
ON THE ROAD
Por André Kondo
É o que nos resta:
correr em direção ao oeste
antes que o sol morra
e correr rápido, o mais rápido que impossível.
Leio a estrada
nas rodoviárias e nos bancos dos ônibus que partem de Port Authority
ou de Boston ou de Baltimore
para os cantos da América;
e a jovem mãe abandona por alguns minutos
o seu bebê em cima da bagagem
– para guardar seu lugar no mundo –
e vai fumar um cigarro;
dois homens se agarram no banheiro,
enquanto alguém cantarola alguma música
sobre algum lugar além do arco-íris
na privada;
e gazeteio pelos longos campos na vadia pastagem dos dias;
conto as folhas amarelas, vermelhas
das árvores que se despem
para fazer amor com o outono.
E vejo tudo da minha janela;
lá fora as cidades perdem a cintilância
e toda a América cabe no ônibus;
o cara sem sorriso bota a mochila no assento ao lado
pra ninguém se sentar ali – quer viajar sozinho –
e ele não sabe que já faz isso com ou sem alguém ao seu lado?
Crianças chutam o encosto da cadeira à frente,
e as mães dão risadinhas ao celular,
falando mal dos filhos dos outros,
e uma mulher viaja sem desgrudar os olhos da janela,
para o próprio reflexo triste e opaco – preso
na transparência ilusória.
E ninguém se importa com a viagem do outro,
mesmo sabendo que o destino
é o mesmo.
Sempre o mesmo.
Resta-nos a estrada…
e uma passagem
só de ida.
Sem qualquer reembolso.