruição da história em si mesma e, ao mesmo tempo, com camadas adicionais de significado. Tanto a história das relações internacionais como a ética da ciência, da economia ou da política podem ser usados para outras reflexões sobre a peça teatral.
Longe de um monstro, Frankenstein é no espetáculo uma criatura que lembra à civilização que não gerou apenas resultados de orgulho – mas também problemas sobre os quais precisa agir de maneira responsável ou se voltarão contra si. No caso, “monstros” são a interpretação de Juliana Galdino, o roteiro de Sérgio Roveri e a direção de Roberto Alvim que demonstram a singularidade do teatro como uma forma diferente das demais artes na capacidade de expressão e de impacto.