LOADING...

Jundiaqui

 Apenas uma flor
24 de maio de 2018

Apenas uma flor

O que parecia um assalto virou um ato de inusitado, diz Cláudia Bergamasco

Cláudia Bergamasco

Era finzinho de tarde, Mariana estava em seu carro, sozinha, no trânsito, tentando voltar para casa depois de um dia bastante estressante. No seu caminho havia um protesto e um mar de carros tornava o trânsito um caos. O sinal abria e fechava e ninguém não andava. Ela estava lá parada, cansada, preocupada com a reunião da manhã do dia seguinte com clientes importantes. Sua cabeça estava no escritório ainda.

Do nada, apareceu uma figura estranha no vidro do seu carro. Mal vestido, cara de sorridente, sujo. Mariana assustou e entrou em pânico. Começou a buzinar a fim de que alguém a ajudasse. Num átimo, pensou que essa não era a melhor atitude. Deveria ficar calada, não esboçar qualquer reação. Certamente era um assalto. Ela apertou seus pés no fundo do carro, afundou seu corpo no banco e agarrou a direção até suas mãos ficarem quase sem fluxo sanguíneo.

O rapaz ao lado de fora fez um gesto de “calma, moça”. Um sorriso nos dentes amarelos e faltando os dois da frente. Levantou uma das mãos. Mariana, tresloucada de pavor, sabia que ia ser assaltada. Podia morrer. O homem certamente tinha um revólver. Pensou no namorado, nos pais. Deus, eu sou muito nova para morrer. O celular na bolsa… ela podia apertar o botão de alerta de um aplicativo que ela e o namorado baixaram para situações difíceis.

O homem apenas sorria com seus dentes faltando na boca e suas roupas rotas. Mariana estava sem fôlego. O homem fez um gesto para ela abaixar o vidro. Ela fez o que ele pediu e começou a rezar. O homem levantou a outra mão e lhe ofereceu uma flor.

O sinal abriu, o trânsito voltou a fluir devagar. Com o coração disparado, Mariana pegou a flor e saiu dali. Era só uma flor. Uma flor dada por um morador de rua. O sangue de Mariana corria a mil por hora. Muita adrenalina e um “ufa” que lhe deixou mole e molhada, suando.

Foi para casa pensando no homem. E se não fosse uma flor? E porque foi uma flor? Ela se condoeu dele.

Era apenas uma singela flor.

Cláudia Bergamasco é jornalista e escritora

Prev Post

Carmem Miranda de jundiaiense tem…

Next Post

TUTTO È FESTA: veja que…

post-bars

Leave a Comment