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Jundiaqui

 Não dá para pensar em Carnaval, sem lembrar de Erazê
11 de fevereiro de 2021

Não dá para pensar em Carnaval, sem lembrar de Erazê

Festeiro dos tempos de Banda da Ponte e por 21 anos seguidos do Estamos na Nossa, ele criou o Refogado do Sandi

Texto: Edu Cerioni

Fotos: José Clóvis “Pardal” de Oliveira

Erazê Martinho conseguiu arrastar em seu sonho carnavalesco do Refogado do Sandi “meia-dúzia de bobos e bobas pras ruas naquele ano de 1994”, conforme define a estreia, aos risos, Sandra Tosim, que junto com Diva Rigoni formam o sobrenome do bloco, San+Di. Ela e Diva foram lá conferir. Foi assim o surgimento desse mito que só faz crescer desde então. Foram vinte e sete desfiles consecutivos pelas rua Barão de Jundiaí e Rosário, que será interrompido neste 2021 por conta da pandemia do novo coronavírus. Para marcar a sexta-feira de Refogado, o pessoal do bloco participa do Baile Virtual de Carnaval pelo Facebook do JundiAqui, neste dia 12 a partir das 19 horas.

Sandra lembra da noite em que Erazê se aproximou dela e de Diva e disse que tinha ideia de homenagear o Bar Sandi com o bloco. Ele estava com a então namorada Carla Scarparo e também Tutu Miranda Duarte e Mario Gragnani. Responderam ser uma grande honra e todos brindaram. Brindaram a volta do Carnaval de rua em Jundiaí. Brindaram o nascimento do Refogado do Sandi. Erazê era um brinde eterno à amizade!

Antes desse anúncio no Sandi, a ideia do bloco já tinha sido apresentada por Erazê para Carla, Tutu, Mário e mais Bete Giassetti, em uma tarde de calor no final de 1993 quando eles foram tomar chope no bar do Samir na Acre, no Centro. “Tenho orgulho de ter sido escolhida pra saber antes a novidade”, conta Tutu, que é rainha do Refogado.

Nascido em Jundiaí em 18 de março de 1933, Erazê Martinho foi cronista, poeta, escritor, publicitário, filósofo e político. Mas a grande marca deixada mesmo é a de folião, dono de grandes sambas para diferentes blocos de rua e criador do Refogado do Sandi.

No Refogado foi autor sozinho ou um dos compositores dos sambas de 1994 a 2006, com intervalo somente em 2004, quando foi homenageado com o samba “Data de Validade”, por ser “o amigo dos sem amigos”, música que voltaria a ser tocada em 2007, no primeiro desfile em que ele não estava ali de corpo presente. Sua alma, muitos refoguenses da velha-guarda garantem que segue o bloco como sempre. Só não vê quem não quer, asseguram.

Dagoberto Azzoni, ex-presidente que levou o Refogado para a concentração no Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, no Centro, testemunha: “Na Banda da Ponte e no Estamos na Nossa, Picôco Barbaro e Norival Roberto Sutti cuidavam da logística, mas a alma era o Erazê e assim foi no Refogado”.

O primo-irmão Araken Martinho, arquiteto, assegura que Erazê foi a pessoa mais interessante que conheceu na vida. “Merecia a eternidade, estar aqui levando um papo com as novas gerações. Me ensinou e fez muita gente a entender a vida melhor”.

Erazê foi tão danado que faleceu bem no dia da mentira, o 1º de abril de 2006. Deve ter escolhido o dia para tentar driblar a morte, tema que tinha fixação desde criança. Deixou um texto sobre isso, dizendo que “viver é muito bom, ainda que seja pra morrer! E se a gente olha pra tudo, dá tempo de ver uma porção de coisas, a cada dia que amanhece”. Fumante de mais de 40 cigarros por dia anos a fio, Erazê largou o vício no final de vida para tentar prolongá-la um pouco mais…

Morador do Anhangabaú antes de se encantar definitivamente pelo sítio Sem-Fim, no Traviú, ele tinha sempre um pé na “na Ponte São João, onde fica a boemia bem malandra, não organizada”, por isso se dava tão bem com o povo de lá. E deixou pérolas para Banda da Ponte e Estamos na Nossa, como “Funico Aqui, Funico Lá” (“Um massolin de fiori/Para saudar o imigrante italiano/Um tamborim de amore/Viva Veneza! Viva o cais napolitano/É ou Estamos na Nossa…”) e “Allons Enfants de Jundiaí” (“Oh! Abre alas, ulá-lá/Bon Jour noblesse nosso bloco vai passar! Vai passar!/Sai da frente Antoniette/Pompadour me dá confete/Neste bloco é bonsoir/Deixa eu passar com mon amour…”), esse último de 1989 por conta de festividades da Revolução Francesa.

Aqui cabe um causo da época da Banda da Ponte: vindo de São Paulo de ônibus, Erazê parou na rodoviária, se fantasiou de monge no banheiro e pegou um táxi. Avisou ao motorista que iria para a Igreja da Ponte São João. Chegando ali perto, o atento chofer saiu com essa: “Seu padre, tem um monte de arruaceiros lá na frente, é melhor o senhor entrar pela porta do lado”. Mal sabia ele que Erazê era o comandante da bagunça… Ninguém que ouviu da boca dele essa história consegue esquecê-la.

Nos sambas do Refogado, Erazê brilhou seguidamente. Em 1994 avisava que o bloco estava chegando e querendo se espalhar, porque “Melhorar melhorar/É melhor e não faz mar”. Em 1996, transformou Ruy Barbosa de “Águia (de Haia) na Holanda” em “Galo da nossa banda” – simplesmente genial. A despedida foi com “Toda Sexta-Feira é Santa”, por que “sexta é de Refogado, de pagode e rebolado”.

Principalmente Zé Danon foi quem fez mais sambas com Erazê, com sua irmã Ketty cuidando das cifras para a bandinha. São diversos outros parceiros nessa jornada de anos de boemia e Carnaval, como Wandão e Elói Silva.

(Texto e fotos que fazem parte do livro “Infinita é Tua Beleza”, à venda pela Editora In House ou pelo 11\97338-7794).

 

 

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