Por Edu Cerioni – O Refogado do Sandi nasceu no Bar Sandi, mas seus desfiles tiveram três pontos de partida bem longe dali na história, todos no Centro. Em 1994, estreia do bloco, a concentração foi em frente à Câmara Municipal. Em 1995, partiu da Loja 1+1. Já a partir de 1996 e até 2023 foi do Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, que fechou suas portas em dezembro passado, após 115 anos de atividades em nome da cultural.

“Infelizmente não vamos ter concentração no Gabinete, que fechou as portas por falta de associados – acabou com pouco mais de 200 pagantes, eu era uma. Mas o prédio e o grande e valioso acervo que o querido Gabinete conseguiu juntar em breve devem reviver agora nas mãos do Poder Público”, diz Gisela Vieira, a comandante do Refogado.

No terceiro desfile do bloco, agora em nova casa em 1996, o justo foi homenagear o anfitrião: Ruy Barbosa foi a personalidade em destaque, com a turma liderada por Erazê Martinho desfilando de mini-toga preta e livro na mão com a palavra “Lex” na capa – na tradução do latim para o português, significando Lei ou Direito. Foi Oswaldo Barbaro quem incorporou Ruy, de terno e tudo, com uma bengala com ponta de prata, segundo recorda Rita Rodrigues, que calcula em 200 foliões na concentração.

Dagoberto Azzoni era o presidente que convidou o Refogado para dentro do Gabinete de Leitura, uma tradição mantida por seus sucessores Ailton Alves Viana (o Chocolate), Flávio Buzaneli Junior, André Barros Leite, Mônica Tozetto e Adriana Zutini.

O Gabinete de Leitura é patrimônio de Jundiaí, tendo sido fundado em 1882 e carregando o nome de Ruy Barbosa desde 1923. O casarão que fica na esquina das ruas Secundino Veiga com Rosário, de piso de madeira, janelas gigantes e que guarda cerca de 55 mil itens, como livros, quadros e muitos documentos históricos e únicos, se tornava até pequeno para tanto folião nas sextas de Refogado.

Dago Azzoni era do Estamos na Nossa e Banda da Ponte e abraçou a ideia de Erazê em fundar o Refogado logo de cara. Hoje, diz que Erazê tinha um brilho intelectual e que a turma do Refogado era diferenciada culturalmente e que isso ajudou a abrir as portas do Gabinete para a concentração do bloco.

Adriana Zutini imaginava que seria uma parceria eterna. “Não dá para pensar em Refogado sem o Gabinete e vice-versa. Para nós é o grande momento do ano a sexta do desfile”, disse em 2019, quando lancei o livro “Infinita É Tua Beleza”, que conta a história do bloco, no próprio Gabinete. O Refogado chega agora em 2024 aos 30 anos e o Gabinete de portas fechadas.

Em 2019, o prédio histórico também abrigou uma exposição de fotos do Refogado que promovi com renda da venda dos quadros integralmente revertida à Bem-Te-Vi, associação que cuida de pessoas com Síndrome de Down.

O QUE ACONTECEU? – O Gabinete, que é administrado por um grupo privado que tinha na presidência Adriana Zutini, foi entregue ao poder público, como prevê seu estatuto para o caso de encerramento das atividades. O terreno em que foi construído, por sinal, foi doação da Prefeitura Municipal.  A Gestão de Cultura informa que está “em tratativas para assumir a administração do local”.

Com poucos associados e em razão do corte de subsídio da prefeitura, o Gabinete não tinha mais condições de se manter e a proposta de entrega veio antes de que começasse a acumular dívidas. Além disso, o prédio histórico que tem a fachada tombada requer investimentos para restauração. A palavra usada por ela para esse momento é de “alívio”.

HISTÓRIA DO BLOCO – Quer saber mais sobre o Refogado do Sandi? Adquira na Revistaria do Maxi Shopping o livro “Infinita É Tua Beleza”.

Em tempo: na foto mais alto aparece na janela do Gabinete o casal Ademir Tafarello e Fernanda Palvarini. A segunda foto tem a “deretora” Gisela e um grupo de cegos do Instituto Luiz Braille na saída para o desfile de 2020.